O deslocamento espacial é um dos maiores problemas que as pessoas com deficiência visual enfrentam. Com a falta da visão, elas normalmente têm dificuldade de antecipar obstáculos ao se locomoverem e também apresentam menor estabilidade corporal, na posição vertical. Estas dificuldades podem ser atenuadas, até mesmo transformadas, através de práticas corporais voltadas para o aprendizado e o aprimoramento da relação com o espaço -como é o caso das práticas de Orientação e Mobilidade (OM) que priorizam o uso da bengala. O objetivo deste estudo é analisar o problema da mobilidade a partir da propriocepção, em práticas grupais de experimentação do corpo no espaço. O estudo busca referencial teórico nas ideias de Hatwell, Merleau-Ponty, Varela, Godard e Latour. A pesquisa-intervenção realizada na Oficina de Corpo, Movimento e Expressão, no Instituto Benjamin Constant, no Rio de Janeiro, utiliza o método da cartografia para acompanhar processos e rastrear alguns dos efeitos que se referem à ativação dos sentidos do corpo em movimento. Concluímos que a propriocepção em práticas corporais grupais concorre para a apropriação da experiência e para a expansão de territórios existenciais tende a produzir maior confiança e autonomia no mundo.
O ingresso de alunos com deficiência nas universidades públicas pelo sistema de cotas foi estabelecido com a lei 13.409 e desde 2018 a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) vem recebendo esses estudantes. Para além do desenvolvimento de dispositivos pedagógicos que garantam a acessibilidade desses alunos, coloca-se o problema das relações com professores, bem como entre alunos com e sem deficiência. Um dos problemas é a presença do capacitismo, que se manifesta em atitudes preconceituosas e práticas de opressão em relação às pessoas com deficiência. Uma formação universitária fundada na aquisição de competências e habilidades pode concorrer para que a política cognitiva capacitista seja perpetuada e mesmo acirrada. O conceito de formação inventiva (DIAS, 2011;2012) vai contra a lógica da capacitação e visa produzir outras políticas de cognição por meio de diferentes estratégias e dispositivos de formação. O objetivo do artigo é analisar a experiência de estudantes de iniciação científica e estagiárias em oficinas de formação inventiva no contexto de projetos de pesquisa-intervenção e de extensão com pessoas com deficiência. O estudo utiliza o método da cartografia (DELEUZE, GUATTARI, 1995; ROLNIK, 2006; PASSOS, KASTRUP e ESCÓSSIA, 2009; PASSOS, KASTRUP e TEDESCO, 2014) e analisa diários de campo, com ênfase na narrativa de encontros dos estudantes com pessoas com deficiência. O estudo identifica experiências de problematização da imagem da deficiência como incapacidade, analisa o papel do corpo aprendiz e das experiências multissensoriais em oficinas de formação inventiva, indicando possíveis deslocamentos na política cognitiva capacitista.
Este artigo toma em análise a experiência da Oficina de corpo, movimento e expressão no Instituto Benjamin Constant. O tema das práticas de acessibilidade com pessoas com deficiência visual é circunscrito em uma perspectiva de acesso à experiência pré-refletiva dos participantes das oficinas, na acepção dada ao problema por Claire Petitmengin (2007), Varela, Thompson e Rosch (2003) e Depraz, Varela e Vermersch (2003). No limite transdisciplinar entre educação, clínica e filosofia, o texto discute o duplo sentido da acessibilidade, considerando seja o acesso dos que possuem deficiência visual às práticas da Oficina, seja o acesso da coordenadora da oficina à experiência não visocentrada.
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