Estamos mais preocupados em compreender a normalidade, em fixar o seu conceito, do que propriamente em definí-la. Em sua essência complexo, o problema seria prejudicado por uma definição que procurasse fixá-lo em palavras, desde que se trata, na realidade, de um conceito essencialmente dinâmico. Nessas condições, a definição não auxiliaria em nada a compreensão do assunto. 0 que importa sobre tudo é o conhecimento dos fatores a tomar em consideração quando falamos em normalidade, pois deles depende a limitação do conceito e a base de qualquer tentativa definidora.A etimologia da palavra não nos traz qualquer auxílio: normalidade vem do grego norma, que significa medida, com a acepção de perfeição, de máximo, de protótipo, que não corresponde ao uso atual da palavra.Por enquanto, deve ficar estabelecido o caráter relativo da normalidade, que nada tem de único e universal; o conceito em si representa uma série de realidades contingentes que o fazem mudar de aspecto, adquirir várias formas e acepções, conforme o ângulo pelo qual o encaramos. Em relação ao homem, distinguimos um aspecto orgânico, um aspecto fisiológico, e um aspecto psicológico da normalidade; é este último que nos interessa no momento, embora os três aspectos guardem relações entre si.A variedade dos critérios com que tem sido abordado o problema da normalidade psicológica serve principalmente para indicar a sua complexidade, sem oferecer uma orientação realmente útil que nos permita compreender a normalidade e diagnosticá-la, o que é, às vezes, tarefa do psiquiatra.Seu caráter dinâmico e a elasticidade dos seus limites explicam em grande parte as dificuldades com que tropeçam os que tentam definí-la e delimitá-la de maneira concreta e categórica. Chega-se à conclusão de que não é possível situar a normalidade em um ponto fixo, em um nível constante, em uma medida matemática, mas que, ao contrário, temos que aceitar uma ampla zona com várias faixas de diferentes tonalidades. Dois indiví-duos podem apresentar estruturas psicológicas que não permitem uma superposição, e nem por isso deixarão de merecer o diagnóstico de normalidade. Estamos nos recordando no momento de uma senhora que nos trouxe o filho de 18 anos para observação psicológica, com o seguinte preâmbulo: "Eu mesma não sei se meu filho precisa de tratamento, mas achei prudente trazê-lo para ouvir a sua opinião, porque êle é diferente do irmão, e eu
Ao século XX coube a honra de presenciar a origem do movimento, que veio a ser conhecido com o nome de Psiquiatria infantil.Não quer isso dizer que os problemas que integram o campo da nova especialidade não existissem anteriormente.Existiam e estavam sem solução. A chamada anorexia nervosa das crianças desafiava o esfôrço dos pediatras e zombava dos aperitivos e demais truques, que o bom senso ditava nos diferentes casos. Os tratamentos habituais costumavam falhar ante o problema da enurese noturna de muitas crianças. E a história dos tiques escrevia novas e novas folhas, apesar das medidas educacionais postas em prática. Se os problemas de comportamento deixavam pensativos os pediatras, mais adiante lançavam em desespêro as professoras, que não podiam compreender, nem mesmo queriam admitir, a falência dos seus processos. Os repetentes crô-nicos adolesciam nos bancos das escolas. Os indisciplinados de todos os tipos, os tiranos, os rebeldes, constituíam o terror dos mestres e teimavam em desviar-se do bom caminho, apesar de esgotados todos os recursos pedagógi-cos. Os tímidos, os deprimidos, êsses, ao menos, ficavam quietos e não perturbavam o silêncio relativo, necessário a que se transmitissem as noções constantes dos programas. De outro lado, o problema da delinqüência infantil traçava a suá curva ascendente, para atingir cifras alarmantes em nossos dias. O simples isolamento nas prisões e casas de correção não podia satisfazer, porque a experiência demonstrava que pouquíssimos elementos conseguiam regenerar-se, quando tratados dêsse modo.Ainda que importante fôssem essas questões e clamassem por uma solução urgente, elas não puderam ser convenientemente ventiladas e esclarecidas, senão hodiernamente.A história da evolução cultural do homem demonstra, a cada passo, que os conceitos, por mais originais que pareçam, não surgem espontâneamente.Para que uma nova disciplina se organize e possa merecer o seu lugar de honra entre os diferentes ramos do conhecimento humano, faz-se necessário um certo estado de cristalização dos conhecimentos básicos, solicitados de especialidades afins. Assim aconteceu com a