RESUMO: O conceito de memes surgiu em 1976 com Richard Dawkins, como um análogo cultural dos genes. Deveria ser possível estudar a cultura através do processo de evolução por seleção natural de memes, ou seja, de comportamentos, ideias e conceitos. O filósofo Daniel Dennett utilizou tal conceito como central em sua teoria da consciência e pela primeira vez divulgou para o grande público a possibilidade de uma ciência dos memes chamada "memética". A pesquisadora Susan Blackmore (1999) foi quem mais se aproximou de uma defesa completa de tal teoria. No entanto, a memética sofreu pesadas críticas e ainda não se constituiu como uma ciência, com métodos e uma base empírica bem definida. O presente trabalho visa não apenas a apresentar de forma simples a memética, a partir de seus fundamentos conceituais, mas também levantar alguns de seus problemas, em especial problemas conceituais que impedem o desenvolvimento empírico da mesma. Com base em uma crítica de como a memética foi exposta por uma de suas principais defensoras, Susan Blackmore, será feita uma nova aproximação à ciência dos memes, onde esta teria o papel de "cola conceitual" entre as diversas áreas que estudam a cultura e seu desenvolvimento. Essa nova aproximação daria o fundamento empírico à memética, que falta nas análises de Blackmore, permitindo assim que ela se desenvolva propriamente. PALAVRAS-CHAVE:
Chalmers e Dennett se encontram em lados opostos da discussão do problema da consciência. Para Chalmers, ela é um dado indubitável que não pode ser explicada em termos de outra coisa. Para Dennett, o que existe verdadeiramente são múltiplos julgamentos sobre nossa consciência. Cada um acusa o outro de circularidade. Isto só é possível porque a diferença entre estas duas teorias é verdadeiramente uma diferença de princípios. A mesma oposição que encontramos no aparato teórico encontramos também em suas pressuposições mais básicas e fundamentais. Este fato torna extremamente difícil escolher entre as duas ao mesmo tempo em que radicaliza a diferença entre elas. De um lado temos que argumentos podem refutar intuições, de outro temos que é preciso primeiro sondar nossas intuições para depois criar argumentos a partir delas. Entre um extremo e outro nos encontramos com o velho dilema de "o que vem primeiro?". No entanto, mais importante do que escolher lados é mostrar o quanto é difícil escolher.
Na década de 90 foi descoberto que neurônios específicos de áreas motoras do cérebro eram capazes de responder quando a mesma ação que ele executava era percebida visualmente. Estes neurônios ficaram conhecidos como neurônios-espelho, sendo a base da nossa capacidade de imitar. Tais neurônios podem ser também a base da nossa compreensão, nossa capacidade de aprender e da empatia. Eles seriam capazes de um tipo de compreensão imediata, sem a necessidade de passar por qualquer tipo de controle central do cérebro. Há aí indicações favoráveis para a crítica ao Teatro Cartesiano feita por Dennett. Ao contrário do que a psicologia popular e o representacionalismo nos apresentam, é possível que em determinadas áreas do cérebro não exista separação nenhuma entre realizar uma ação e pensar sobre esta ação. Esta última seria apenas a ação inibida. Pretende-se no presente trabalho apresentar esta nova descoberta e indicar algumas de suas possíveis consequências para a Filosofia da Mente, em especial para a noção de representação mental.
■ RESUMO: O Argumento dos Zumbis proposto por Chalmers, ao contrário de defender o dualismo, bane as qualia para um "mundo" onde elas não podem influenciar o julgamento que fazemos sobre nós mesmos. Por este motivo, pelo próprio argumento, podemos ser um zumbi e não saber. A isso Chalmers chamou de The Paradox of Phenomenal Judgment. O problema é que ele aceita tal paradoxo como parte de sua própria teoria. No entanto, este movimento filosófico não é aceitável e este paradoxo mina a teoria de Chalmers por dentro mostrando que o argumento dos zumbis é, na verdade, um argumento contra o dualismo. Chalmers tenta resolver este problema com uma série de argumentos que tem como base o fato de que a consciência é um bruto explanandum indubitável. No entanto, tal tentativa fracassa por uma série de razões que mostram que mesmo se ele estivesse correto, ainda poderíamos ser um zumbi e não saber.
