Analisamos, pela perspectiva da teoria feminista e do conceito de representação, a obra Cruel Amor, de Julia Lopes de Almeida. Inicialmente, a obra foi publicada em folhetim, em 1908, e, em 1911, ganha uma versão em livro. Nele, tem-se uma denúncia de um período histórico marcado por valores de uma sociedade patriarcal, assim, focamos, em especial, no sentimento de posse do homem em relação à mulher, e na construção de personagens femininas marcantes e avançadas para a época. A narrativa, em síntese, apresenta uma comunidade de pescadores situada em Copacabana, e dois triângulos amorosos conduzem a trama. Em segundo plano, é possível acompanhar a vida cotidiana no bairro: as festas, o relacionamento entre os pescadores, as intrigas entre as famílias regionais, os amores e desamores entre os casais. Sob a luz de teóricos como Pierre Bourdieu (1999), Zygmunt Bauman (2004) e Mary Del Priore (2002), exploramos conceitos que trazem à tona um cenário de luta por uma sociedade mais igualitária na transição do século XIX para o XX. E, ainda, foi possível confirmar o quão fundamental foi a obra de Julia Lopes de Almeida para representar a situação da sociedade brasileira na virada do século.