Resumo: As capas das revistas femininas são conhecidas por destacar personalidades que sejam referenciais de beleza, ícones de estilo de vida e reconhecidas pelo grande público. Mas, no que se refere à aparência, nota-se a seleção quase absoluta de personagens brancas, o que pode servir como pano de fundo para se analisar a temática racial no Brasil. Afinal, enquanto contribuem para a manutenção do corpo branco em um lugar privilegiado, revistas consolidadas no mercado editorial brasileiro, como é o caso dos títulos Claudia e TPM, não deixam de reforçar a invisibilização das negras. Nesse espaço, pretende-se discutir tais questões, admitindo-se ainda que são resultado de um processo histórico, remetendo à ideologia de branqueamento, ao mesmo tempo em que escondendo discriminações por baixo da problemática máxima de "democracia racial". Faz-se indispensável também debater como o quesito "raça" se delineou no contexto brasileiro e levantar possibilidades de subversão a partir do uso político do termo, defendido por Guimarães (2002) e Schwarcz (2012). Palavras-chave: Raça. Meios de comunicação de massa. Gênero. Revista.
IntroduçãoNa capa da edição de março de 2006 da revista Claudia, a atriz Camila Pitanga reina, absoluta, mantendo o padrão da revista, com maquiagem e cabelo impecáveis e um sorriso aberto. Neste exemplar, o diferencial seria o tom de pele da celebridade da primeira página. O veículo que destacou, em todos os outros meses daquele ano, personagens de tom de pele claro, agora traria uma negra. Aliás, uma negra com nariz fino, cabelos lisos castanhos, denunciando a mestiçagem. Segundo a legenda de capa, Camila Pitanga é o "talento com sabor de Brasil". Um apelo visual nesse espaço reforçaria a ideia: os tons da bandeira brasileira, verde, amarelo, azul e branco, nas chamadas, o fundo da imagem, em um amarelo