Numa espécie de preâmbulo do Ensaio sobre a Dádiva, Marcel Mauss (1999) sublinhou que, em algumas línguas germânicas, havia um parentesco semântico entre as palavras presente e veneno. Pouco a pouco, Mauss delineava que o parentesco linguístico era tão somente um indicativo de um fenômeno social mais amplo: dívida e graça, privilégio e obrigações caminham proximamente. Quase cem anos depois desse escrito, quando as agências esportivas internacionais escolheram o Brasil como sede dos principais megaeventos internacionais – a Copa do Mundo (2014) e os Jogos Olímpicos do Rio (2016) – a população não hesitou em celebrar a escolha. Muitos viram ali, uma chance quase única, singular de transformação do país e da sociedade brasileira. Mas o enredo é conhecido, e a reconversão da benesse em maldição não tardou. As altas somas de dinheiro público dispendidas, as demandas arquitetônicas das agências esportivas internacionais – o vulgarizado “padrão FIFA” –, e o estrito cronograma foram seguidamente questionados pela sociedade civil nacional, culminando com os levantes de junho em 2013.
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