Noventa anos depois da descoberta da doença de Chagas, por Carlos Chagas em conjunto de exemplares investigações científicas que concretizaram os aspectos fundamentais da enfermidade, essa endemia continua, lamentavelmente, ainda proeminente em países latino-americanos, sobretudo em virtude da falta de maiores e melhores providências preventivas por parte de vários setores governamentais. No Brasil tiveram lugar em fase relativamente recente medidas adequadas que tornaram bem menos expressiva a transmissão do Trypanosoma cruri. Almejamos que prossigam e sejam imitadas por outras nações. Convém lembrar, a propósito, que o êxito foi devido à vontade política, à programação elaborada por profissionais competentes e à persistência, não influenciada pelas mudanças de governantes. No Estado de São Paulo, em particular, a transmissão vetorial a seres humanos foi controlada desde o início da década de 80, ocorrendo praticamente o desaparecimento da infestação domiciliar por Triatoma infestans (Souza, AG; Wanderley, D.M.V.; Buralli, G.M.M & Andrade, J.c.R. - Consolidation of the control of Chagas' disease in the State of São Paulo. (Mem. Inst, Oswaldo Cruz, 79 (supl.): 125-132, 1984). Nesse contexto merecem destacada atenção as modalidades alternativas de transmissão do T. cruri, porquanto diante do arrefecimento da veiculação através de triatomíneos elas contribuem efetivamente para o surgimentode novos acometimentos, devendo por isso haver, com rapidez e objetividade, proposição de propostas profiláticas pertinentes. Por isso, o Instituto de Medicina Tropical de São Paulo decidiu promover "Reunião sobre prevenção referente às modalidades alternativas de transmissão do Trypanosoma cruri", com a finalidade de apontar condutas atualmente tidas como recomendáveis, conforme explanações a cargo de alguns convidados capacitados a cooperar efetivamente. Fomos os organizadores do evento, realizado no dia 16 de outubro de 1998 e apoiado pelo Departamento de Higiene e Medicina Tropical da Associação Paulista de Medicina, pela Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, pela Sociedade Médica Ítalo-Brasileira e pela Sociedade Paulista de Infectologia. As opiniões emitidas estão nesta coletânea, sempre respaldadas em pontos-de-vista pessoais, justificativas e bibliografia. Representam, se pelo menos suceder valorização do conjunto, contribuição realística para adoção de ações coibitórias a respeito de componentes alternativos, antes erroneamente sob determinados itens rotulados como excepcionais, atuantes na disseminação da doença de Chagas.