Merchants of doubt. How a handful of scientists obscured the truth on issues from tobacco smoke to global warmingNaomi Oreskes & Eric M. Conway Bloomsbury New York, 2010, 368 págs.Na medida em que se torna determinante da dinâmica da economia e da política, a tecnociência passa a mediar as definições e as tomadas de decisão sobre um número crescente de questões. Ela se torna um campo de batalha de interesses contraditórios, onde o avanço do conhecimento científico amiúde questiona diretamente os poderes estabelecidos. Como a ciência fornece as bases para os discursos mais legítimos da sociedade, aqueles que são questionados por ela têm que reagir contrapondo argumentos e teorias supostamente científicos, mesmo quando não o sejam. O caso da relação entre o hábito de fumar e o aumento da incidência de câncer é o exemplo clássico, mas a indução da ignorância ou da dúvida sobre temas onde já existe um consenso científico tornouse uma prática comum na sociedade atual. A leitura de Mooney (2005) e Michaels (2008) permite pôr em discussão dezenas de tópicos de conflito nas mais variadas áreas. Assim, as controvérsias escalam até ganharem a conotação de uma verdadeira guerra cultural no caso da emissão dos gases de efeito estufa, os quais, segundo indicação da própria ciência, produzem o aquecimento global (impacto negado ou questionado pelas indústrias de combustível fóssil e de geração de energia em termoelétricas).Robert Proctor, historiador da ciência da Universidade de Stanford, cunhou um termo para designar o estudo da negação da ciência com vistas a produzir a dúvida ou a ignorância -em oposição ao estudo do conhecimento pela epistemologia -, a saber, agnotology, que podemos traduzir por agnotologia (do grego agnosis, não conhecimento). O propósito da agnotologia seria "promover o estudo da ignorância, desenvolvendo ferramentas para compreender como e porque várias formas de conhecimento não 'emergiram', ou desapareceram, ou foram retardadas ou negligenciadas por longo tempo, para melhor ou para pior, em vários pontos da história" (Proctor & Schiebinger, 2008, p. vii).
Seu primeiro livro, The closed world: computers and the politics of discourse in cold war America, de 1996, acompanhava o desenvolvimento dos computadores nos Estados Unidos e sua imbricação com o discurso da Guerra Fria. O computador contribuiu para criar a ilusão de que o país era impenetrável, defendido por um sistema automático, donde a metáfora do "mundo fechado". Os computadores foram, nos Estados Unidos, a tecnologia central das forças militares na Guerra Fria, mas também a metáfora estruturante da teoria psicológica que se desenvolveu nesse período com as ciências cognitivas e as pesquisas de inteligência artificial. The closed world mostra essa trajetória dual nos Estados Unidos durante a Guerra Fria. A vast machine: computer models, climate data, and the politics of global warming, último livro de Edwards, se insere na trajetória aberta por seu primeiro livro, elaborando agora uma "narrativa histórica da ciência do clima como uma infraestrutura global de conhecimento" (p. 8), um empreendimento já antigo, mas no qual os computadores se transformaram na peça-chave. Trata-se de uma epistemologia das ciências do clima, uma defesa da legitimidade dos modelos de computador como ferramentas de apreensão da dinâmica desses fenômenos. Tem, todavia, um alcance que ultrapassa o âmbito das ciências do clima, aplicando-se para muitas das ciências do sistema Terra. A obra mostra como o conhecimento do clima tornou-se, desde o século xix, indissociável dessa "grande máquina", fórmula que dá título à obra, através da qual Edwards retoma uma ideia lançada na Inglaterra vitoriana por John Ruskin a propósito da Sociedade Meteorológica, cuja influência e poder deveriam ser onipresentes no pla
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