O termo "sociolingüística", aqui empregado como qualificativo, tem como referência um campo epistemológico mais amplo do que a lingüística e que abrange as ciências sociais. Uma perspectiva de investigação sociolingüísti-ca nas ciências sociais, no sentido abrangente que conferimos ao termo, englobaria uma "etnografia da comunicação", na acepção de Hymes (1974), mas também a teoria do código social de Basil Bernstein (1971-1975 ou o modelo de grade e grupo de Mary Douglas (1978), relacionando diferenças de códigos lingüísticos à estrutura social. De modo geral, as perspectivas sociolingüísticas tomam como base a relação entre as formas de falar em contextos sociais e a possibilidade de se sistematizar a variação que caracteriza e constitui a língua falada.Pode-se dizer que a sociologia interpretativa, principalmente em vertentes como o interacionismo simbólico e a etnometodologia, fundadas na relação entre linguagem e pensamento em contextos de interação social na vida comum, requer, em nível técnico, algum apoio da sociolingüística na análise contextualizada de entrevistas (em suas mais variadas formas, inclusive na de grupos de discussão) ou de textos 1 .Os atos, os eventos e as situações de fala constituem o suporte empírico básico das perspectivas sociolingüísticas, que podem também ser consideradas desenvolvimentos de um modelo analógico ou metafórico da "sociedade como linguagem". Empregada como modelo, a análise sociolingüística dos
Resumo: A teoria do quadro (frame), desenvolvida por Goffman em Frame Analysis (1974), tem sido aplicada na orientação estratégica e na metodologia de análise dos novos movimentos sociais. O objetivo aqui é reconstruir o emprego do conceito de frame e seus desdobramentos teóricos, bem como de outros elementos da tradição sociológica interacionista na elaboração, feita por autores como Gamson (1988), Snow e Benford (1988) e Johnston (2005), da fundamentação da análise da ação coletiva em movimentos sociais. Constata-se a fecundidade do frame da ação coletiva, não apenas na análise de mobilizações realizadas inicialmente com baixo grau de organização e fora da esfera institucional, mas também de estratégias empregadas por órgãos estatais ou programas sociais governamentais. Palavras-chave: Movimentos Sociais, Análise do Frame, Erving Goffman, Ação Coletiva, Interacionismo Simbólico.A nalisa-se, aqui, a contribuição da escola sociológica do interacionismo simbólico nas teorias dos movimentos sociais, desde a teoria do comportamento coletivo de Blumer, até a teoria do frame da ação coletiva, com destaque em autores como D. Snow e R. Benford, identificando suas potencialidades e limites na análise de mobilizações coletivas no mundo contemporâneo, em relação às teorias tradicionalmente reconhecidas no campo da pesquisa e organização da intervenção social.Embora haja diferentes concepções de movimentos sociais na produção socioló-gica, é possível detectar um consenso nas reconstruções contemporâneas sobre o tema (e.g., ALONSO, 2009;GOHN, 2008; SNOW, SOULE & KRIESI, 2004), em torno de características que seriam próprias de um movimento social. A primeira delas é a mobilização coletiva, identificada e explicada de diferentes formas nas diversas teorias dos movimentos sociais: comportamento coletivo, ação coletiva, redes, ação conjunta ou coordenada, etc. A segunda é reivindicar ou propor mudanças, ou seja, intervir na realidade social, com algum nível de organização. Evidencia-se, também, um caráter não institucional na ação efetivada, em alguma medida. Finalmente, a ação coletiva, para ser considerada movimento social, deve apresentar alguma continuidade temporal.
O objetivo do artigo é analisar a construção das formas identitárias no trabalho em serviços. O repertório conceitual remete principalmente à sociologia do trabalho francesa e ao interacionismo simbólico. Uma breve reconstrução das teorias sociológicas da identidade laboral, com ênfase no mundo dos serviços, antecede a análise empírica de duas ocupações: serventes de limpeza e vendedores/as. A metodologia empregada recorre a uma triangulação de fontes, em que dados quantitativos de bases governamentais (Censo, PNAD e RAIS) são articulados com dados qualitativos primários e secundários. No caso de serventes de limpeza a contratação terceirizada afeta negativamente a dinâmica do reconhecimento, embora a depreciação do self remeta mais à construção cultural do "trabalho sujo" e à invisibilidade que caracteriza o trabalho em serviços, sobretudo em atividades que remetem ao trabalho doméstico, como limpeza, manutenção e conservação. Já os/as vendedores enfrentam dilemas relacionados a formas de interagir com o cliente, por sua vez influenciadas por estratégias gerenciais e de marketing, bem como deslocamentos identitários relacionados à crescente relevância da própria prática de consumir como marcador identitário na moderna sociedade de consumidores.
