Com base nas proposições de Tardif, o presente artigo analisa os saberes revelados por duas professoras em relação ao trabalho de escrita coletiva de textos com crianças de 5 a 6 anos. As professoras foram chamadas a assistir três atividades de escrita coletiva conduzidas por elas mesmas e que haviam sido registradas em vídeo. Tais momentos de "autoconfrontação" contaram com a participação das pesquisadoras, que estimulavam a reflexão e a discussão sobre as práticas observadas. Os encontros foram videogravados e a análise dos dados mostrou que as docentes explicitaram saberes relativos às estratégias de interação com o grupo, à coautoria dos textos, ao processo de textualização, à revisão textual, à ativação dos conhecimentos prévios das crianças sobre o conteúdo e gênero textual, entre outros. As trocas discursivas entre as professoras e a reflexão sobre a prática mostraram-se importantes ferramentas no processo de (re)construção e validação dos saberes docentes. Palavras-chave: saberes docentes, produção coletiva de textos, Educação Infantil.
O artigo reflete sobre alguns pilares do pensamento de Boaventura de Sousa Santos tecendo conexões com os Estudos da Criança, sobretudo, no que se refere à Sociologia da Infância em sua vertente crítica. Dessa forma, retomamos conceitos elaborados pelo autor, tais como, a crítica à ciência moderna e a sociologia das emergências, dialogando principalmente com o quadro teórico proposto por Sarmento (2004; 2018). No artigo discutimos ainda a concepção de criança como sujeito de direitos e suas implicações para a pesquisa com foco na educação da primeira infância. Por fim, considerando a natureza argumentativa da cadeia de conceitos desenvolvida por Boaventura, que dá espaço ao contraditório e ao enfrentamento da hegemonia de discursos já formulados sobre a infância, sugerimos alguns alinhamentos entre a necessidade de repensar esse segmento geracional e a efetivação das condições para a sua emancipação social. Nessa direção, propomos a superação da visão universalista não apenas em relação à criança, como já tem sido indicado pela Sociologia da Infância crítica, mas também em relação à escola, dando visibilidade a experiências alternativas nesse espaço. Concluímos que o olhar descentralizado sobre a infância em diferentes contextos institucionais, incluindo ambientes escolares com outras formas de organização do tempo e do espaço, com outras lógicas na implementação de seus projetos políticos pedagógicos, pode nos oferecer novos subsídios para a construção de uma Pedagogia da Infância que, no Brasil, constitui um campo de pesquisa emergente.
Esta pesquisa buscou analisar como professoras da Educação Infantil conduzem o processo de escrita coletiva de textos com seu grupo de crianças. Foi adotada a perspectiva sociointeracionista de Schneuwly (1988), que concebe a produção de textos como uma atividade constituída por dimensões cognitivas e sociais. Participaram da pesquisa duas professoras da Rede Municipal do Recife e seus respectivos grupos de crianças, com idade entre 5 e 6 anos. Três produções coletivas conduzidas por cada professora foram videogravadas e transcritas literalmente. Ao analisar a mediação das professoras, foram identificados 11 tipos de intervenção durante a escrita coletiva dos textos. Tais intervenções variaram em grau de complexidade e se mostraram relacionadas aos gêneros textuais produzidos e à própria situação que gerou a escrita dos textos.
A literatura indica que crianças pequenas podem estabelecer uma interação significativa com textos escritos e demonstrar interesse em produzi-los (Rego, 1988; Mayrink-Sabinson, 1998; Souza, 2003). Entretanto, são escassos os estudos que investigam as formas de participação das crianças nas situações em que textos são escritos de forma colaborativa, tendo a professora como escriba. Nesse contexto, a presente pesquisa analisou as trocas discursivas entre crianças com 5 e 6 anos e sua professora durante atividades de produção coletiva de textos em duas turmas do último ano da Educação Infantil de instituições públicas. Partindo de uma abordagem sociodiscursiva da linguagem escrita (Bronckart, 1999; Schneuwlly, 2004) três produções coletivas, conduzidas por cada professoras foram videogravadas, transcritas e analisadas qualitativamente. Os dados evidenciaram a participação ativa das crianças na produção de diferentes gêneros discursivos, compartilhando nesse processo, conhecimentos e reflexões sobre diferentes dimensões envolvidas numa produção textual (i.e. características do gênero, aspectos sociointerativos, geração do conteúdo textual, os sinais gráficos utilizados para escrever e a revisão da escrita). A mediação docente, numa perspectiva dialógica e com intervenções que chamavam a atenção para tais dimensões, mostrou-se um elemento chave para potencializar o engajamento das crianças na atividade e para a promoção de uma experiência de coautoria na escrita dos textos. Concluímos que as trocas discursivas, mediadas pelas professoras durante a produção coletiva de textos podem proporcionar situações de aprendizagens significativas, compartilhadas entre as crianças.
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