Originalmente intitulado Le sociologue et l’historien, este artigo foi publicado na Revista Sciences Humaines (www.scienceshumaines.fr), em número especial (L’oeuvre de Pierre Bourdieu) difundido por ocasião da morte deste autor, em 2002 (p. 80-85). Nele Martine Fournier entrevista Roger Chartier, Diretor de Estudos na École des Hautes Études em Sciences Sociales
O presente artigo procura compreender como práticas alimentares que concorreram para a afirmação de marcos identitários no âmbito do movimento social liderado por Antônio Conselheiro, no último quartel do século XIX, repercutem atualmente naquele território. De forma fragmentária, as referências à alimentação encontram-se há muito no debate sobre Canudos, por vezes associadas a supostas manifestações do desiquilíbrio mental do Conselheiro e dos milhares de homens e mulheres que o seguiam. Contudo, a imagem negativa atribuída ao alegado “fanatismo” e alienação dos conselheiristas tem recuado frente àquela da coletividade que procurava inserir-se na realidade que a rodeava, a partir de uma perspectiva identitária particular, positivada pela dimensão religiosa. O atual processo de patrimonialização da herança conselheirista integra essa inversão simbólica, na qual tais particularidades resultam em submissão de aspectos da vida econômica a normas comunitárias de produção, distribuição e consumo, inclusive de víveres que compunham o repertório alimentar dos sertanejos.
O Sertão foi elaborado discursivamente como ponto de articulação de dualidades como: moderno verso tradicional; árido verso próspero; feliz verso sofrido; etc. e sobretudo como espaço de mediação de uma retórica das ausências. As narrativas das ausências relacionadas ao Sertão nordestino tiveram início a partir da estiagem de 1977, marcando profundamente desde então as diferentes representações que envolvem o lugar. Existem nessas construções discursivas e imagéticas aspectos que se assemelham às retóricas criadas sobre o Oriente (SAID, 1990) e uma perspectiva abissal dos significados criados sobre “o Nordeste”, manifestos pelos mais diferentes meios de produção cultural. Mas será que toda produção passa por um reforço das retóricas de dominação do outro? Dentre os modos de “narrar” o Sertão alguns indivíduos ganham destaque pela sua atuação na construção de uma visão de Nordeste. Nesse artigo trazemos a perspectiva forjada pela fotografia contemporânea de Tiago Santana que assinala o desejo de compreender seu espaço de origem por meio do encadeamento de suas representações imagéticas para problematizar as produções discursivas sobre o Sertão.
Ao reconstituir, com base em diversas fontes documentais (inclusive inéditas, ao que consta), a longa relação de camaradagem entre Antonio Candido e Sérgio Buarque de Holanda, discorre--se, no presente artigo, sobre o papel daquele crítico literário para a ulterior afirmação de Raízes do Brasil no cenário das ideias brasileiras. Conclui-se que a amizade entre ambos os intelectuais foi decisiva para a sagração desse livro – e, decerto, a de seu autor – como clássico da literatura nacional não ficcional.
A volatilidade que caracteriza o exercício da autonomia artística parece acompanhar seu percurso histórico, da emergência de formas modernas às ações criadoras capitaneadas por artistas no contexto contemporâneo. Uma trama de agentes e instituições tem contribuído para suas múltiplas definições, tendo sido a parceria com o campo intelectual elemento fundamental para sua emergência. Este artigo tem por objetivo refletir acerca das atribulações desta noção e sobre o papel dos intelectuais como elemento mediador entre o campo artístico, o político, o midiático/comunicacional e o econômico. Neste jogo de ressignificações, estes também sofrem redefinições (do intelectual total ao específico), oscilando entre a atuação do crítico de arte, do curador e do próprio artista, envolvidos nos recentes episódios de questionamento da autonomia artística no Brasil.Palavras-chave: Intelectuais. Política. Arte contemporânea. Autonomia. Comunicação. Intellectuals, politics and art: on the redefinition of artistic autonomyabstractThe volatility that characterizes the exercise of artistic autonomy seems to follow its historical course, from the emergence of modern forms to creative actions led by artists in the contemporary context. A network of agents and institutions have contributed to its multiple definitions, and the partnership with the intellectual field has been fundamental to its emergence. This article aims to reflect on the tribulations of this notion, and the role of the intellectuals as mediating element among the artistic, political, midiatic/communicational and economic fields. In this set of resignifications, these also undergo redefinitions (from the total intellectual to the specific), oscillating between the performance of the art critic, the curator and the artist himself, involved in the recent episodes of questioning of artistic autonomy in Brazil.Keywords: Intellectuals. Politics. Contemporary art. Autonomy. Communication.
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