Questões a respeito do que definiria o homem e a mulher como entidades ontológicas fundamentalmente distinguíveis entre si ou sobre quais seriam os traços constitutivos daquilo que usualmente denominamos de masculinidade e feminilidade apareceram com frequência ao longo da história da humanidade, em paisagens e contextos os mais variados. No presente estudo, aproximamo-nos dessa vasta tradição discursiva ao propor uma leitura das relações de gênero dramatizadas no conto “Stress” (1997), de Lília Momplé. Acreditamos que o cenário esboçado pela escritora moçambicana na narrativa em questão consegue desvelar uma série de nuances da construção social da masculinidade de modo geral e, mais especificamente, das configurações particulares que esse construto sócio-histórico angariou no solo moçambicano, espaço profundamente marcado pela violência colonial e pela desordem (pós)moderna. Como suporte para nossa argumentação, evocamos o arcabouço teórico do feminismo e da teoria de gênero, com ênfase especial nos trabalhos de Raewyn Connell (1987; 2005a; 2005b).
Oriunda dos instintos destrutivos da pulsão de morte, a inveja é um dos primeiros e mais arcaicos afetos que despertam na alma do ser humano. Ao contrário do que o senso comum habitualmente preconiza, ela comporta um aspecto estruturante e sua importância para o desenvolvimento sadio da personalidade é significativa, uma vez que, na medida certa, permite ao sujeito reconhecer suas próprias lacunas, falhas e faltas. No entanto, se a inveja atingir proporções exacerbadas, assume uma feição mortífera e as relações com o objeto interno bom tornam-se fatalmente fragilizadas. Eis o caso de Ofélia, personagem do conto A Legião Estrangeira (1964), de Clarice Lispector – que desenha um dos quadros mais perturbadoramente belos da inveja em nossas letras. Engolfada num abismo de angústia e terror, Ofélia não consegue sustentar-se e, com efeito, a inveja comparece para esgarçar sua dor, que a leva a destruir tudo aquilo que lhe evoque sentimentos de insuficiência. Destarte, numa conexão entre os estudos psicanalíticos de base (pós)kleiniana e algumas considerações de caráter sócio-histórico, pretendemos analisar, na narrativa em foco, as faces mais abjetas que a inveja, em seu teor assaz virulento e passional, pode revelar, quando a dolorosa experiência de incompletude solapa toda expressão de amor e gratidão.
Pretendemos, no presente artigo, realizar uma leitura de A bicicleta que tinha bigodes (2013), romance infanto-juvenil de Ondjaki. Confrontadas, por um lado, com problemas “externos”, relativos à precária situação socioeconômica do seu país, que, na altura dos eventos narrados na obra em questão, encontrava-se em meio a uma violenta guerra civil, e, por outro, com problemas “internos”, de ordem mais psicológica e afetiva, as crianças imaginadas por Ondjaki conseguem representar a complexa psicologia infantil. É precisamente esse último aspecto que a nossa análise irá privilegiar, ao escolher como chave de leitura a construção psicológica de algumas das personagens principais. Pretendemos, dessa forma, examinar a representação do universo psicológico infantil no referido romance, em especial quando este é confrontado com a psicologia adulta. Para tanto, recorremos, principalmente, ao aparato teórico da psicanálise, mas também nos servimos de algumas considerações de ordem socio-histórica, imprescindíveis para compreensão integral do corpus elencado.
Calcada sob os mandamentos de cada cultura, a relação do homem com o erótico (des)vela algumas de suas inquietações mais arcaicas, na medida em que o obriga a confrontar uma dimensão tão íntima, que, não raro, confunde-se com seu próprio fim. Ao longo dos tempos, filósofos, poetas e místicos procuraram, através dos mais diversos meios, dar sentido à experiência erótica, no intuito de compreender essa misteriosa ânsia que, ao nos impelir para o encontro do próximo, denuncia nossa incompletude. No caso do Ocidente, com a ascensão e posterior consolidação da cosmovisão judaico-cristã, operou-se uma verdadeira Miguilim -Revista Eletrônica do Netlli | V. 9, N. 3, p. 430-441, set.-dez. 2020 "demonização" do erótico, que, a partir de então, angariou para si os signos do pecado, do abjeto e do mortífero. O degredo ao qual o erótico foi condenado reformulou os termos pelos quais temos acesso e vivenciamos essa esfera da experiência humana, estabelecendo-se, assim, um distanciamento contínuo entre corpo e espírito, carne e alma, que, amiúde, desperta sentimentos de culpa e pesar. É o que se desenha no quadro subjetivo de "Melhor que arder", de Clarice Lispector. O conto, publicado pela primeira vez no ano de 1974, encena o drama de Clara, uma jovem mulher que, confinada nos muros de um convento, digladia-se com seu próprio desejo sexual. Isto posto, pretendemos, neste trabalho, realizar uma leitura da narrativa em questão, com vistas a examinar as vicissitudes da pulsão erótica quando esta é aparentemente silenciada, além das potencialidades subversivas que o texto literário atinge quando se debruça sobre esse terreno instável que é a sexualidade humana.
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