Neste artigo procuro contribuir para a área do conhecimento autoetnográfico dentro da linguística aplicada, narrando fatos da minha experiência como linguista autoetnográfo no estudo da estilização de si nos aplicativos de pegação. Mais especificamente, descrevo minha recepção corpórea de cantadas e injúrias dentro do campo e proponho que linguagem deve ser entendida pelo que faz (aspecto performativo) e não pelo que diz (aspecto semântico). Dialogando com filósofos comoMichel Foucault, John Austin e Judith Butler, proponho ser o corpo do pesquisador – o receptor da linguagem – lócus de produção de inteligibilidade sobre o mundo em que estamos imersos. Discuto a relevância da reflexão linguística na composição de um estilo autoetnográfico, assim como a relação contemporânea do aparelho celular com o nosso corpo. Inspirado pelos escritos de Spinoza, argumento pela compreensão do campo como um conjunto de forças afetivas – dentre as quais faz parte a linguagem –, por meio das quais podemos aprender e apreender o mundo, e pela resignificação da metáfora de “entrada no campo” como responsabilidade decolonial. Finalmente, discuto a presença do pesquisador no campo como produtor de afeto sensual e como experienciador de injúrias linguísticas, explorando a potencialidade dessas experiências para o conhecimento linguístico-etnográfico.
Da reflexão acerca de uma ferramenta analítica prática para analistas do discurso interessados em afeto, surgiu o gatilho afetivo do discurso. Esse artigo, por sua vez, surge da necessidade de explicar e expandir o conceito gatilho afetivo proposto em Bonfante (2018), assim como localizar esse instrumental analítico dentro da indexicalidade. Para ilustrar a operacionalização do conceito em uma análise, o artigo se lança à observação das performances online dos cash master e cash slave, prática sexual pública no Twitter intermediada pela plataforma e pela linguagem. O artigo também fornece exemplos do que se faz com a linguagem em contextos sensuais na sociedade de plataforma. Entre as conclusões, está a sugestão de que estudos afetivos da linguagem online podem lucrar eticamente de uma crítica ao neoliberalismo.
Este artigo tem como objetivo discutir como uma sequência imagética compartilhada em grupos de WhatsApp para performance de desejo bareback ressemantizaria o ânus masculino como um órgão feminino. Essa sequência, assim como a breve interação que suscita no referido grupo, será objeto de análise. Partimos da ideia de que a sequência em questão, que se vale de um neologismo (cuceta) para operar tal ressemantização, desestabiliza o sistema de classificação de gênero e promove uma re-inscrição do corpo nas políticas do desejo, as quais teriam o poder de reconfigurar o corpo anatômico e recriá-lo semioticamente. O potencial desestabilizador tanto do corpo como do repertório social imagético que as imagens da cuceta incitam parece fundar um espaço simbólico para discutir a performatividade das imagens, ou seja, sua potência agentiva, transformativa e, quiçá, revolucionária. Com base em teorizações de Austin (1990 [1962]), Derrida (1988 [1972]) e Butler (2007 [1990]), este texto, que adota a etnografia semiótica como metodologia, pretende contribuir para o campo dos estudos de gênero e imagem com uma análise da circulação e recepção da sequência imagética referenciada. Como principal instrumento analítico, empregamos a indexicalidade (SILVERSTEIN, 2003). Os resultados sugerem não apenas que a materialidade dos corpos depende de sua performance e do arcabouço sócio-histórico que a regimenta, mas também que as semioses em jogo são um dos principais ingredientes de nossa materialidade corpórea e social. Performances como a da cuceta, ao colocarem em xeque noções engessadas sobre gênero e corpos, abrem passagem para que novas performatividades eclodam em ganhos políticos e éticos.
This paper aims to address the naturalization of a neoliberal individualism online, the performance of profound inequality as a sexualized stylistic resource, and the equalization of capital and sexual relations. This is done by highlighting the kinship between the Universal Declaration of Human Rights and Neoliberalism. We then argue that Grindr is designed to keep us coming back to it, subjecting us to misconduct by the app developers. We then proceed to report on the data generated by the erotics of signs (BONFANTE, 2016), methodology that highlights sexual-capital performances which bring two related phenomena to our attention: the spread of neoliberal practices on Grindr and the dissemination of the perspective of sex as a commercial good. Finally, we consider the ethical and epistemological gains of our paper.
O artigo apresenta uma revisão bibliográfica narrativa das vontades de verdade sobre o fenômeno do sexo bareback, prática sexual homoerótica que pressupõe a penetração anal sem o emprego do preservativo. A revisão narrativa persegue por textos científicos as vontades de verdade que têm disputado o tema pelos últimos 40 anos. Entre os resultados, pode-se ressaltar que embora um tradicional embate patologia autodestrutiva versus prática de insubmissão se tenha feito muito vivo nas últimas quatro décadas de pesquisa sobre o tema, tal disputa discursiva parece se tornar anacrônica se considerarmos as novas tecnologias de prevenção química, a racionalidade neoliberal e seu afrouxamento moral e a “virada sem camisinha” (Brennan, 2018) na pornografia mainstream.
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