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Este trabalho propõe uma análise de espetáculos de um ponto de vista interdisciplinar e multimidiático, a partir do trabalho de Bertolt Brecht em parceria com os músicos compositores Kurt Weill e Hanns Eisler, entre o período de 1927 e 1932. A pesquisa propõe um método que possibilite interpretar a significação da cena nos momentos onde o gestus ocorre, sendo a música um dos elementos articuladores. O gestus é tratado como uma configuração situacional que articula música, texto e encenação após a interrupção do fluxo da cena apresentada. Parte-se da concepção de Benjamin do gesto brechtiano, enquanto dialética suspensiva, como também da proposta de Cook em torno da significação musical em um contexto multimidiático e de performance. Indaga-se sobre a interação entre os elementos, se de forma hierárquica e vertical, ou contextualizada conforme o procedimento e efeito estético intencionado, discutindo-se uma possível autonomia compartilhada e horizontal entre eles. O gestus como configuração resultante (moldura circunscrita) conduz a apresentação para um movimento em duas fases, a de interrupção/suspensão e a de configuração/multiplicidade, o que o aproxima da tensão entre mímese e diegese (na forma como Puchner sugere a antiteatralidade diegética em Brecht). O resultado é uma ampliação de possibilidades por meio de uma ruptura com o cânone naturalista, transformando a cena em um ritual de exposição de suas marcas, transformando a representação em presença. O método se constrói observando-se a formação de molduras multicanais (Goffman) que os diferentes momentos dos espetáculos adquirem, e seus desdobramentos enquanto camadas visuais/espaciais e canais sonoros, formados principalmente por meio das canções e números musicais. A antiteatralidade em Brecht, ao utilizar-se da música, coincide com o que Goffman chama de experiência negativa, ou seja, com a negação dos limites da representação teatral e criação de um teatro diegético (Puchner). Por meio dos rastros musicais, textuais, entre outros, reconstrói-se a materialidade heterogênea dos espetáculos e cria-se uma leitura sobre o seu processo de significação, onde a música é a "mais valiosa contribuição para o tema" (Brecht).
Um dos principais problemas nas teorias de Brecht sobre a música são as críticas sobre a sua aceitação irrefletida. Um expoente clássico destas críticas é Fowler, em seu trabalho sobre o gestus brechtiano intitulado Received truths (1987), que observa criti- camente certos usos daquilo que Brecht deixou como legado em seus escritos, tratan- do conceitos e afirmações como “verdades aceitas”. Seu estudo se concetra na recepção da teoria brechtiana sobre a música em cena, e procura mostrar como os estudiosos de Brecht usam os conceitos na análise da relação texto-música de maneira irrefletida. Ele também argumenta que Brecht não construiu uma teoria satisfatória para compreender a significação musical. Outros autores seguiram esta tendência crítica, como Rambo-Hood (2009), argumentando contra a possibilidade dos escritos de Brecht serem adequados ou suficientes teoricamente para se interpretar a significação musical por meio de concei- tos como gestus, teatro épico e a brechtiana “separação dos elementos”2. Estes conceitos, principalmente na forma como Brecht os registrou no final da década de vinte e início da década de trinta3, se relacionavam com as montagem da época trazendo reflexões e propostas.
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