O PRESENTE TRABALHO FAZ ALGUNS APONTAMENTOS SOBRE A DISSOLUÇÃO E A PRODUÇÃO DE VERDADES NAS CIÊNCIAS E LEVANTA QUESTÕES A RESPEITO DA EMERGÊNCIA DE UM ENSINO DE CIÊNCIAS MENOR NESSE PROCESSO. TOMAMOS COMO PONTO DE PARTIDA O MOMENTO POLÍTICO EXTREMAMENTE DELICADO DO BRASIL - EM QUE EXPERIÊNCIAS DEMOCRÁTICAS, DE MANUTENÇÃO E AMPLIAÇÃO DE DIREITOS SOCIAIS, CULTURAIS E AMBIENTAIS ENCONTRAM-SE SOB AMEAÇA -, PARA ENTENDERMOS O PORQUÊ DO CRESCIMENTO DE DISTINTAS NARRATIVAS PSEUDOCIENTÍFICAS. ASSIM, PROPOMOS UM EXERCÍCIO DE DESLOCAMENTO: PENSARMOS UM ENSINO DE CIÊNCIAS MENOR, QUE VIABILIZE CONEXÕES SEMPRE NOVAS, INTRODUZA DIFERENÇAS E FAÇA GAGUEJAR A VOZ CIENTÍFICA DE UMA CIÊNCIA MAIOR. CONCLUÍMOS QUE, UMA VEZ QUE EXISTEM OUTRAS NARRATIVAS POSSÍVEIS - INCLUINDO AS NÃO-CIENTÍFICAS, AS FICCIONAIS, AS ARTÍSTICAS E POÉTICAS - NA CONSTRUÇÃO DE REALIDADES, É NECESSÁRIO TECERMOS, COM ELAS, ALIANÇAS ESTRATÉGICAS NO SENTIDO DE CONQUISTAR AVANÇOS POLÍTICOS NO CONTEXTO TEMPESTUOSO DA CONTEMPORANEIDADE.
Ser ou não ser, eis o que não se fará questão. Numa tentativa de desatar nós, soltar-nos dos clichês, das díades e do estereótipo para encontrar o que está ‘entre’, este texto busca abrir brechas para pensarmos a vida caiçara sob a perspectiva do seu não-acabamento e da sua potencialidade vital, o que chamamos de ‘devir-caiçara’. Comumente as histórias narradas sobre os caiçaras os atrelam a tradição e a um ‘lugar’, margeado por fronteiras que delimitam o que ‘deve’ estar ‘dentro’ e o que ‘deve’ estar ‘fora’ da sua cultura, bem como o que ‘devem fazer’ e o que ‘não devem fazer’. Neste percurso, apostamos no que estamos chamando de “quase-educação-ambiental” para nos referirmos às experimentações e aos processos de produção de realidades com fotografias e narrativas que remetem a lembranças e esquecimentos foto-não-grafados, não ‘representando’ histórias, realidades dadas e paradas, mas nos ‘apresentando possibilidades’ de realidades outras, diferentes, estranhas e desconhecidas. Registros de passagens e passageiros que, muitas vezes, já não são, já não estão, não vemos ou não querem se mostrar. Fotografias e narrativas feitas em encontros e desencontros, no imprevisto e no previsto. Logo, ora através de palavras ora de imagens, este texto narra os deslocamentos e as invenções que se deram em campo, para que conheçamos os caiçaras não a partir do que são (ou já foram), mas da potência do que está em devir.
Numa perspectiva freiriana de que a leitura da palavra é tributária da leitura de mundo, ou das leituras de mundos possíveis, os olhares sobre a vida fundam também modos de conhecer. A produtividade constituída por um modo capitalístico de operar, conhecer e se relacionar atravessa as mais diversas esferas da vida, priorizando metas e resultados em detrimento dos processos e do sentido. Ao pensar a educação, desde a primeira infância, as metas geralmente determinam como e o que se deve conhecer, fazer, ser. O que busca escapar desses padrões é considerado erro – desviando das Grandes Narrativas em sua ciência maior. Dessa maneira, este trabalho busca investigar como a infância e a arte contribuem para interpelar o funcionalismo moderno, a ciência maior, o tempo produtivo e a postulação de verdades estabelecidas. A partir de relatos, recortes fotográficos, poesias e diálogos teóricos, esses escritos ensaísticos propõem interrogar: como o paradigma do erro-acerto institui infâncias e mundos? Como o funcionalismo moderno se cruza com as processualidades da infância? E como a infância e a arte trabalham nas fissuras abertas, desconcertando o que se quer certo e conformado, atuando como antiferramentas? Entende-se, aqui, que o espanto, a invenção, e as perdas de tempo que a arte e a infância carregam consigo traem a funcionalidade das metas, abrem-se à errância e a uma outra política da educação.
Os fios da escrita deste texto deslocam e deslizam por entre as potências do ser que não é, do tempo que não marca, do espaço heterogêneo das brechas, do ser e não ser. Costuram a potência poética por entre fissuras de um texto acadêmico, fruto de uma pesquisa de mestrado viajante, navegante, cambiante realizada junto aos caiçaras das comunidades tradicionais da porção sul da Península da Juatinga, localizadas em Paraty, RJ. Diante das inquietações que emergiram no decorrer da atividade investigativa - Como transpor as experimentações de um devir e uma escuta que se propôs nômade em campo para o texto da dissertação? Como colocar em palavras um campo que fez com que a pesquisa ganhasse vida própria e extrapolasse as supostas fronteiras existentes entre pesquisadora e pesquisados? -, o presente trabalho levanta questões a respeito das metodologias, epistemologias, escritas e dualidades postas entre pesquisados e pesquisadores nas pesquisas acadêmicas em educação. O seu objetivo é criar rotas de fuga disruptivas com a geometria ordenada do pensamento moderno e explorar o caráter sensível e perceptivo da escrita poética - o que não significa fazer poesia, mas fazer da escrita um gesto - a partir do entrelaçamento das intervenções poéticas tecidas no texto de dissertação e as tramas da trajetória de um devir-pesquisadora. Desvios de uma linguagem que se pretende linear e produtora de conhecimento que abrem espaço para um outro território narrativo, político, estético e conceitual desde o qual o encontro com o Outro se faz possível.
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