A proposta desse artigo é discutir, a partir do romance Vagos sin tierra (1999), da escritora paraguaia Renée Ferrer, as relações violentas impostas às mulheres no espaço geopolítico da demarcação fronteiriça entre Brasil e Paraguai. A narrativa de Ferrer é aqui apreendida como um constructo cultural que ressignifica a história enquanto “re-visão” (Adriene Rich, 2017) e faz retornar os/as mortos/as de uma fronteira cujas subjetividades e representatividades só são vistas quando colocamos em diálogo as colaborações da crítica feminista.
O cânone literário ainda é baseado em um modelo excludente – masculino, branco, heterossexual, classe média – que acaba por instaurar invisibilidades na vida literária, como se comprova a partir da pouca presença de autorias LGBTQI+ em editoras hegemônicas e/ou de personagens LGBTQI+ exercendo função de protagonistas em narrativas. No cenário contemporâneo, no qual as pautas políticas dos estudos de gênero e raça/etnia evidenciaram sua urgência, é necessário sublinhar como tem sido discutida a representação e a representatividade na literatura. Mais do que nunca tem sido demonstrada a potência da identificação entre leitor/a e literatura na construção e fortalecimento das subjetividades individuais, fato que torna preocupante haver poucas obras com as quais pessoas LGBTQI+ possam mirar-se. Contra o cânone excludente não bastariam personagens não hegemônicos em ação, mas seriam necessários projetos literários ou de crítica literária que questionassem os dispositivos e tecnologias normalizadoras do corpo e do gênero. Este texto, nesse sentido, tem por objetivo apresentar minimamente as questões que nortearam a convocatória para um dossiê de ficções brasileiras que teve o queer como chave de leitura política e estética.
O objetivo deste artigo é desenvolver uma leitura reflexiva do romance Mulheres empilhadas (2019), de Patrícia Melo, a partir da crítica feminista. O tema central da narrativa é a violência contra as mulheres em suas diversas faces, particularmente a violência doméstica e o feminicídio. A cada capítulo, o livro desempilha corpos de mulheres revelando histórias marcadas por estruturas simbólicas, socioculturais e políticas de hierarquias sexistas que sustentam e naturalizam práticas de violências contra as mulheres. A hipótese sustentada é a de que Mulheres empilhadas é um projeto ético e estético que põe em evidência as lutas e os enfrentamentos que ainda precisam ser travados contra os discursos e as práticas patriarcais que insistem em invisibilizar, subalternizar e matar as mulheres. Como suporte teórico utilizamos Carole Pateman (1993), Judith Butler (2019), Rita Segato (2005) entre outros.
scite is a Brooklyn-based organization that helps researchers better discover and understand research articles through Smart Citations–citations that display the context of the citation and describe whether the article provides supporting or contrasting evidence. scite is used by students and researchers from around the world and is funded in part by the National Science Foundation and the National Institute on Drug Abuse of the National Institutes of Health.