Resumo: A fenomenologia em Michel Henry caracteriza-se pelo reportar de todos os movimentos da vida subjetiva ao seu solo original: à afetividade. É pela declinação no afeto que a intencionalidade, a consciência, as prestações transcendentais do sujeito são simultaneamente fenômenos vivenciados na dupla dimensão do sofrer / fruir. As implicações da fenomenalidade do afeto nesta dupla dimensão interessam à psicopatologia e psicoterapia. O essencial da nossa atividade prende-se com a possibilidade fenomenológica da passagem do sofrer ao fruir da vida. É neste contexto que a fenomenologia de Henry entra no Brasil (Faculdades EST e USP): atendemos à possibilidade da passagem do poder do sentimento (sofrer o afeto) ao sentimento de poder (fruir do afeto). Como parceiros da nossa investigação temos o grupo «O que pode um corpo?», coordenado por Florinda Martins, que desde os anos 80 trabalha a fenomenologia da Vida, na articulação direta com a medicina e com o papel do corpo na redefinição da fenomenologia. O pathos primordial é o afeto na Vida que se torna paradigma de relação terapêutica. Assim, a melancolia ou os traumas psíquicos são ressignificados antropológica e clinicamente, abrindo novas possibilidades terapêuticas na relação entre fenomenologia e psicoterapias, na dimensão do originário e do irrepresentável.
O presente texto aborda a genealogia do pensamento freudiano e sua influência sobre a abordagem do sentimento religioso. Para isso, parte da genealogia da psicanálise e a concebe como dupla: greco-ocidental e hebraica. Com Michel Henry, a herança ocidental é relacionada a seus fundamentos em Galileu e Descartes – a crítica henryana aos rumos do pensamento ocidental aponta efeitos da redução galileana que, pelo monismo ontológico, apenas considera verdadeiro o que é passível de ser representado ou visualizado. Insuficiente para a compreensão da condição humana, essa visão tem implicações antropológicas e clínicas, com o risco de distanciamento da dimensão afetiva e por conseguinte da própria vida. Henry propõe o dualismo do aparecer e a inversão do método fenomenológico para abarcar a fenomenalização da vida que se doa como afeto na imanência. A genealogia hebraica da psicanálise, por sua vez, contrapõe-se a esse rumo e, com a ênfase no irrepresentável e na multiplicidade semântica, influencia a clínica e a escuta psicanalítica na direção do afeto, o que é também reforçado por psicanalistas contemporâneos. Esse processo, por sua vez, abre caminho para o diálogo com a fenomenologia da Vida e suas contribuições para a clínica. Como concebe a vida em sua aparição originariamente afetiva, também aprofunda a abordagem clínica do sagrado.
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