A violência colonialista e não uma “identidade nacional” uniu tribos antagônicas. A penetração do cristianismo no território hoje ocupado pelo Líbano estimulou o surgimento de grupos políticos e culturais distintos. Quando cada grupo étnico-cultural-religioso forja para si um passado mítico, como agregá-los num “sentimento nacional”?
O artigo é uma síntese das pesquisas de campo realizadas com a comunidade xiita do sul do Líbano em 2008. Procurou-se averiguar a conexão e superposição do trauma individual ao trauma coletivo na luta de resistência à invasão das forças israelenses a suas terras. O grupo étno-confessional participa depois de décadas de uma conjuntura nacional de enfrentamentos mortíferos entre suas comunidades. De outro lado da fronteira, há Israel, o inimigo que depois de submeter sua região por vinte anos, volta a atacá-los em 2006. Foram registradas vinte entrevistas com indivíduos de ambos os sexos, cujas questões abertas objetivaram suas histórias de vida. A análise de conteúdo do material permitiu sua separação em três grupos. Os depoimentos de seus representantes coloca em relevo o grau de afetação provocado pelos eventos. Averiguamos as disposições psíquicas desses sujeitos que vivem constantemente situações de stress e de eventos traumáticos. Observamos o papel da identificação grupal à mensagem de seus mitos fundadores e como fator de reforço egoico no enfrentamento a esse real catastrófico.
Crise social extrema, processos identificatórios e resistência psíquica IntroduçãoA proposta deste trabalho é analisar as condições psíquicas de indivíduos que atravessam um longo período de desorganização social grave. Quisemos saber de seus processos identitários individual e coletivo quando atravessam uma revolução civil, e que logo se transforma na mais violenta das crises sociais: uma guerra etnoconfessional. Procurou-se saber do papel das crenças, da memória coletiva e das ideologias no processo de resistência (resiliência) psíquica durante os conflitos armados e depois de acabada a guerra, no período da reconstrução do país. As pesquisas foram realizadas no Líbano, país que enfrentou entre 1975 e 1991 sangrenta luta fratricida e que é constituído por uma complexa composição de comunidades religiosas e que se imbricam em diferenciados matizes políticos. Esses confrontos foram conseqüências da própria constituição do país, que traz em sua história a animosidade e o conflito intercomunitário desde antes de sua fundação como estado-nação. Assinalamos que este trabalho é fruto de uma pesquisa de campo realizada por meio da observação participante e da extração de histórias de vida com indivíduos da comunidade Druza e que serviram como exemplo para nossos objetivos. A orientação segue as diretivas epistemológicas da psicossociologia, seja a interação entre psicologia social e psicanálise. Para entrarmos na questão vamos primeiramente contextualizar, ainda que muito esquematicamente, as relações comunitárias e o conflito armado no país, mas sublinhando que nosso único interesse é o viés dos processos das identidades culturais, remarcando a polarização Druzo-Maronitas que se amarram ao fio da história libanesa e sintetiza como situação extrema, as animadversões comunitárias que se espalham pelo Oriente Médio. Em seguida teceremos algumas considerações sobre as identidades culturais, a relação crise extrema e condições psíquicas para, finalmente, apresentar os nossos resultados. A crise vivida pelos libanesesA associação de guerra civil e guerra confessional constitui uma das mais terríveis catástrofes sociais, pois além da perda de um poder político central, associa-se à visão de um inimigo compacto e indiferenciado que deve ser apagado como a mensagem profética do mal. Além disso, uma guerra interna deixa o meio inapreensível e com fronteiras incertas. Assim, o contexto torna-se incompreensível, surpreendente e fora de controle. A impossibilidade de uma organização cotidiana de vida e de se construir um projeto existencial positivo em médio prazo, associado aos boatos terrificantes de massacres eminentes, deixam a situação fér-til para a produção fantasmática de terror, de ódio e propiciador do comportamento pulsional.Durante a guerra, um terço da população nacional emigrou (um milhão de pessoas) e o restante foi obrigado a participar como ator da grande catástrofe social que se abateu sobre o país. Difícil foi o indivíduo que não tenha se defrontado com situações traumáticas, e que não tenha sido obrigado a mu...