Information technology work includes occupations in which middle to high education prevails and which are developed in a heterogeneous field of economic activities. The article's main objective is to analyze differences in terms of income and occupational insertion related to gender and race in the IT sector. The main data sources come from databases of the Brazilian government (Census, PNAD, RAIS), but also from academic production concerned with IT work, primarily in the sociology of work, economics and scientific policy issues. As regards gender, what was found was not exactly a pronounced difference in women's and men's average incomes, but a difference of inclusion in the
E ste dossiê enfoca primeiramente artigos sobre estratégias associativas, subsidiadas ou não pelo poder público, supostamente alternativas a um mercado de trabalho excludente, especialmente diante de limitações na qualificação. Várias temáticas e perspectivas de análise estão presentes, destacando a tensão entre os interesses e motivações nas experiências associativas e as diretrizes político-ideológicas que norteiam as políticas públicas, pois o princípio originário das associações e cooperativas no mundo do trabalho é a autogestão. Destaca-se também o processo de construção da identidade por trabalhadores(as) em ocupações e profissões nas áreas de produção ou serviços, influenciadas pelas formas de atribuição institucional, interação e organização do trabalho, mas também por fatores externos à experiência laboral, como arranjos de gênero na esfera doméstica ou no contexto cultural, além de motivações político-ideológicas. No caso das profissões que valorizam a centralidade da expertise na sociedade do conhecimento, os desafios surgem dos leigos, dos empreendedores, da lógica administrativa, do controle do Estado. As disputas entre esses ideários repercutem nas identidades profissionais, nas formas de se lidar com a semelhança e a diferença nos grupos ocupacionais e nas carreiras. Assim, a identidade no trabalho constitui, ao lado das análises da organização, da divisão social, da cultura e das representações do trabalho, um frutífero repertório para a pesquisa de profissões, onde prevalece um reconhecimento positivo do self, mas também de ocupações de baixa qualificação, empreendimentos associativistas ou experiências de trabalho atípico, em que a emancipação e o resgate intersubjetivo do trabalhador permanecem no horizonte.O trabalho cooperado, de forma autogestionária ou alternativa, orientado por políticas públicas, movimentos sociais, ou até por motivações empreendedoristas não desvinculadas da lógica capitalista, constitui o tema principal em quatro artigos. Jussara Carneiro Costa, em Mulheres e Economia Solidária: Hora de Discutir a Relação!, analisa a participação feminina em empreendimentos e iniciativas no contexto da economia solidária, esta considerada prática distinta, em vários aspectos, do cooperativismo tradicional e alternativa ao modelo de produção capitalista. A autora analisa criticamente as reconstruções sobre as origens históricas da economia solidária, que ignoram ou desvalorizam o papel da mulher fora das ocupações fabris ou industriais. Incorporando elementos da argumentação de feministas como Joan Scott (1991), que enfatizaram a subsistência da divisão sexual de trabalho e da dominação e de estratégias de gênero masculinas em empreendimentos cooperativos alicerçados num discurso contestatório à lógica capitalista, Jussara identifica e discute as razões que promovem o ocultamento das mulheres como agentes da história da economia solidária. Decisões recentemente efeti-
A guerra é um fenômeno social com graves consequências materiais, objetivamente avaliáveis, mas que também ressoa na memória coletiva e afeta psicologicamente os indivíduos, quer tenham colaborado para sua eclosão, participado ativamente no conflito, vivenciado ou recordado o acontecimento ou simplesmente presenciado narrativas, acompanhado notícias em quaisquer meios de comunicação ou fruído produções artísticas relacionadas com a guerra, como romances históricos. Acompanhado geralmente de sua oposição e condição necessária para que seja identificado, ou seja, a paz, o fenômeno da guerra tradicionalmente é analisado na filosofia (por exemplo, Hegel, 1975;Hobbes, 1997;Kant, 1989) e sobretudo na história. No campo da metodologia das ciências sociais, aqui compreendida como reflexão sobre a prática da pesquisa social em seus aspectos lógico, epistemológico, teórico e técnico, a guerra comparece como um tradicional exemplo de análise em explicações causalistas (Mill, 1999) ou quase causais (Von Wright, 1971). Primeiramente cabe destacar uma mudança que se efetivou desde a identificação de condições ou fatores objetivos a necessariamente vinculados a um conflito bélico, principalmente em análises históricas comparativas, até considerar a guerra um processo ou resultado da agência humana. No último caso, a guerra é relacionada também com elementos 1. Este artigo tem como base uma comunicação apresentada no 37º Encontro Anual da Anpocs, em outubro de 2013, no st-20 (Teoria social no limite: novas frentes/fronteiras na teoria social contemporâ-nea). O texto foi adaptado e reformulado levando em conta as considerações feitas pelos debatedores e colegas presentes.
