El imitador o plagiario es un inocente abstemio de las comillas transcriptivas. Macedonio FernándezCada vez tem se tornado mais comum autores contemporâneos referirem-se a suas próprias obras como um trabalho de curadoria. Em uma entrevista recente, Ben Lerner, autor americano que acaba de ter seu primeiro romance, Estação Atocha, traduzido para o português, diz isso com todas as letras: "Eu penso o romance como um tipo de curadoria" (2015). Afirmação muito semelhante foi feita por Cristiane Costa (2014a), autora de Sujeito oculto, livro que gostaria de comentar mais detidamente: "Vejo a autoria como uma curadoria". 2 No entanto, o que significa pensar a escrita do romance como um ato de curadoria? Se pensarmos na figura do curador de arte, podemos imaginar que sua tarefa ao montar uma mostra ou cuidar de uma exposição diz respeito à organização de um corpus produzido por um artista cujo produto é a elaboração de uma narrativa sobre o próprio artista e sua obra. Cada vez mais, no universo das artes plásticas, a figura do curador tem se aproximado a de uma assinatura que implica uma renovação na maneira de apresentar o artista que é cuidado pelo olhar do curador.Como isso poderia funcionar para a literatura? Kenneth Goldsmith, professor da universidade da Pensilvânia, tem defendido cada vez com maior veemência a ideia de que os "escritores estão se tornando curadores da linguagem e fazendo um movimento similar à emergência do curador como artista nas artes virtuais" (2015). Goldsmith ministrou durante alguns semestres um curso que ele mesmo chamou de "Escrita não criativa" e que consistia em estimular seus alunos a investigarem técnicas de apropriação de obras alheias. A escrita não criativa consiste, assim, em um procedimento de recortar e colar, uma espécie de sampling de obras diversas que derivam em um outro produto.
Me gustaría escribir como Balzac, sí. Pero, bueno, me sale como Aira.Em um dos capítulos de O livro agreste, que reúne ensaios produzidos a partir de suas aulas de Literatura Brasileira, Abel B. Baptista está interessado em analisar a fi guração da autoria a partir da análise dos capítulos iniciais de São Bernardo, de Graciliano Ramos.A determinação de Paulo Honório em "pôr o nome na capa" do livro que pretende escrever, valendo-se da divisão do trabalho, tem rentabilidade para a investigação do estatuto da condição moderna da autoria. Que signifi ca colocar o "nome na capa"?, pergunta-se o crítico.Embora reconheçamos a imensa curva desviante que a citação ao autor brasileiro representa no contexto de um ensaio que pretende comentar o argentino César Aira, acreditamos que a instigante pergunta pode servir de mote para o início de nossa refl exão. Insistindo no pressuposto de que a divisão do trabalho proposta por Paulo Honório para a escrita do livro e o fracasso precoce dessa empreitada torna explícita a impossibilidade de "autor e livro se disporem numa mesma linha de continuidade" (Baptista, 2005, p. 135), já que a suposta autobiografi a de Paulo Honório, os fatos que tem a contar, uma vez contados por outros, fraudariam "a autenticidade da assinatura do próprio livro" (id, ibid.), Abel B. Baptista enfatiza a dissociação entre livro e vida, a desconstrução da ideia de obra como "demonstração demorada e sufi ciente da autenticidade da assinatura" (id, ibid.) realçando o paradoxo inevitável: "o lugar da assinatura não chega a ter lugar" (id, ibid.).O comentário adicional de Abel B. Baptista sobre o fato de que a decisão de Paulo Honório de assinar-se com um pseudônimo faz da assinatura um não-lugar ou uma não-assinatura é instigante para pensar algumas estratégias contemporâneas. Acredito ser possível desencavar na cena contemporânea inúmeros exemplos capazes de ratifi car uma dissociação entre assinatura e obra, entre estratégias de autofi guração autoral
Considerando o momento inaugural do gênero romanesco e o hibridismo de formas contemporâneas que acolhem gêneros não literários como matéria das narrativas (ensaio, diário e anotações), este artigo objetiva investigar a ideia do romance sem ficção, nomenclatura presente em publicações literárias recentes (De Ville; Cercas), para refletir sobre a dissociação entre a ideia moderna de literatura e o conceito de ficção. Em um comentário sobre El material humano de Rodrigo Rey Rosa, a reflexão explora a relação entre o uso da primeira pessoa (cuja voz é confundida com o autor) e a forma da narrativa, que parece um conjunto de anotações para uma produção futura, a fim de testar a hipótese de que a invasão atual das narrativas pela não-literatura supõe uma cena de escrita em que se expõe processualmente o sujeito que se conta e a elaboração do que se narra, provocando uma mudança no estatuto do que hoje entendemos por literário.
O ensaio tem como principal objetivo refletir sobre a relação entre a literatura e o documento. Se por um lado podemos identificar um interesse teórico por essa relação e um incremento de uma nomenclatura que tenta captura esse impulso, como a ideia de narrações documentais (RUFFEL, 2012), factografias (ZENETTI, 2011) ou ainda o que Paula Klein (2019) chama de uma poética de arquivos, também é possível identificar que nos últimos anos muitas obras incorporam fotos, materiais de arquivo e anotações do processo de escrita para construir narrativas que põem em xeque seu estatuto ficcional, embora nem sempre essas obras repudiem a chancela do gênero romance. Nesse sentido, me interessa resgatar o argumento principal desenvolvido por Flora Sussekind em Tal Brasil, qual Romance (1984) para pensar o que poderia ser considerada uma outra guinada documental da literatura contemporânea. Sussekind afirma que a insistência cíclica da literatura brasileira em uma estética naturalista (mais que realista) faz com que as obras neguem sua própria construção enquanto linguagem, pois tomam como paradigma a objetividade e a veracidade que o documento pode garantir à ficção. Se é verdade que desde o início do século XXI podemos falar de uma “fome de real” (SHIELDS, 2010), o ensaio quer investigar como a utilização de dados factuais (como reprodução de processos jurídicos e reportagens) pode ter muitas nuances. Por um lado, pode servir, sim, para revigorar uma tradição realista que valoriza o mimetismo da ficção em relação ao real, utilizando o documento como prova, mas também é possível arriscar que a tensão criada pela apropriação de fontes documentais por muitas narrativas contemporâneas pode indiciar uma tentativa de redefinir o valor e novas fronteiras para o que entendemos como ficção. Para discutir melhor esse pressuposto, tomaremos para análise Mulheres Empilhadas (2019) de Patrícia Melo e Garotas Mortas (2014) de Selva Almada.
