Resumo Assim como o reconhecimento facial é uma capacidade ancestral do intelecto humano que garante nosso pertencimento a um determinado grupo e, portanto, a nossa própria sobrevivência (SACKS 1997, 2010; LEONE, 2016; 2018), além da nossa vinculação emocional (CYRULNIK, 1995) também há evidências de que os primeiros hominídeos modificavam voluntariamente suas aparências, disfarçando, camuflando ou criando outras versões de si mesmos capazes de se endereçar aos deuses, aos seus contemporâneos e à natureza. A manipulação do rosto, embora se trate de uma prática arquetípica, diz respeito às mudanças nas mídias historicamente constituídas (BELTING, 2015). Midiaticamente, não apenas o rosto é a imagem mais reproduzida e consumida na atualidade — ou seja, o rosto está, de modo ubíquo, na mass media —, mas o próprio rosto é uma mídia (BELTING, 2007). Este artigo se dedica a discutir as alterações faciais temporárias — como maquiagens e filtros de aplicativos. Além disso, abordaremos de que maneira, mesmo quando se trata de uma atividade desencantada, ainda se verificam traços de um passado místico, mágico e ritualístico na maquiagem e no ato de se maquiar — vestígios que aparecem, por exemplo, no discurso da publicidade de cosméticos.
Aby Warburg (1866-1929) e Walter Benjamin (1892-1940), judeus e intelectuais nascidos na Alemanha da segunda metade do século XIX, partilham da ideia de suspensão do movimento do curso linear da História e têm uma visão crítica e estética das técnicas. Ligados a universos relativamente distintos, nunca chegaram a se encontrar, a despeito das tentativas de Benjamin. Dentre as muitas correspondências entre seus pensamentos, nos deteremos, neste trabalho, em dois projetos inacabados – o Atlas Mnemosyne, de Aby Warburg, e Passagens, de Walter Benjamin – com o intuito de refletir sobre o legado desses autores para os métodos de investigação estética, especialmente no que se refere às imagens.
Segundo Iuri Lotman, o retrato é o mais filosófico dos gêneros pictóricos. O que fundamenta sua tese? Quanto mais aparentemente simples uma imagem, diz ele, mais complexas são as leituras que podemos tecer sobre elas. Nesse ensaio, nosso intuito é, partindo dos estudos de pesquisadores da imagem e do retrato, como Iuri Lotman e de Hans Belting, e da biografia, como Bourdieu, Giovanni Levi e outros, discutir a parelha palavra e imagem de modo a discorrer sobre as analogias entre o retrato e as narrativas de vida, biográficas ou confessionais. Além de unidos pelos vínculos problemáticos da mimese e da iconicidade sígnica, o retrato e a biografia fundamentam e constituem a noção de sujeito que surge com a Modernidade
O acaso é matéria-prima para um fotógrafo na captação das cenas que surgem diante de suas lentes. Resultado de técnicas, conceitos, preceitos e repertório, algumas dessas fotografias remontam à sobrevida de imagens prévias que perduram ao longo de séculos e, tal como fantasmagorias, assombram seus produtores e seus espectadores. Ao discorrer sobre fotografia contemporânea e as imagens do fotógrafo Pedro Martinelli, este artigo faz ecoar o diálogo constante entre acaso, memória e Nachleben.
Em 1905, Aby Warburg formulou o que chamaria de Pathosformeln – neologismo criado por ele em seu estudo sobre Albrecht Dürer, mas que já aparecia de forma rudimentar em seus primeiros escritos. As Pathosformeln dizem respeito às forças psíquicas presentes na memória coletiva em formas espectrais, imagens dotadas de intensa energia primitiva. Se a história do pensamento no ocidente concorre para a expulsão da paixão do domínio da lógica e da ciência – a paixão atrapalha e embota o que se pretende lúcido e positivo – o legado e a vida de A. W. são testemunhos dos inegáveis efeitos das paixões para as descobertas científicas. Antes, contudo, de sofisticar a tese que redimensionaria tudo o que já havia sido dito sobre o Renascimento, experiências de cunho pessoal – como sua internação num asilo mental e o contato com indígenas do oeste americano – contribuíram para os seus insights sobre a arte florentina.
Em 1905, Aby Warburg formulou o que chamaria de Pathosformeln – neologismo criado por ele em seu estudo sobre Albrecht Dürer, mas que já aparecia de forma rudimentar em seus primeiros escritos. As Pathosformeln dizem respeito às forças psíquicas presentes na memória coletiva em formas espectrais, imagens dotadas de intensa energia primitiva. Se a história do pensamento no ocidente concorre para a expulsão da paixão do domínio da lógica e da ciência – a paixão atrapalha e embota o que se pretende lúcido e positivo – o legado e a vida de A. W. são testemunhos dos inegáveis efeitos das paixões para as descobertas científicas. Antes, contudo, de sofisticar a tese que redimensionaria tudo o que já havia sido dito sobre o Renascimento, experiências de cunho pessoal – como sua internação num asilo mental e o contato com indígenas do oeste americano – contribuíram para os seus insights sobre a arte florentina.
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