ResumoNa realização das tarefas de cuidado e manutenção das famílias de camadas médias no Brasil -desempenhada, na esmagadora maioria das vezes, por mulheres pobres, fora da parentela dos empregadores -assim como nas formas de remuneração e de relacionamento que se desenvolvem entre patrões e empregadas domésticas, reproduz-se um sistema altamente estratificado de gênero, classe e cor. A manutenção desse sistema hierárquico que o serviço doméstico desvela tem sido reforçada, em particular, por uma ambigüidade afetiva entre os empregadores -sobretudo as mulheres e as crianças -e as trabalhadoras domésticas. Ao analisar exemplos tirados de uma pesquisa etnográfica em Vitória (Espírito Santo), comentaremos como essa ambigüidade se revela como instrumento fundamental de uma didática da distância social.
Em um estudo etnográfico acerca do serviço doméstico, estudei elementos, aparentemente paradoxais, que dão sustentabilidade às relações da maior categoria ocupacional feminina no Brasil. Uma das questões que meu trabalho levantou foi o descompasso entre as análises acadêmicas e as perspectivas das empregadas domésticas quanto às relações de trabalho e a perspectiva política decorrente de tais leituras. As empregadas encontravam vantagens no serviço doméstico, inexistentes no mercado de trabalho formal. Estas coincidiam justamente com aqueles fatores que os pesquisadores da condição feminina consideram como as raízes da subordinação que o serviço doméstico acarreta: relações personalistas e clientelistas estruturadas na organização da família patriarcal. Procurando uma perspectiva, onde o ponto de vista das pessoas investigadas exista como plausibilidade lógica, busquei compreender como as relações clientelistas se reproduzem neste campo de forma mais adequada que as promessas aportadas pela democracia cidadã. Abstract In an ethnographic study on domestic workers (household maids), I studied several apparently paradoxical elements which underlie relationships involved in Brazils major female occupation. One important question which emerged from my research is the divergence between, on the one hand, most academic analyses and, on the other, domestic workers expectations as well as their political perspectives with regard to their work relations. The domestic workers found in their form of work advantages and bargaining space they did not encounter in the formal job market. Curiously, these advantages coincided to a great extent with those elements which feminist researchers generally point to when decrying the subordinate status of female domestic workers: personalistic and clientelistic relations embedded in the patriarchal family. Seeking to reveal the logical plausibility of my interviewees´ opinions, I propose to explore how, in this field, clientelistic relations are more readily accepted than the promises proffered by the democratic state to its citizens.
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