Psiquiatria infantil.Foi em nosso século que a Pediatria atingiu a maturidade suficiente, para reconhecer que a criança não é um adulto em miniatura. Êsse conceito significou uma revisão de todos os assuntos médicos no que diz respeito à criança. A Psiquiatria contemporânea, dentro da sua nova orientação psicológica, começou a verificar que as tendências, que leva dependência e às desordens mentais, freqüentemente se constituem desde a mais tenra infância. Se assim demonstravam as histórias clínicas, do mesmo modo postulava a Psicanálise, que não apenas elevou o instinto sexual ao nível de preocupação e estudo científico, como focalizou os conflitos infantis, que mostrou serem responsáveis por grande número de futuros desequilíbrios e dificuldades de tôda a ordem. Palestra realizada na sede do Instituto Brasil-Estados Unidos. * Docente da Fac. Med. Univ. Brasil (Rio de Janeiro). Diretora do Sanatório Tijuca.
INTRODUÇÃO. REVISÃO DA LITERATURAAsma é síndromo mais que doença, quer dizer, é conjunto de sintomas que respeita etiologias múltiplas. Assim, temos a asma renal, a asma cardíaca, a asma tímica, e outros estados dispneicos,aos quais se aplica o têrmo vagamente. Conhecida desde a mais remota antigüidade (do grego, "eu sufoco"), a asma teve o seu conceito modificado à medida que evoluiu o pensamento médico. No século XVIII, sob influência dos ingleses (Willis, Brée, Floyer 1 ), a palavra asma passou a designar o acesso de dispnéia acompanhada de respiração entrecortada, isto é, a antiga asma convulsiva.Laennec descreveu o enfisema pulmonar e a perturbação secretória da mucosa brônquica que integram o síndromo asmático, e atribuiu a asma a um espasmo nervoso da musculatura brônquica.No século XX, ao passo que Wintrich procura explicar a asma brônquica por um espasmo do diafragma, von Leyden traz novos dados para confirmar a hipótese de que os transtornos secretores da mucosa brônquica constituem o elemento primordial.
" A psiquiatria não é apenas uma ciência médica, mas também de natureza social. Como psiquiatras, conhecemos o efeito prejudicial de certos fatores mesológicos, sobre a saúde mental. Sabemos, por exemplo, que os preconceitos sociais, o desemprego forçado, a falta de tetos, que garantam a estabilidade do grupo familial, são incontestável mente causas de neuroses sociais". Deste modo, o Dr. William Menninger, um dos mais destacados psiquiatras da nossa geração, eleito recentemente presidente da American Psychiatric Association, presidente da American Psychoanalytical Association, que ocupou durante a guerra o cargo de Chefe da Divisão Neuropsiquiátrica do Exército Americano, define a orientação que deve ser adotada pela psiquiatria no momento atual, caraterizado por uma situação geral de insegurança econômica, política e pessoal, reliquat da última conflagração mundial." A civilização libertou-se da ameaça das infecções epidêmicas. A humanidade aprendeu a eliminar o espaço e a destruir exércitos. Mas ainda não aprendemos a compreender os nossos semelhantes, de tal modo que a psiquiatria não está habilitada a apresentar ao mundo, cheio de ansiedades e de dúvidas, uma terapêutica satisfatória para os seus profundos desajustamentos. Uma das dificuldades a encarar é a falta de psiquiatras. A experiência da guerra passada ensinou que existem muito mais psicóticos e neuróticos do que se poderia imaginar; por exemplo, no exército americano, 12% dos convocados foram rejeitados por apresentarem distúrbios mentais. Outra lição aprendida nos campos de batalha estabelece que qualquer indivíduo, por mais calmo e equilibrado que pareça, pode apresentar uma reação de tipo anormal, se submetido a condições emocionais suficientemente desfavoráveis ". " A lição da guerra, aplicada ao mundo atual, desperta receios justificados sobre o destino do nosso homem. Nossas condições de vida, caraterizadas por dificuldades de toda a ordem, despertam profundas ansiedades e angústias, que se exprimem nos altos coeficientes de divórcio, de desintegVação da família, em criminalidade, e nos mais variados tipos de desajustamente Uma idéia aproximada da gravidade do problema que se apresenta à psiquiatria nos é dada pela estimativa da American Psychiatric Associaton, que calcula existirem nos Estados Unidos, atualmente, 8 a 9 milhões de doentes psicóticos e neuróticos. Para fazer face a esta enorme população infeliz, a nação americana dispõe apenas de 4 mil especialistas ".Recebido para publicação em 12 junho 1947. * Docente na Fac. Med. Univ. Brasil (Rio de Janeiro). Diretora do Sanatório Tijuca.
