Este artigo visa apresentar a origem do conceito de figuratividade na semiótica discursiva, partindo do princípio de que foi incorporado à metalinguagem dessa disciplina por meio de empréstimo conceitual da teoria estética. Também é objetivo deste trabalho mostrar como o olhar sobre a figuratividade, cujo papel na construção do sentido envolve a articulação de simulacros do mundo natural com as dimensões tímica e sensível conforme os sujeitos percebem e apreendem os objetos para que o enunciatário seja persuadido a crer no discurso manifestado em textos verbais, não verbais e sincréticos, se transforma ao longo dos anos, periodizando as mudanças de perspectiva sobre a figuratividade à medida que é descrita a sua evolução. O corpus é composto de livros e artigos que tratam do papel desse conceito na construção do sentido, publicados entre 1966 e 2008. Resulta dessa investigação a verificação de que a semiótica se apoia sobretudo nos estudos panofskyanos sobre iconografia e iconologia, mas também em contribuições teóricas de linguistas como Hjelmslev e Jakobson. Por fim, a pesquisa conclui que a figuratividade se mantém operacional na semiótica e contribuindo para a evolução da teoria.
Considerando as reflexões sobre os níveis de pertinência da análise semiótica e as diferentes cenas predicativas observadas nas redes sociais – que utilizam a violência em diferentes intensidades para destruir a imagem pública do outro, ou, em certos casos, mantê-la –, buscamos, neste trabalho, identificar como se configuram as práticas e estratégias relacionadas à cultura do cancelamento. Essas práticas, e as estratégias que as acomodam, são realizadas no ambiente virtual, na forma de comentários em redes sociais e outros tipos de mídia on-line que, simulando um tribunal virtual e assumindo os papéis actanciais de juízes, jurados e executores, sancionam negativamente o sujeito que enuncia discursos desinformados, preconceituosos e intolerantes ou exprime comportamentos que podem corroborar discursos negacionistas, e aplicam punições diversas. Por outro lado, as mesmas práticas podem desencadear um processo de reiteração e forte assunção do discurso ou comportamento que levou o sujeito a ser inicialmente julgado e cancelado. Esse comportamento é observado em grupos que manifestam discursos de apoio a valores morais historicamente enraizados na estrutura social e que não condizem com uma sociedade que visa a ser mais pacífica, inclusiva, sustentável e justa.
On examine ici les pratiques de la cancel culture et du lynchage virtuel, comme versions contemporaines de la « justice sauvage ». Sur la base des pratiques sémiotiques et des formes de vie, nous analysons, au sein d’énoncés virtuels, comment les pratiques inhérentes à la forme de vie de la violence sur les réseaux sociaux se déploient en scènes de la violence symbolique. Destinée à la destruction de l’image publique, cette violence se matérialise par l’agression psychique de la personne dont la réputation a été détruite. Par conséquent, ces pratiques sont menées dans un environnement virtuel, panoptique, par les utilisateurs des réseaux sociaux qui, pathémisés par les passions de malveillance en raison du comportement de l’autre, assument les rôles actantiels des juges, des jurys et des bourreaux, et sanctionnent l’accusé par des punitions qui visent à l’anéantissement moral du sujet.
Neste trabalho, historiografamos os conceitos de enunciação e de figuratividade para demonstrarmos como despontaram e se desenvolveram na semiótica francesa, disciplina que se preocupa com o modo como o sentido é construído no discurso. Considerando a operacionalidade desses dois conceitos no discurso e o fato de na semântica discursiva a figuratividade ser responsável pelo reconhecimento do discurso como verdadeiro, também buscamos explicitar como a enunciação e a figuratividade se relacionam. Percebemos que os dois conceitos foram concebidos inicialmente como elementos de análise presentes apenas na semântica discursiva, mas passaram a integrar todos os níveis do percurso gerativo do sentido em um segundo momento. Além disso, ambos passaram a ocupar um lugar de destaque dentro da semiótica após a publicação de De l’imperfection, de A. J. Greimas. Para chegarmos a esse resultado, aplicamos à pesquisa a metodologia da historiografia linguística, disciplina conhecida por descrever e interpretar os produtos e os trabalhos resultantes da história de uma ciência ou de um conceito através de um levantamento dos autores e de sua bibliografia. O método desenvolvido por pesquisadores como E. F. K. Koerner, P. Swiggers e C. Altman, consiste em periodizar, interpretar as transformações sofridas pelos conceitos e descrevê-las visando ao estabelecimento, à fundamentação e ao desenvolvimento da teoria ou do conceito historiografado, que, neste estudo, são os conceitos de enunciação e de figuratividade a partir de estudos realizados por A. J. Greimas, J. Fontanille, J.-C. Coquet, D. Bertrand, entre outros semioticistas.
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