Na década de 1930, próximo aos seringais da floresta amazônica, emergia uma comunidade de cunho religioso, repleta de elementos de diferentes religiosidades, dirigida por um líder carismático e centrada na utilização de uma bebida psicoativa, a ayahuasca. Esse pequeno grupo era influenciado pelos elementos materiais e culturais da região naquela época, como as bases militares, as visões tradicionais de gênero, os fluxos migratórios, o intercâmbio cultural com caboclos e indígenas e o contato com os seringais. Formada majoritariamente por imigrantes nordestinos negros e mulatos, essa comunidade era comandada por um negro maranhense sem escolarização formal, neto de escravos, chamado de "Mestre". E assim permaneceu, de modo relativamente estável, até a década de 1970.Quatro décadas depois, o cenário é bastante distinto: denominado "Santo Daime", não se trata mais de uma única comunidade, mas de uma rede dispersa de múl-tiplos núcleos. O grupo reúne alguns milhares de adeptos, sobretudo pessoas escola-
Resumo Procuramos, neste artigo, trazer alguns apontamentos sobre elementos que permeiam as redes neoxamânicas contemporâneas, tais como: trânsito e deslocamento de pessoas e artefatos, tradição e autenticidade, patrimônio, tecnologias xamânicas, peregrinação e turismo religioso, intercâmbio e alianças entre grupos diversos, bem como o estabelecimento de relações de “mercado”, disputas e conflitos inter-religiosos. Para tanto, elencamos como estudo de caso a II Conferência Mundial da Ayahuasca, que congregou um número sem precedentes de pessoas e grupos envolvidos com a temática da ayahuasca, como antropólogos, povos indígenas, ONGs e religiões. Pretendemos mostrar que as redes neoxamânicas contemporâneas também se constituem em meio a relações de poder, interesses conflitantes e uma multiplicidade de posicionamentos diferentes sobre cultura e religião, e que existe um verdadeiro campo ayahuasqueiro brasileiro e muitas visões distintas a respeito da ayahuasca, onde estão em jogo elementos como prestígio, legitimidade social, identidade e patrimônio.
Resumo Este artigo procura discutir a patrimonialização da ayahuasca, bebida psicoativa de origem amazônica usada ritualmente por religiões institucionalizadas, como o Santo Daime, União do Vegetal e Barquinha; povos indígenas, como os Yawanawa e os Ashaninka; e toda uma gama de pessoas que vão dos vegetalistas peruanos aos neoxamãs que habitam as grandes metrópoles. A partir das discussões em torno do processo de patrimonialização envolvendo essa bebida, veremos que a ayahuasca é polifônica, polissêmica e policêntrica; que existe um verdadeiro campo ayahuasqueiro, permeado de alianças e conflitos internos; e que a patrimonialização da ayahuasca revela uma cartografia complexa, em que há a convivência de diferentes epistemologias e intensas disputas de poder.
Este artigo aborda a diáspora do Santo Daime através de sua dimensão musical. Para isso, são estabelecidos alguns paralelos com a expansão internacional da capoeira, do neopentecostalismo e das religiões afro-brasileiras, situando a transnacionalização do Santo Daime dentro do movimento mais amplo de diáspora das religiões brasileiras e do Sul Global. Segue-se daí uma discussão sobre o papel ritual da música e sobre os hinos religiosos daimistas, que são considerados como presentes sagrados e representam um importante pilar dos rituais. Os autores descrevem e refletem sobre como os hinos são cantados, traduzidos e interpretados em distintos países e contextos. Argumentam que são produzidos, por um lado, coesão e redes transnacionais e, por outro, ressignificações e conflitos. Essas discussões nos convidam ao debate sobre o uso ritual de psicoativos, a relação entre música e religião e sobre as noções de tradição, autenticidade e sagrado.
palavras-chaveSanto Daime, música, diáspora, ayahuasca, religiões brasileiras.
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