Em 1929, Osborne e Neymann 1 , comparando os métodos empregados no tratamento da paralisia geral, concluíram que, em todos, os resultados favoráveis dependiam de um mesmo fator: a hiperpirexia. Certos de que os meios físicos também são capazes de determinar o aumento da temperatura corporal, esses autores utilizaram a diatermia e as suas experiências iniciais foram feitas no Cook County Psychopathic Hospital; o dispositivo usado consistia num aparelho comum de diatermia, acrescido de dois electródios largos, aplicados no dorso e na face anterior do tórax e abdome do paciente, variando a intensidade da corrente empregada entre 3.000 a 4.C00 miliampéres. Obtida a temperatura ótima desejada (em torno de 40 graus), era ela mantida durante uma média de 5 a 8 horas, , 56:199-203, 1929. Neymann, C. A. e Osborne, S. "L. -A new method of Droducing fever in the treatment of general paresis. Physiother Rev., 11:47-50. 1931.Neymann, C. A. e Osborne, S. L. -The treatment of dementia paralytica with hyperpyrexie produced by diathermy. J A. M. A., 96:7-13, 1931. do Sodocu), num total de 150 paralíticos gerais distribuídos em 3 grupos de 50, de tal modo que os casos de um grupo fossem comparáveis aos dos outros, no que diz respeito à gravidade do processo e, portanto, ao prognóstico. Os resultados obtidos foram os seguintes: com a inoculação do vírus do Sodocu, 8% de remissões completas, 22% de melhoras, 24% estacionárias, 36% de pioras e 10% de mortes; com a malária, 22% de remissões completas, 22% de melhoras,26% de estacionários, 12% de pioras e 18% de mortes; com a diatermia, 24% de remissões completas, 26% de melhoras, 30% de estacionários, 20% de pioras e 0% de mortes. Devemos acrescentar em favor da diatermia que, entre os pacientes submetidos a esse processo, estavam os portadores de arteriosclerose, de cardiopatias avançadas, diabetes, e os enfermos mais idosos, por constituírem casos nos quais a malária estava contra-indicada. Em março de 1932, Wagner von Jauregg, o criador da malarioterapia, num artigo publicado no Wiener Medizinisch Wochenschrifft, se refere entusiásticamente à eletropirexia pelas correntes de alta freqüên-cia de ondas curtas. A técnica consistia em obter a elevação da temperatura corporal, durante 60 a 80 minutos, por meio da aplicação da diatermia de ondas curtas; em seguida, era ela mantida durante 7 horas, por meio de dispositivos especiais, que se opunham à irradiação térmica. A vantagem desse processo era a de dispensar o contacto entre os electródios e o corpo do paciente, permitindo, portanto, maior liberdade de movimentos. Dois anos mais tardeEstatísticas mais recentes 2 que reúnem experiências de vários autores, permitem concluir que, nas formas leves ou intermediárias da paralisia geral, os resultados da malarioterapia e da febre artificial se equivalem; nos casos graves, porém, as remissões foram verificadas em 10% dos casos submetidos à eletropirexia, enquanto que a malarioterapia apenas ofereceu 1 % ; em relação ao número de mortes, a percentagem é favorável à eletropirexia (8%),...
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