Abstract:From its early origins, skepticism has been the target of much criticism and attempts of refutation. One of the oldest, most recurring criticism is that the skeptic would be unable to act since, to do so, some measure of beliefs are necessary, and a skeptic is supposed to suspend judgment on all beliefs.The most common reply to this challenge is that the skeptic suspends judgment only as far as scientific or philosophic dogmas are concerned, yet preserving common-sense beliefs. This is not a satisfactory reply, for it relies on an insulation that is not actually found in the skeptic texts. A better reply is possible, however. After an exposition of Aenesidemus's tropes, I intend to develop an interpretation of Sextus Empiricus according to which his beliefs would be based only on appearances, without recourse to judgments on them. A radical skepticism can thus be preserved, together with the capacity for acting.Keywords: Skepticism; Sextus Empiricus; tropes; beliefs; dogma; appearance. Resumo: Desde a sua origem o ceticismo tem enfrentado inúmeras críticas e tentativas de refutação.Uma das críticas mais antigas e recorrentes é que o cético não poderia agir porque para agir são necessárias crenças e um cético suspende o seu juízo sobre todas as crenças. A resposta mais comum para este desafio é que o cético suspende seu juízo só em relação aos dogmas científicos/ filosóficos, preservando, assim, as crenças do senso comum. Mas tal resposta não é satisfatória, pois indica um insulamento que não encontramos nos textos céticos. No entanto, uma resposta é possível, e após um exposição dos tropos de Enesidemos, pretendo desenvolver uma interpretação de Sexto Empírico onde suas crenças seriam baseadas só na aparência sem que seja feito um juízo sobre tais aparências.Assim um ceticismo radical preservando a capacidade de agir ainda seria possível. Palavras
Abstract.Since it was first proposed, Memetics had to deal with a variety of criticism. This article discusses two of them, namely, the problem of meme unit and the problem of meme ontology. In both cases the answer to the type of problem raised will follow the same reasoning: to show that much of the criticism could also be made to evolutionary biology, especially in its origins, and show that finished answers are not necessary to allow us to develop research in memetics.Keywords: Memetics; meme unit; meme ontology; Richard Dawkins; Philosophy of Biology.A tentativa de desenvolver uma ciência dos memes, a memética, comumente esbarra em uma série de problemas conceituais e epistemológicos não solucionados que se não impendem ao menos desestimulam o seu desenvolvimento. Muitas críticas podem ser levantadas, mas seria impossível tratá-las todas aqui. Tendo isso em vista, o presente trabalho visa apresentar e discutir duas destas críticas, que foram escolhidas por estarem entre as críticas mais comuns que são apresentadas, a saber: o problema da unidade dos memes e o problema ontológico. Outras críticas foram tratadas em outros textos, que serão referenciados no decorrer deste artigo, e também em tese acadêmica. Pretende-se, então, apresentar estes dois problemas e sugerir não só uma possível resposta, mas principalmente, indicar que a memética pode ser desenvolvida independente de termos uma resposta definitiva para estas questões.Foi para deixar mais intuitiva a idéia de que a evolução independe do substrato que Dawkins criou, no último capítulo de seu livro O Gene Egoísta, o conceito de meme. Um meme pode ser compreendido como uma unidade de cultura, um comportamento ou uma idéia que pode ser passado de pessoa para pessoa através da imitação. Existe uma grande discussão sobre se os memes podem ser passados só por imitação ou se podem ser passados por outras formas de aprendizado social. Mas o importante é que eles são copiados de indivíduo para indivíduo. Ele seria o que Dawkins (2001, p.215) chamou de "replicador" e "sempre que surgirem condições nas quais um novo tipo de replicador possa fazer cópias de si mesmo, os próprios replicadores tenderão a dominar". Deste modo, o meme é o análogo cultural do gene. Mas o filósofo da biologia David Hull (2000, p.46) nos diz que não devemos pensar na seleção memética como análoga à seleção genética e sim que as duas formas de seleção são exemplos de um conceito mais fundamental de seleção.Principia 20(2): 239-254 (2016).
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