O artigo problematiza os achados, em um município do Sul do Brasil, de uma pesquisa sobre a produção de cuidado nas redes de atenção à saúde, no que se refere à potência do vínculo como conceito-ferramenta para a reorganização dos processos de trabalho de equipes de saúde. A estratégia metodológica foi a abordagem cartográfica, mediante o acompanhamento de experiências vividas com três usuários-guia, visando aproximar a perspectiva dos investigadores daquelas dos usuários. Problematizou-se o reconhecimento mútuo e a busca de relações simétricas, com deslocamento das posições de saberes como condição ética para a emergência do vínculo. Propõe-se a construção do vínculo como potente estratégia para transformação das práticas cotidianas de saúde, a partir de um projeto ético-estético-político centrado nas demandas e necessidades em saúde dos usuários, em sua singularidade, e mediante relações simétricas.
Este artigo busca tensionar os equívocos do modelo biomédico hospitalocêntrico privatizante com base na resposta à epidemia pela Covid-19, que tem como centralidade o cuidado no hospital e as tecnologias duras e leve-duras. Mostramos, como elementos agravantes nesse cenário, o projeto político governamental de desfinanciamento do sistema público de saúde e de outras políticas sociais. Trazendo a experiência de outros países para a cena, apresentamos os “cuidados de proximidade” como construção de base territorial centrada nas tecnologias leves para a produção de cuidados de alta complexidade, presentes sob diversas modelagens no Sistema Único de Saúde (SUS), que vêm sendo pouco aproveitadas nesse momento. Buscamos mostrar o potencial dos cuidados de proximidade para a criação de redes vivas de existência e as possibilidades que abrem para reconfigurar não apenas o modelo de enfrentamento da epidemia, mas também o do pós-pandemia.
Resumo O texto tem como proposta refletir sobre os usos do hormônio testosterona entre os homens transexuais, tendo como ponto central a relação com o cuidado em saúde. O objetivo é entender, a partir do uso de fármacos a base de testosterona, como eles transversalizam, interagem e reiteram os processos de construção do que se designa transexual masculino, suas diferentes experiências e narrativas e a relação com o cuidado em saúde, seja no âmbito do serviço de referência no atendimento aos transexuais, seja nas experiências em outros serviços privados, e/ou nas vivências cotidianas experimentadas pelos homens transexuais em diferentes espaços sociais. As discussões são baseadas em seis relatos de homens transexuais na cidade do Rio de Janeiro.
O presente artigo analisa os efeitos que podem ser coletados das múltiplas experiências cotidianas vivenciadas pelos tutores/as, preceptores/as e alunos/as participantes do Programa de Educação pelo Trabalho para Saúde (PET-Saúde) quando se trata de utilizá-las para se pensarem transformações na micropolítica da formação universitária e no trabalho em saúde. Tem como eixo uma pergunta: O Programa Pet-Saúde, nos seus processos cotidianos, é capaz de produzir efeitos que alargam a matriz de formação que tem como característica principal os processos de ensignação? Mais do que polarizar entre o sim e o não, temos como objetivo colocar em discussão as apostas na formação e atuação do campo da produção do cuidado em saúde, tentando pensar o que têm sido esses campos no âmbito da educação brasileira, e como é possível re-inventar processos de formação que tomam muito mais as desaprendizagens e as potencialidades dos diferentes atores envolvidos.Palavras-chave: Educação em saúde. Programas nacionais de saúde. Serviços de integração docente-assistencial.
Em uma pesquisa sobre a produção do cuidado nas redes de saúde, avaliou-se o papel dos colegiados de gestão em uma experiência de mudança no governo da saúde. Com metodologia qualitativa de abordagem cartográfica, observou-se que a ativação dos colegiados pela gestão visava uma dupla tarefa: por um lado, a democracia institucional, e por outro, a criação de governabilidade para a mudança proposta. No entanto, predominavam nesses colegiados pautas restritas aos agires técnicos ou profissionais, além de uma certa tensão junto com vários atores da rede. Por outro lado, também houve encontros nos quais se vivenciou novos pactos intra e entre-equipes, mediante relações simétricas e de coautoria: um analisador aqui denominado magia a-significante. Conclui-se como possível que os colegiados gestores configurem-se como cenários para uma mudança, e para tanto propõe-se o seu engravidamento com ferramentas de educação permanente em Saúde.
This essay is a reflection from some health research experiences with a cartographic approach and field diary records. More than a mere recording instrument, the cartographic diary is an empirical multi-media, multi-lingual, multi-voice and, especially, multi-time, collective narrative of affectivity, a singular and collective tool produced at the meeting. To register a cartographic research is to enter a temporal dimension, an intuitive action that updates the past because it is written "from within" the meetings, and includes the subjects' voices. In cartography, the presence of the narrator in the text is not a bias, but a condition, with different modes of entry, narrative co-authorship or views from the points of view. Any variation of any of the three main discursive modes is used to cite the other: direct speech, indirect or free indirect, but especially the latter, because it allows maximum speech interference.
Resumo O presente artigo problematiza a baixa potência das ofertas tradicionais para o cuidado de usuários ditos complexos no campo da saúde. A partir das narrativas de duas usuárias-guia buscou-se mostrar que profissionais, serviços e políticas que desconsideram singularidades envolvidas no cuidado, apoiados em relações assimétricas são, frequentemente, questionados na sua capacidade de produzir ofertas significativas. Duas pesquisas qualitativas de ethos cartográfico buscaram refletir com base em duas usuárias-guia em seus territórios e que no encontro com pesquisadores e profissionais de saúde, estes experimentaram o impacto da desterritorialização de si e de seus conceitos. O processo cartográfico permitiu a produção de um “comum”, ou um modo de operar o trabalho em saúde. Sai de cena a doença como guia, a vulnerabilidade como impotência, para dar lugar à “defesa de uma vida que vale a pena ser vivida” como guia. Vidas possíveis que os usuários engendram, estejam ou não em situação de rua ou qualquer vulnerabilidade.
scite is a Brooklyn-based organization that helps researchers better discover and understand research articles through Smart Citations–citations that display the context of the citation and describe whether the article provides supporting or contrasting evidence. scite is used by students and researchers from around the world and is funded in part by the National Science Foundation and the National Institute on Drug Abuse of the National Institutes of Health.