RESUMO O desenvolvimento de novas ferramentas, como a ecocardiografia bidimensional feature tracking (2D-FTI), permite diagnosticar, de forma precoce, se há disfunção miocárdica em doenças cardíacas, inclusive as congênitas. O defeito septal ventricular (DSV) é a alteração congênita mais observada em felinos, no entanto pouco se sabe sobre a disfunção cardíaca nessa cardiopatia, especialmente em animais assintomáticos. O objetivo deste estudo foi avaliar, por meio do 2D-FTI, a deformação miocárdica ventricular esquerda pela mensuração dos índices ecocardiográficos strain (St) e strain rate (StR) radial, circunferencial e longitudinal, em gatos saudáveis e com DSV. Foram avaliados 12 gatos saudáveis e seis gatos com DSV para obtenção de St e StR em diversos segmentos miocárdicos. No sentido longitudinal, houve diferença estatística (P<0,05) para os segmentos septal basal, mediano e apical epicárdicos (P=0,0017; P<0,0001; P=0,0288), lateral mediano epicárdico (P=0,0327), septal mediano endocárdico (P=0,0035), lateral mediano endocárdico (P=0,0461), St epicárdico (P=0,0250) e St global (P=0,0382). Também houve diferença no segmento lateral mediano circunferencial endocárdico (P=0,0248), lateral mediano radial (St: P=0,0409; StR: P=0,0166) e posterior mediano radial (P=0,0369). O estudo evidenciou que, mesmo em animais assintomáticos com DSV, há redução na deformação miocárdica ventricular principalmente no sentido longitudinal, demonstrando maior vulnerabilidade dessas fibras.
A presente revisão tem por objetivo aprimorar o conhecimento sobre Dilated Cardiomyopathy (DCM) em cães, visando à compreensão dos aspectos clínicos, diagnóstico e tratamento. A DCM é caracterizada por dilatação ventricular, disfunção sistólica e arritmias que podem culminar em insuficiência cardíaca e morte. É a segunda cardiopatia mais frequente em cães, acometendo principalmente animais de grande porte e machos. A etiologia é idiopática, mas alguns genes associados à doença já foram identificados. A manifestação clínica é dividida basicamente em estágios oculto e sintomático. O estágio oculto é caracterizado pela presença de alterações elétricas e/ou morfológicas e ausência de sinais clínicos. Os cães podem apresentar o estágio oculto longo até o desenvolvimento de insuficiência cardíaca de forma aguda ou morte súbita. O estágio sintomático é definido pela presença de insuficiência cardíaca esquerda ou biventricular. O diagnóstico somente é confirmado por meio de ecocardiograma e/ou Holter. Estes exames são considerados padrão-ouro, uma vez que apresentam alta sensibilidade na identificação precoce da doença. Cães de raças predispostas devem ser monitorados anualmente a partir dos três anos de idade. O tratamento tem o intuito de minimizar os efeitos da insuficiência cardíaca, sendo instituído de acordo com a fase em que o animal se encontra. O prognóstico após início dos sinais clínicos é desfavorável. Alguns fatores podem influenciar a sobrevida de forma positiva ou negativa. A realização de exames periódicos é de grande importância para obter o diagnóstico precoce e intervir de maneira a retardar a progressão da doença.
A relação fisiopatológica entre os rins e o coração na doença, conhecida como síndrome cardiorrenal (SCR), envolve distúrbios do coração e dos rins, pois a disfunção aguda ou crônica em um órgão pode induzir a disfunção aguda ou crônica do outro. Em Medicina Veterinária são descritos 5 subtipos de síndrome cardiorrenal: cardiorrenal aguda, cardiorrenal crônica, renocárdica aguda, renocárdica crônica e secundária. A anemia é um achado comum em cães com disfunção cardíaca e renal, caracterizando a chamada síndrome da anemia cardiorrenal. Os mecanismos envolvidos na fisiopatologia da síndrome cardiorrenal envolvem, não somente alterações hemodinâmicas e ativação de sistemas neuro-hormonais, como também a ativação de mecanismos compensatórios do próprio organismo, que acabam contribuindo para a piora da função cardíaca e renal, levando ao desenvolvimento da SCR. O grande desafio encontrado em Medicina Veterinária está relacionado ao diagnóstico precoce dessa síndrome e, principalmente, ao correto manejo terapêutico, uma vez que que a terapia da cardiopatia pode deteriorar a função renal, e vice-versa. Portanto, é importante compreender como a fisiopatologia de uma doença pode impactar a função do outro órgão. O presente trabalho tem como objetivo trazer uma completa abordagem da fisiopatologia, diagnóstico e tratamento da síndrome cardiorrenal em cães.
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