O objetivo é analisar o trabalho de músicos brasileiros na França, afetado pelo regime de trabalhadores intermitentes de espetáculos e o trabalho por projetos. Procura-se identificar as formas identitárias relacionadas a trajetórias profissionais, caracterizar a organização de trabalho e as formas de contratação. A metodologia recorre a dados governamentais, à literatura sobre trabalho musical e a entrevistas, além de observação em ambientes laborais. O trabalho de brasileiros pode ser comparado ao de músicos em geral na França, caracterizando-se pela pluriatividade, múltipla inserção e polarização entre contratos por tempo indeterminado ou determinado e prestação de serviços eventuais. Entretanto, a “filiação cultural” a gêneros musicais característicos, associada às redes de cooperação pode ser compreendida como estratégia de construção identitária profissional em um mercado competitivo.
RESUMO:O artigo tem como objeto a ocupação de digitador na entrada de dados, que constituía, nos anos 70-80, a base do sistema ocupacional na organização do trabalho da computação e da informática. Com base numa pesquisa realizada na cidade de Goiânia, analisa-se as transformações na identidade ocupacional de digitadores em serviços de entrada de dados com o desenvolvimento tecnológico dos sistemas de informação e comunicação. Procura-se reconstruir as condições de imputação e de reconhecimento de um vocabulário dos motivos que é internalizado pelos digitadores e remete a situações sociais específicas, relacionadas à organização do trabalho informático no Brasil e a suas transformações, incluindo o deslocamento dos digitadores para outros setores de trabalho ou ocupações, como processamento de textos. PALAVRAS-CHAVE:. Trabalho informático. Ocupação. Profissão. TYPING AND DATA ENTRY KEYERS: CHANGES IN OCCUPATIONAL IDENTITYABSTRACT:The article focuses the occupation of data entry keyers, the base of the occupational system that organized computer work in seventies and eighties. Based in a qualitative research realized in the city of Goiania, deals with changes in the occupational identity in data entry keyers due to the technical development of information and communication systems. The inquiry analyses the conditions of imputation and acknowledgement of a vocabulary of motives that is internalized by data entry workers. This vocabulary refers to specific social situations, concerned to changes in computer work organization that include the shifting of data entry keyers to other work sectors ou occupations, like word processor typing. KEY-WORDS: Occupation. Profession. Computer work.A ocupação de digitador foi considerada, na fase áurea dos centros de processamento de dados (CPDs), como o ponto de partida numa promissora carreira no emergente mercado de trabalho da computação e da informática. De fato, a digitação compreendia a base de um sistema ocupacional organizado hierarquicamente, que incorporava também, numa classificação ascendente, as funções de operador, programador e analista de sistemas. O emprego maciço de digitadores ocorreu numa segunda fase da evolução tecnológica dos computadores, que sucedeu uma primeira etapa de produção artesanal e experimental, ainda confinada nos centros e laboratórios de pesquisa. Caracterizada pelo uso de grandes sistemas de computadores (mainframes) instalados em CPDs, essa fase marca a própria estruturação do trabalho informático que, no Brasil, ocorreu entre os anos 70 e 80. Com a gradativa substituição dos mainframes por microcomputadores e a correspondente flexibilização do sistema ocupacional anterior, aproximando as fases da produção (digitação e operação) e do desenvolvimento (programação e análise), algumas dessas ocupações transformamse drasticamente e outras, como é o caso da digitação na entrada de dados, tendem a declinar ou mesmo a desaparecer. Contudo, ainda que o desaparecimento de trabalhadores ligados à entrada de dados seja evidente, o mesmo parece não oc...
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