Em 1956, o antropólogo Marvin Harris de Columbia University, publicou Town and Country in Brazil, uma bela etnografia sobre uma cidade no interior do Estado da Bahia. Harris descreve a história da decadência de Minas Velhas, que nasceu da aventura pelo ouro no século XVIII, perdendo para outras vilas vizinhas, como Vila Nova, o estatuto de centro produtivo e aglutinador em torno de uma mercado econômico e centro cultural florescente. Em 1959 o historiador Fernand Braudel, fascinado por explicar como se tece a vida dos homens no processo das mudanças temporais e históricas, as transformações sobrevindas as tradições, as efervescências e as reticências, as recusas, as cumplicidades e abandonos, reanalisa a obra de Harris em "Dans le Brasil Bahianais: le présent explique le passé". Criticando a fraca perspectiva comparativa, Braudel, entretanto, homenageia com esta releitura a obra de fôlego do antropólogo Harris, lastimando apenas a inexistência de qualquer ilustração, sobretudo a ausência total de fotografias, que sem dúvida, pondera ele, o livro mereceria conter. Esta breve referência nos imerge no campo que gostaríamos de abordar, o da utilização da fotografia nos textos antropológicos. Os pêsames de Braudel à Harris apenas elucida o quanto a fotografia já era importante como fonte ilustrativa do contexto descrito desde os primeiros grandes antropólogos deste século. Bronislaw Malinowski, Evans-Pritchard, Gregory Bateson, Margaret Mead e tantos outros fizeram uso da fotografia em suas experiências etnográficas e na elaboração de uma antropologia descritiva aprofundada, como sugere Samain, em relação as fotografias e as legendas usadas por Malinowski (SAMAIN, 1995:27).