João. Depois de cinco anos nos trópicos, sofria ataques de asma, problemas gástricos e "explosões de erisipela ao rosto e cabeça". Esta imagem já fragilizada da princesa em nada lembra aquela mulher raivosa e de pouca compostura com a qual identificamos essa personagem histórica, isso para só falar dos modos e não da única atividade que parecia ter neste lado do Atlântico: caçar homens sem pejo e deleitar-se com eles à exaustão.O livro de Francisca Nogueira de Azevedo que ora nos chega vem destruir definitivamente essa construção estereotipada e caricatural que alguns cronistas e romancistas criaram para Carlota Joaquina. Retrato deformado e atento ao que pôde haver de mais irrelevante política e historicamente, essas interpretações aprisionaram a princesa espanhola à alcova, não só minimizando como procurando mesmo ignorar a importância política e diplomática de Carlota nos gravíssi-mos acontecimentos vivenciados pela Europa, pelos reinos ibéricos e pela América no início do século XIX. Mas não se pense que a autora, visando desconstruir o estereóti-po, cai na armadilha de revelar uma princesa frágil e manipulada pelos acontecimentos. Ao contrário, o que seu livro descortina é uma mulher de excepcional visão política, atuante e ciosa de suas prerrogativas monár-quicas, mas que tem seus movimentos e projetos limitados pelo enredo do tempo em que viveu e pela especificidade do gênero feminino a que pertencia.Trata-se, portanto, de trabalho de refinada história política e diplomática no que esta pode ter mais
O texto apresenta algumas possibilidades analíticas para a decisão tardia de aclamar d. João VI no Brasil, tendo o rei assumido o título monárquico desde a morte de sua mãe, d. Maria I, em 20 de março de 1816. A decisão pela aclamação e a forma grandiosa da cerimônia, quase dois anos depois, deve ser analisada à luz da mudança do contexto europeu após a derrota de Napoleão, da restauração das forças monárquicas impressas nos tratados do Congresso de Viena, e, no Brasil, considerando os novos perfis dos ministros de d. João nos últimos anos de sua permanência na América
O artigo analisa a sobrevivência do sebastianismo em Portugal no início do século XIX, a partir dos escritos que provocaram a chamada "guerra sebástica", travada paralelamente às guerras contras as tropas de Napoleão Bonaparte.
LIMA, Luís Filipe Silvério. O império dos sonhos. Narrativas proféticas, sebastianismo & messianismo brigantino. São Paulo: Alameda, 2010."Século dos sonhos", título da última parte do livro de Luís Filipe Silvério Lima, resume bem a tese defendida pelo autor, e expressa os vá-rios sentidos e questões que seu trabalho propõe: identificar, analisar e cotejar as narrativas oníricas produzidas em Portugal no que chamou de "longo século XVII". Longo porque se inicia depois de 1580 e termina com o reinado de d. João V, em 1750, tendo por eixo o sentido e o papel assumidos pelos sonhos na origem da história sagrada do reino luso, seus impasses e expectativas como Monarquia ou Império Universal. Para conduzir e consumar esse "destino", um soberano português, vivo, morto ou ressuscitado desempenharia a grandiosa tarefa determinada pela insondável vontade divina.Às grandes questões já enunciadas agrega-se outra não menos complexa: a que estabelece a relação entre sonho e profecia, desejo e destino, vivência individual e sentido coletivo da "revelação onírica". O sonho como expressão e tradução do sintoma de um tempo atravessado por crises de matizes variados, desafios inesperados e projeções que passaram da convicção orgulhosa à melancolia de uma espera reiteradamente frustrada, raiz profunda de um dos muitos sentidos atribuídos à história portuguesa. A interpretação dos sonhos proféticos teve impacto político -e religioso -"para explicar e justificar a especificidade portuguesa diante das nações cristãs", assumindo em Portugal papel estrutural nas "formulações político-providencialistas que organizaram e justificaram a ideia de reino e nação portuguesa", defende o autor.A tese é ousada, levanta questões que só a valorizam, e tem base sólida: parte de um caminho pavimentado com segurança e atenção, vigilante e inebriado pela análise dos sonhos do missionário Francisco Xavier feita pelo grande Antônio Vieira, em fins do século XVII. Com a verve que o celebrizou, Vieira perguntou-se, na "Conclusão" aos três sermões de Xavier Dormindo, se não haveria contradição entre as imagens biográficas que apresentavam o já santo Francisco Xavier sempre dormindo e sonhando, e a esperada "imagem da perfeita vigilância" e "os olhos sempre abertos" de um bem-aventurado de Deus. Resposta: Xavier era o maior de todos os santos até mesmo dormindo porque em seus sonhos cuidava "da missão cristã no passado, por meio da memória de seus atos; no presente, por meio dos resquícios da sua vigília; e no futuro, por meio da iluminação divina pela profecia". O autor parte, portanto, de Vieira e de seu projeto de Império Universal: processado pela Inquisição de Coimbra entre 1663 e 1667, manteve a defesa do sonho do Quinto Império, liderado por d. João IV ressuscitado, convicção que foi cedendo lugar a uma Monarquia Universal menos atrelada ao destino ou à identidade portuguesa.A reflexão ampliada e adensada sobre a relação entre sonho-profecia-destino português foi, por-* Doutora em história pela Universidade Federal Fluminense, professora associada d...
RESUMOEste artigo analisa o contexto em que surgiram as primeiras crônicas sobre a batalha de Alcácer Quibir no mundo ocidental, além de discutir o caráter dialógico das elaborações dessas narrativas e indicar algumas rotas de circulação que algumas versões percorreram entre fins do século XVI e início do século XVII. ABSTRACTThis article analyses the context in which the first chronicles on the battle of Alcácer Quibir appeared in the western world, as well as discusses the dialogical character present in the elaborations of those narratives. It also indicates point some circulation routes that some versions took between the late 16 th and early 17 th centuries.
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