O presente trabalho discute em que aspectos a psicanálise pode ser relevante no campo da saúde mental e da psicopatologia. Conduzimos nossa discussão com base em um tratamento “bem-sucedido” para, a seguir, tomar em consideração as propostas clínicas e de gestão da “doença mental” quer informadas pelo sociologismo quer pelo biologismo da psiquiatria contemporânea. Interrogamos a curiosa aliança entre essas apreensões clínicas sob o prisma da exigência em comprometer os resultados do tratamento da loucura a uma inserção pacificada do sujeito a formas mais tolerantes de gestão social – ambientes artificiais de convivência –, isso em detrimento de uma escuta efetiva do dizer psicótico, na qual se neutraliza a verdade que esse dizer pode veicular. Nossa orientação é a de que a psicanálise é uma discursividade comprometida em recolher e fazer reverberar esse dizer da loucura na ordem do discurso.
Analisando circunstâncias e elementos clínicos paradigmáticos, constata-se que as trajetórias de jovens das comunidades populares no que se refere a problemas com a Lei por uso e tráfico de drogas são, na verdade, típicas, isto é: indicam, sob eventos meramente singulares, uma produção intensa e institucionalizada desses jovens enquanto "foras da lei". Omitir esta dimensão do problema pode tornar a pesquisa científica aliada de estruturas que produzem delinquência. No entanto, uma prática derivada da clínica psicanalítica e amparada por uma reflexão sobre a institucionalidade questiona como a relação que esses adolescentes constroem com sua própria palavra nas instâncias de tratamento pode deslocar esses mecanismos institucionais.
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