Para abordar esse tema nos tempos presentes, é melhor inverter a ordem dos conceitos e iniciar pelas "guerras de religião" adequadamente colocadas entre aspas. A razão das aspas é óbvia: diferentemente daquilo que as primeiras impressões fazem crer, nenhuma guerra de religião, no sentido normalmente atribuído a esse tipo de conflito, está ocorrendo agora, pelo menos quando se pensa nos embates militares que obtêm mais atenção de todos. Nem é necessário que ocorra.de fato, a menos que retrocedamos alguns sé-culos, é difícil encontrar uma típica guerra de religião, ainda que certas situações como a da Argélia nos anos de 1990 e a do Noroeste do Paquistão hoje em dia pareçam aproximar-se daquele conceito. depois da gigantesca expansão árabe-islâmica pela ásia, áfrica e Península Ibérica, das mal-sucedidas cruzadas medievais, ou da Guerra de Trinta Anos na Europa, que deu origem ao princípio internacional da não-intervenção em assuntos internos, o conflito de ideologias que mais se assemelhou ao de religiões foi a Guerra Fria. Parecido, mas não equivalente, com a guerra de religiões mais típica é o conflito árabe-israelense no Oriente Médio. Embora mantendo seus fundamentos étnicos e nacionalistas entre as duas partes adversárias imediatas -o Estado de Israel e os palestinos sem Estado -, essa questão não-resolvida, apoiada com parcialidade por potências externas, alimenta substancialmente a arraigada disputa entre o judaísmo e o islã em todo o mundo.As guerras na antiga Iugoslávia, especialmente na Croácia e na Bósnia, assim como a Guerra do Golfo de 1991, que deram inspiração a Samuel Hunting-* O presente texto é tradução expandida de original em inglês apresentado no Cairo, em 26 de outubro de 2009, no seminário sobre o tema "Post-Laicity and Beyond", organizado pela Academia da Latinidade.