Que imagem de escritor se pode deduzir dessa estranha compulsão à ubiquidade? A de um autor de culto? Um autor para consumidores selvagens de histórias? Um autor para vanguardistas? Um autor para aprendizes de escritores? (PAULS, 2012, p. 169
ResumoEste artigo buscará pensar de que maneira a literatura brasileira aparece na corrida para fazer parte de uma literatura-mundo. A partir da imposição mesma de uma economia pensada numa relação de mundo presente no vocábulo globalização, a proposição de Goethe de uma literatura mundial passa a ser o ponto de partida para o estudo dessa inserção. Observou-se que reservar um lugar periférico dentro do pecúlio comum do mundo às literaturas da América Latina não é suficiente para incluí-la no discurso do "mundial" e muito menos para efetivar o que Spivak chama de "uma competição limpa". Ainda mais especificamente, interessa pensar o caso do Brasil dentro da América Latina, sua posição ainda mais periférica em relação à inserção na literatura-mundo, e que tem, no entanto, outras ressonâncias a partir dos estudos de Franco Moretti e das novas publicações de Machado de Assis nos Estados Unidos, que deram visibilidade à crítica brasileira que aborda essas questões.Palavras-chave: literatura mundial, literatura brasileira, América Latina.
AbstractThis article analyzes where Brazilian literature stands in the race to be part of world literature. From the very imposition of an economy conceived of in a global relationship, manifest in the word globalization, Goethe"s proposition of a world literature is the starting point for the study of Brazilian literature"s standing within this sphere.
Este artigo propõe uma reflexão sobre o que seria o contemporâneo em diálogo com o moderno numa aproximação entre arte e literatura a partir de três textos que tratam da questão: Espectáculos de Realidad — Ensaios sobre la narrativa latinoamericana de las últimas dos décadas; Sobre a arte contemporânea e Zum, zum, zum: estudo sobre o nome contemporâneo. Três vozes atuais, uma que se enuncia a partir da França, mas que coloca num lugar central o “momento americano” — a de Ruffel; e duas latino-americanas — as de Reinaldo Laddaga e de César Aira. Três ensaios importantes para pensar a dificuldade de nomear a produção do presente e que permitem continuar uma discussão modernista que permanece em aberto no contemporâneo.
Resumo O presente texto parte de duas críticas à centralidade do projeto modernista brasileiro, externadas uma, a de Franklin Távora, na ocasião da comemoração dos 70 anos da Semana de Arte Moderna de 22, e outra, a de Luís Augusto Fischer, em Duas formações, uma história: das ideias fora do lugar ao perspectivismo ameríndio, por ocasião das comemorações do centenário, neste ano de 2022. O livro de Fischer não trata propriamente do centenário, mas se organiza a partir da crítica da constituição da Semana de Arte Moderna como marco zero e inultrapassável de nossa modernidade, que obliteraria outros modos possíveis para pensar de maneira diversa da atual a história da literatura brasileira. O artigo responde às duas críticas com alguns exemplos de releituras de Mário e de Oswald de Andrade que mostram como seus trabalhos ainda reverberam (por suas falhas e por seus acertos) na literatura e na arte contemporâneas.
Resumo É conhecida a imagem de Arlt morto, seu caixão sendo retirado pela janela de um quarto de um prédio pobre de Buenos Aires. Um corpo tão grande, um caixão tão grande, que as escadarias não suportam sua passagem. É conhecida também a assinatura dessa imagem: Ricardo Piglia. E é a partir dela que Roberto Bolaño, em “Derivas de la pesada”, associa Arlt a Jesus Cristo e Piglia a São Paulo: “Arlt teve seu São Paulo. O São Paulo de Arlt, o fundador de sua igreja, é Ricardo Piglia”. O presente texto quer explorar a sobreposição dessas figuras, como naqueles álbuns fotográficos que existiam antes do cinema “cujas imagens, rapidamente viradas pelo polegar, mostravam ao espectador lutas de boxe ou partidas de tênis”, dos quais falava Benjamin no conhecido ensaio “A obra de arte na época de sua reprodutibilidade técnica”. Essa exploração deve permitir pensar o efeito de leitura que esses “últimos leitores” alcançam na produção e disseminação de imagens de seus autores prediletos. Uma coleção escrita que conta diferentes versões de mitos habilmente forjados.
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