Trauma, história e luto: a perlaboração da violência 1 Resumo Dar-se-á aqui atenção à dinâmica do reconhecimento de certos eventos traumáticos, de processos sociais de exteriorizaçãoe historicização -da violência traumática à perlaboração do passado. Logo, assinalar-se-ão os pontos fundamentais, tensões e limites à compreensão do que marca a estrutura de significado do trauma em nível psicológico e sociocultural. Desse modo, faz-se necessário averiguar os estudos sobre as implicações teóricas dos conceitos psicanalíticos de perlaboração, trauma e luto, ao esforço de representação e superação de uma experiência de violência pretérita. No centro dessas questões estão as ligações entre o trauma e as possibilidades (dilemas) da representação narrativa. Tais questões são cruciais para o entendimento dos debates sobre os esforços compreensivos de explicação e representação de algumas das questões mais urgentes com relação à construção do significado histórico e com relação à consolidação de uma sociedade marcada pelos efeitos duradouros e permanentes dos traumas das injustiças pretéritas. Esses dilemas, por representarem uma ameaça à significação e aos contornos da própria ação, e as demandas por reconhecimento representativo da violência e do sofrimento, cujos termos precisam ser mediados, confrontados e compreendidos como prática cultural de memória coletiva, são cruciais para a compreensão dos debates sobre a memória da violência e sua suposta transformação e recuperação.
Resumo No Brasil, o conjunto de medidas administrativas, judiciais, legais, a aplicação de atividades compensatórias, de ações educativas e de políticas de memória assumidas ao acerto de contas com a violência cometida pelos agentes do Estado durante a ditadura civil-militar (1964-1985) levam em conta ações compensatórias, educativas e políticas de memória e verdade agenciadas por meio dos trabalhos da Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos, da Comissão de Anistia e da Comissão Nacional da Verdade. Questiona-se aqui a possibilidade de as representações feitas pelas medidas de justiça de transição implementadas pelas comissões de reparação e de verdade assumirem um sentido terapêutico, condicionando a perlaboração dos traumas decorrentes das atrocidades perpetradas pelos agentes da repressão. Para isso, no contexto no qual o Estado brasileiro implementa medidas ao reconhecimento, à reparação, à reconciliação, ao esclarecimento e à responsabilização dos crimes da repressão, submetem-se as narrativas produzidas pelas comissões de reparação e de verdade a uma análise que leva em conta o processo de perlaboração do trauma dessas experiências. Averiguado que as debilidades do processo transicional brasileiro inibem o debate e o engajamento social, dificultam o reconhecimento da violência, colocam obstáculos à simbolização e à apreensão coletiva de suas representações e conduzem os seus termos ao esquecimento ou à revisão, conclui-se que as representações feitas pelas medidas de justiça transicional não condicionam a perlaboração social dos legados traumáticos da violência cometida pelos agentes da repressão durante a ditadura civil-militar no Brasil. Tais condições seguem dificultando que um trabalho de memória da violência da ditadura se configure em um trabalho de perlaboração dos legados de seus traumas.
Concentrating on different levels of acknowledgment of past wrongdoings being adopted by Brazilian politics through the transition to democracy, it is aimed to ponder the discussions regarding how Brazilian strategies have confronted the inheritance of its past human rights abuses. For that goal, it will be considered as a theoretical background the sense of reparation on the processes of coming to terms with past injustices. Through the projects develo-
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