O presente trabalho discute em que aspectos a psicanálise pode ser relevante no campo da saúde mental e da psicopatologia. Conduzimos nossa discussão com base em um tratamento “bem-sucedido” para, a seguir, tomar em consideração as propostas clínicas e de gestão da “doença mental” quer informadas pelo sociologismo quer pelo biologismo da psiquiatria contemporânea. Interrogamos a curiosa aliança entre essas apreensões clínicas sob o prisma da exigência em comprometer os resultados do tratamento da loucura a uma inserção pacificada do sujeito a formas mais tolerantes de gestão social – ambientes artificiais de convivência –, isso em detrimento de uma escuta efetiva do dizer psicótico, na qual se neutraliza a verdade que esse dizer pode veicular. Nossa orientação é a de que a psicanálise é uma discursividade comprometida em recolher e fazer reverberar esse dizer da loucura na ordem do discurso.
Esta é uma ocasião especial, pois estamos aqui reunidos para dar início a este Seminário em que comemoramos os cinqüenta anos de existência de Jurujuba e nos dispomos a tentar delimitar alguns dos desafios que temos adiante em nosso futuro. É até compreensível que não se queira mais comemorar a existência de hospitais psiquiátricos, face aos destinos desastrosos em que a grande maioria se embaraçou. No entanto, a falência de certos modos de institucionalização não quer dizer que podemos dispensar-nos dessas instituições. Por exemplo, a imperfeição e os conflitos dos regimes democráticos não nos induzem a pensar que a democracia deva ser abolida. Do mesmo jeito que os graves problemas que temos no sistema de segurança pública não significa que devamos renunciar a cuidar da segurança do cidadão. Nos dias de hoje, face ao caráter segregador e excludente no qual se mantiveram muitos desses hospitais, acabou não sendo relevante comemorar a existência de um hospital psiquiátrico, ao contrário, espera-se festejar o seu fechamento e a sua substituição pelos dispositivos comunitários de atenção em Saúde Mental.Então, estamos aqui na contramão dessa corrente, porém não em posição antagônica, comemorando um tempo de existência desta instituição, e procurando refletir sobre sua função e lugar num tempo em que o próprio objeto da psiquiatria vem sofrendo grandes mudanças, e em particular abandonando o terreno da doença mental e se postulando aquele outro da saúde mental. Mas, afinal, o que será esse objeto da Saúde Mental? Será o que diz respeito ao cidadão adequadamente integrado ao
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