Resumo: O ensaio pretende acompanhar a construção da assinatura de Marcelo Mirisola, comentando alguns aspectos de seu repertório ficcional apostando na hipótese de que o cinismo que se cola à construção da identidade autoral é um impasse à transformação de sua assinatura, de seu nome de autor. A partir de Joana a contragosto o autor tenta um turning point através da metaficcionalização de sua própria condição como escritor no cenário literário contemporâneo expondo as aporias de inscrição de uma marca de autoria. Tal como disse Ricardo Lísias no comentário que fez à Joana, a Contragosto, é possível capturar um movimento de deslocamento da voz autoral na direção de uma dicção mais melancólica e que põe a descoberto as estratégias de ficcionalização da própria figura autoral nas narrativas, as imagens de escritor tematizadas na ficção. Nesse sentido, então, o presente ensaio pretende tentar capturar elementos recorrentes nas narrativas, laboriosamente reiterados que apontam para a consolidação de uma obra e por outro lado, quando metaficcionalizados, indicam a exaustão e a aporia de uma voz narrativa já confirmada. Palavras-chave: assinatura; campo literário; Marcelo Mirisola. Between kludges and displacements: signed Marcelo MirisolaAbstract: This essay aims to trace the construction of the «signature» of Marcelo Mirisola, commenting on some aspects of his fictional repertoire and focusing on the hypothesis that the cynicism attached to the process of construction of this authorial identity is an obstacle to the transformation of his «signature», his name as an author. From Joana a Contragosto onward, the author has been attempting a turning point by metafictionalizing his own condition as a writer in the contemporary literary scene, exposing the paradoxes of the inscription of a mark of authorship. In this sense, then, this essay aims to capture recurring elements in the author's narratives that, on the one hand, by way of their laborious repetition, indicate the consolidation of a work and, on the other hand, when metafictionalized, indicate both the exhaustion and the aporia of a narrative voice already confirmed.
A teorização sobre a mímesis, e também o que mais tarde viríamos a chamar de literatura, nasce sob o signo da desconfiança do olhar do filósofo. Assim, tomando como ponto de partida uma breve reflexão sobre a noção de verossimilhança a partir de passagens dos clássicos como A República de Platão e Poética de Aristóteles, o ensaio comenta o romance Las conversaciones (2007) de César Aira com o objetivo de analisar por meio da obra do autor argentino a continuação do diálogo entre a ficção e a filosofia. Apostamos, então, que se a remissão metaficcional, presente em muitas das obras do autor argentino, e muito comum à sua assinatura como escritor, pode constituir parte de um projeto literário, também é oportunidade para a reflexão mais ampla sobre o modo de funcionamento da literatura, sobre as relações com o realismo e o elogio dos mundos imaginados pela ficção.
Resumo: Identificando no romance A hora da estrela, de Clarice Lispector, a problematização da questão da representação do Outro, marca importante da tradição literária brasileira, o ensaio levanta a hipótese de a literatura contemporânea deslocar- se do paradigma da representação para o da performance construída sobre um precário equilíbrio entre a crítica e a reiteração de muitos preconceitos e estereótipos, desestabilização para a qual já acena o romance publicado em 1977. A ambigüidade da performance desdobra a questão da representação do Outro e abre um capítulo novo nos embates sobre o papel do escritor e da literatura.Palavras-chave: performance; representação; literatura contemporânea.Abstract: Identifying in Clarice Lispector’s novel A Hora da Estrela the discussion about the representation of the other, an important mark in the Brazilian literary tradition, the essay raises the hypothesis that contemporary literature dislocates the paradigm of representation to that of a performance constructed on a precarious balance between criticism and the reiteration of many preconceptions, to which the novel published in 1977 points. The ambiguity of the performance unfolds the question of the representation of the other and opens a new chapter by addressing the role of the writer and of literature.Keywords: performance; representation; contemporary literature.
ensaio tem como principal objetivo discutir a noção de autorrepresentação em produções da literatura brasileira recente. Tomando como fundamento teórico os estudos propostos por bell hooks em seu livro Olhares negros: raça e representação (2019) e as discussões empreendidas por Souza (2010), Rankine (2019), Gonçalves (2018), pretendemos discutir e analisar o posicionamento afirmativo cada vez mais recorrente na literatura brasileira por parte dos escritores afrodescendentes que buscam marcar um lugar de presença, por meio de diferentes recursos literários, para questionar os estereótipos que, por muito tempo, estiveram presentes no discurso literário brasileiro. Assim, pretende-se refletir sobre o elo entre o autor, sua etnia e seu projeto literário, caracterizando melhor diferentes estratégias de “autorrepresentação” do negro em três contos de autores negros da literatura contemporânea brasileira: “Metal-Metal” de Cidinha da Silva (2019), “Espiral” de Geovani Martins (2018) e “Elevador a serviço” de Cristiane Sobral (2016).}
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