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O presente trabalho tem como objetivo apresentar estratégias clínicas como alternativas ao internamento de crianças e jovens acometidos de distúrbios emocionais severos. Sublinha-se a indissociabilidade que deve haver nessas ações entre a pedagogia e a intervenção psicoterapêutica, aqui representada pela orientação psicanalítica. Após a ilustração de um caso atendido em escola especial, fundamentam-se os argumentos a partir das proposições alinhavadas na 2ª e 3ª Conferência de Saúde Mental do Ministério da Saúde. São propostas políticas de criação de espaços mais abertos, inseridos no Sistema Único de Saúde (SUS), que se harmonizem com as demandas sociais, incentivando-se posições para um pensamento contrário a uma visão da psiquiatria tradicional.
RESUMOEste artigo tem o objetivo de descrever o traumático na clínica enquanto realidade psíquica e psicopatológica, suas dimensões subjetiva e social. A realidade psíquica de um sujeito enquanto a soma de traços deixados por suas experiências relacionais, que nos dirá sobre as consequências patológicas ou não de um acontecimento potencialmente traumático: uma ruptura violenta na marcha dos eventos cotidianos e sociais. A compreensão psicanalítica do traumatismo lança luz sobre o fato de que ele não é constituído unicamente do choque provocado pelo agente exterior, mas tanto quanto pelas possibilidades de reação da pessoa que o suporta. Esse é o fundamento do tratamento psicoterápico do traumatismo. Estas aproximações de uma clínica em situações extremas partem do pressuposto de que não há uma natureza única do trauma nem das defesas mobilizadas em seu enfrentamento. O enfoque clínico do social nos mostra a importância da plasticidade cultural quando se participa com as equipes de intervenções locais e no desenho das estratégias a serem implementadas. A clínica do sujeito nos revela que mesmo que o psiquismo estenda os meios de proteção e de autoproteção para se preservar dos traumas, sua reorganização tem um custo psíquico que pode tanto favorecer quanto impedir o trabalho terapêutico. Palavras-chave: trauma psíquico; realidade psíquica; psicopatologia; clínica social; clínica psicanalítica. ABSTRACT Social Clinic in Extreme Situations: The Trauma in Collective DimensionThis article describes clinical treatment after traumatic situations, as being understood as psychic and psychopathological events with subjective and social dimensions. The subject s psychic reality represented by the sum of the traces left by his or her relational experiences tells about the consequences, pathological or otherwise, of a potentially traumatic event: a violent break in the continuity of the subject s everyday life. Psychoanalysis understands traumatism as consisting not only by the shock caused by an outside agent but as also closely related to the individual s specific ability to react. This would be the basis of the psychotherapeutic treatment of traumatism. Such clinical approaches to extreme situations are based on the supposition that there would be a single nature of neither the traumatic experiences nor the defenses mobilized to cope with them. The clinical focus of social realities shows the importance of cultural flexibility when participating in local intervention teams and designing strategies to be implemented. Clinical practice which is based on the subject shows that even if the mental apparatus is able to expand its ability to protect itself by warding off traumas, the consequent reorganization has psychic costs that can either favor or block therapeutic work. Keywords: psychic trauma; psychic reality; psychopathology; social clinic; psychoanalytic clinical practice.Este artigo surge das reflexões desenvolvidas pelos autores em suas pesquisas sobre o traumatismo e as possibilidades clínicas de sua superação. A com...
O artigo enfoca os distúrbios urbanos acontecidos em Curitiba no ano de 1959 e que que ficou conhecido como a “Guerra do Pente”. O episódio teve início numa loja, onde um freguês exigia a nota fiscal pela compra de um pente, exigência essa não atendida pelo dono da loja, o libanês Hamad. Os insultos dirigidos ao proprietário levaram a uma violenta luta corporal entre os dois, resultando na fratura da perna do cliente. Transeuntes indignados com o fato apedrejaram a loja e em seguida invadiramna, causando sua destruição. A multidão então começou um quebra-quebra que se espalhou pela cidade, visando principalmente às lojas de árabes. A baderna durou dois dias e só teve fim com a intervenção do exército, deixando muitos feridos e destruição na cidade. Colocamos a questão de um possível efeito traumático de cunho étnico no imigrante libanês: teria o evento causado ressentimentos que viessem a dificultar sua interação com a cultura nacional? Analisaremos o papel desse pai no processo identificatório dos filhos e na integração deles na sociedade local. Veremos o papel do futebol e da comida árabe nesse processo
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