"Yo soy yo y mi circunstancia y si no la salvo a ella no me salvo yo" Ortega y Gasset IntroduçãoQuando os delegados e observadores à terceira conferência contra o racismo organizada pelas Nações Unidas deixaram o recinto em Durban, ainda atordoados com as dificuldades do evento, não podiam imaginar o que se iria passar pouco tempo depois. Sabiam que somente à custa de acomodações e manobras de procedimento haviam conseguido a adoção "consensual" dos documentos finais. Isso já era, ou deveria ser, razão mais do que suficiente para temperar otimismos. De qualquer forma, para eles os resultados tinham tido, sem dúvida, aspectos positivos.O que os participantes do encontro na África do Sul não podiam prever é que, apenas três dias depois, quando muitos ainda se encontravam em trânsito de retorno, os maiores atentados terroristas da História iriam tornar as dificuldades da Conferência irrisórias e seus documentos finais, como que soterrados nas ruínas do World Trade Center. Jamais poderiam imaginar que, com sua enormidade catastrófica, os golpes de 11 de setembro de 2001 nos Estados Unidos, além de realçarem a aparente irrelevância de desavenças diplomático-discursivas, iriam propiciar a restauração no mundo de um "estado da natureza" hobbesiano, amedrontador em múltiplos sentidos. Esclareça-se, todavia, desde logo, que, ao contrário do que se poderia supor, não se pretende nesse artigo analisar o terrorismo, nem o combate contra ele. O escopo do texto é outro.É compreensível que os ataques arrasadores, ao deixarem todo o planeta em estado inicialmente catatônico, tenham sufocado possíveis entusiasmos com os Rev. Bras. Polít. Int. 45 (2): 198-223 [2002] * Diplomata, atualmente Embaixador do Brasil em Sófia, Bulgária, e membro do Comitê para a Eliminação da Discriminação Racial, em Genebra.
Do momento em que a idéia de chamar uma nova Conferencia Mundial Sobre Direitos Humanos foi inicialmente discutida pela Assembléia Geral da ONU, em 1989, até seu término, em 1993 em Viena, a situação internacional evoluiu de forma negativa. O agravamento de conflitos no período afetou o processo de preparação e os debates que ocorreram em Viena a um tal ponto, que chegou-se a temer por um fracasso total da Conferência. Em vista dessas circunstâncias, a Declaração e o Programa de Ação finais, adotados por consenso, apresentam-se como realizações positivas, propondo conceitos e recomendações que tendem a contribuir para a causa dos direitos humanos.
Depois de haverem funcionado, no final do século XX, como última utopia secular universalista, capaz de mobilizar sociedades de todo o mundo, os direitos humanos parecem ter entrado em fase de descrédito. A perda de popularidade da própria expressão linguística pode ser notada em sua posição secundária nos programas políticos atuais, meramente episódica nos noticiários e artigos de imprensa, se comparada ao relevo obrigatório, prioritário e ubíquo, de poucos anos atrás. Mais constrangedora é, porém, a reação automática de desconforto ou decepção das pessoas comuns de boa fé quando hoje lhes dizemos que, de uma maneira ou de outra, somos ainda atuantes na matéria. É provável que essa minha observação escape a ativistas, sobretudo mais novos, diretamente dedicados à promoção dos direitos humanos, no Brasil e no exterior. Pode ser até que os revolte. Eu próprio, calejado pela experiência de mais de trinta anos dedicados ao tema, agora me irrito com
O artigo resgata a história dos países balcânicos para refletir sobre o nacionalismo - uma peculiar importação da cultura política européia - e os conflitos étnicos da região, exacerbados pela reinvenção de ortodoxias religiosas desaparecidas há décadas.
Para abordar esse tema nos tempos presentes, é melhor inverter a ordem dos conceitos e iniciar pelas "guerras de religião" adequadamente colocadas entre aspas. A razão das aspas é óbvia: diferentemente daquilo que as primeiras impressões fazem crer, nenhuma guerra de religião, no sentido normalmente atribuído a esse tipo de conflito, está ocorrendo agora, pelo menos quando se pensa nos embates militares que obtêm mais atenção de todos. Nem é necessário que ocorra.de fato, a menos que retrocedamos alguns sé-culos, é difícil encontrar uma típica guerra de religião, ainda que certas situações como a da Argélia nos anos de 1990 e a do Noroeste do Paquistão hoje em dia pareçam aproximar-se daquele conceito. depois da gigantesca expansão árabe-islâmica pela ásia, áfrica e Península Ibérica, das mal-sucedidas cruzadas medievais, ou da Guerra de Trinta Anos na Europa, que deu origem ao princípio internacional da não-intervenção em assuntos internos, o conflito de ideologias que mais se assemelhou ao de religiões foi a Guerra Fria. Parecido, mas não equivalente, com a guerra de religiões mais típica é o conflito árabe-israelense no Oriente Médio. Embora mantendo seus fundamentos étnicos e nacionalistas entre as duas partes adversárias imediatas -o Estado de Israel e os palestinos sem Estado -, essa questão não-resolvida, apoiada com parcialidade por potências externas, alimenta substancialmente a arraigada disputa entre o judaísmo e o islã em todo o mundo.As guerras na antiga Iugoslávia, especialmente na Croácia e na Bósnia, assim como a Guerra do Golfo de 1991, que deram inspiração a Samuel Hunting-* O presente texto é tradução expandida de original em inglês apresentado no Cairo, em 26 de outubro de 2009, no seminário sobre o tema "Post-Laicity and Beyond", organizado pela Academia da Latinidade.
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