Partindo do emblemático contexto de (r)existência munduruku e ribeirinha à tentativa de imposição das barragens de São Luiz e Jatobá, na bacia do rio Tapajós, entre 2013 e 2015, procuro traçar uma perspectiva analítica capaz de apreender como o caráter substantivo da lógica de progresso/desenvolvimento, identificada com o Estado, vem a tomar corpo nos embates cotidianos, envolvendo diferentes atores sociais. Identifico dois modos distintos por meio dos quais tal lógica opera: o rumor — que, como coloca Veena Das, caracteriza a efetivação do que é apenas potencialidade —, e a não performatividade — em que, diversamente, de acordo com Sara Ahmed, a enunciação vem a substituir a ação. Conforme sugiro, a persistência dos povos munduruku e ribeirinho em seu próprio processo de autodeterminação cole(a)tiva mostrou-se fundamental a fim de possibilitar a desnaturalização da violência subjacente à lógica de progresso/desenvolvimento, expondo sua intencionalidade antes de que o megaempreendimento viesse a se tornar “fato consumado”, de forma a permitir o florescimento de modos específicos de (r)existências que lhe fizessem frente, mesmo sob enorme disparidade em termos de correlação de forças.
Aiming at (re)thinking memory politics in contexts of ongoing total violence against non-white bodies, I propose, in this working paper, to engage with Maria Beatriz Nascimento’s multifaceted notion of quilombo. Once understood as alternative regimes of conviviality that entail existential (beyond material) aspects, Nascimento’s notion of quilombo enables critical access to the onto-epistemological basis on which memory politics generally takes place. After primary considerations about violence and the archives, I highlight three main aspects of Nascimento’s notion of quilombo to (re) think memory politics: (1) the introduction of a temporality that displaces underlying analytical assumptions of a linear, progressive and sequential time; (2) the idea of paz quilombola, which allows analytical space for “opacity” in the generation of knowledge; (3) the link between personal and collective intergenerational memory that, for Nascimento, requires the fostering of spaces of body encounters.
resumoEste artigo visa retomar e fazer uma avaliação crítica do debate sobre as políticas de diferença travado entre teóricas políticas feministas de tradição liberal. Após explicitar as estratégias apontadas nesse debate para tentar legitimar a politização de sujeitos coletivos em face do problema do essencialismo, argumenta-se que o excessivo foco na relação entre essencialismo e conceitualização de grupos sociais ofuscou o vínculo do projeto de politização de diferenças com o questionamento do próprio fazer político. Assim, sob a perspectiva de que a politização de diferenças está transformando -e não inviabilizando -o funcionamento da comunidade política e a possibilidade de efetiva justiça social, avalia-se como os projetos políticos de Anne Phillips e Iris Marion Young evidenciam novos caminhos para
scite is a Brooklyn-based organization that helps researchers better discover and understand research articles through Smart Citations–citations that display the context of the citation and describe whether the article provides supporting or contrasting evidence. scite is used by students and researchers from around the world and is funded in part by the National Science Foundation and the National Institute on Drug Abuse of the National Institutes of Health.