No modelo de comunicação como cultura (Lima, 2001) e na perspectiva da comunicação como ritual (Carey, 1992), analisa-se neste artigo duas práticas recorrentes nas Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) da Igreja Católica no Brasil: culto aos mártires e mística espiritual, observadas em pesquisa de campo no estado de Mato Grosso (2017-2020). Nas CEBs, as práticas culturais mostram uma dimensão comunicacional que conjuga religiosidade e política. A emergência das CEBs nos anos 1960 reflete a luta contra a ditadura militar, quando passaram a se envolver com movimentos sociais pela cidadania e subjetividade, com eles atuando e se confundindo.
Este artigo objetiva investigar a dimensão comunicacional das práticas culturais das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs), vinculadas à Igreja Católica. A pesquisa, de caráter qualitativo, baseia-se em estudo de caso, via observação participante, referente a um encontro sobre o tema Juventude e Bem Viver, realizado em maio de 2019 na cidade de Cuiabá, capital de Mato Grosso, Centro-Oeste do Brasil. A abordagem teórica se orienta pelo modelo de estudos da comunicação como cultura, tendo por marcos interdisciplinares comunicação como "ciência do comum" e como "diálogo" e cultura enquanto "ciência interpretativa". O artigo traz arcabouço conceitual e composição histórica das CEBsdesde a luta contra a ditadura no Brasil nos anos 1960 -, destaca suas parcerias sociopolíticas e viabilização de pautas prioritárias. Descreve o funcionamento atual das CEBs a partir de práticas culturais produtoras de
Tratamos neste artigo das práticas sociais das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) no Brasil, mais especificamente quanto ao processo de atualização de enunciados como epistemes comunicacionais, com foco no culto aos mártires da caminhada. Objetivamos problematizar o potencial revolucionário desta prática cultural diante dos marcos epistêmicos da modernidade, que se assentam num modelo civilizatório europeu-estadunidense de ordem colonial e capitalista. O procedimento metodológico que utilizamos foi de caráter etnográfico, expresso pela compilação de incursões em campo entre 2016 e 2021, principalmente no estado de Mato Grosso (MT), Centro-Oeste do Brasil, viabilizado pela observação participante. Entre os resultados estão a compreensão de que o culto aos mártires da caminhada nas Comunidades Eclesiais de Base corresponde a um processo de dar-se consciência das contradições sociais na contemporaneidade. A conclusão aponta para a potencialidade descolonial deste culto na medida em que seus organizadores e participantes produzem um universo de significados na conjunção da religiosidade popular com uma prática sociorreligiosa cujo sagrado politiza a demanda pela construção de uma realidade crítica e alternativa ao projeto de mundo da modernidade.
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