O ensaio aborda a importância da redescoberta do pensamento de Karl Polanyi e de sua crítica à "sociedade de mercado" na retomada dos estudos e debates sobre o desenvolvimento (rural). Após uma apresentação geral do quadro teórico e analítico de Polanyi, buscamos utilizar seus conceitos para interpretar a dinâmica da mercantilização dos meios de vida e das formas sociais de trabalho e produção no espaço rural, bem como dos sistemas agroalimentares no capitalismo contemporâneo. Com base nestas proposições, refletimos sobre o papel dos atores sociais e das instituições nos processos de mudança social em geral e os de desenvolvimento rural em particular. Finalizamos, propondo algumas potencialidades dessa abordagem para os estudos sobre desenvolvimento rural no Brasil.
O artigo trata do fenômeno da pluriatividade na agricultura brasileira, referente à diversificação das atividades econômicas e laborais exercidas no meio rural, e dos plurirrendimentos, referentes à diversificação das fontes de renda acessadas pelos agricultores e suas famílias. Com base nos dados do Censo Agropecuário 2006, realiza-se uma análise para o Brasil e as regiões Sul e Nordeste do País, buscando comparar os assim denominados "estabelecimentos pluriativos" pertencentes às categorias agricultura familiar e agricultura não familiar. O trabalho identifica e quantifica esses estabelecimentos; caracteriza-os segundo o tipo de pluriatividade e a relação de trabalho do pessoal ocupado; e identifica as suas distintas fontes de receitas, mensurando a importância de cada uma na formação da receita total. A constatação empírica de um percentual maior de estabelecimentos de agricultura não familiar classificados como pluriativos (51,9%) do que na própria agricultura familiar (34,1%) levou a uma intrigante questão teórica, já que a quase totalidade dos estudos sobre pluriatividade no Brasil sempre considerou o fenômeno como uma especificidade da agricultura familiar. Embora essa questão seja apenas brevemente discutida no artigo, o resultado mais significativo é que deve haver uma importante parcela dos agricultores familiares que, justamente por serem pluriativos, encontram-se inadequadamente classificados como agricultores não familiares e, portanto, excluídos das estatísticas oficiais e, possivelmente, das próprias políticas públicas voltadas à agricultura familiar.
Resumo O argumento desenvolvido no artigo, baseado na abordagem dos regimes alimentares, é que a formação do “complexo soja-carne Brasil-China”, a partir do início dos anos 2000, representa uma mudança policêntrica nas relações agroalimentares globais, impulsionada pelos interesses das corporações do agronegócio e indústrias alimentares, bem como dos estados nacionais, em uma direção Sul/Oriente, que desafia o poder estabelecido das grandes corporações transnacionais do Atlântico Norte. Com base na literatura contemporânea em economia política agrária e numa combinação de dados quantitativos e qualitativos, são identificadas as origens, características e dinâmicas do complexo soja-carne Brasil-China através de uma análise comparativa e relacional. Após uma breve revisão teórica, se examina a mudança nos hábitos alimentares e dietas de classe e a reestruturação das indústrias de carnes (especialmente suína) e rações do lado chinês, como polo importador, e o boom das commodities e a expansão na produção, na área plantada e nas exportações de soja do lado brasileiro, como polo exportador. Entretanto, apesar da importância do comércio bilateral na dinâmica do complexo soja-carne Brasil-China, recentemente tem havido também um crescente afluxo de investimentos chineses no agronegócio brasileiro. Nas conclusões, além de aspectos estritamente econômicos, aspectos políticos do complexo soja-carne Brasil-China são discutidos.
O objetivo deste artigo é apresentar uma breve introdução sobre a análise dos regimes agroalimentares e discutir alguns aspectos nas suas relações com agricultura familiar. O artigo procura situar a discussão sobre a globalização e entender como a agricultura e a produção de alimentos se inseriu neste processo. São apresentados e descritos os três regimes agroalimentares sugeridos na literatura internacional e discute-se as condições e possibilidades da agricultura familiar neste contexto. Por ser um artigo introdutório ao debate dos regimes alimentares, as conclusões indicam para a necessidade de se aprofundar as análises sobre o lugar da agricultura familiar especialmente no que se refere à sua inserção nos regimes agroalimentares globais.
This paper on family farms is in the form of an historical review complemented by current and future perspectives from North America, China, Brazil and Europe. The literature review demonstrates the multiple discourses, concepts and methodologies which underpin contemporary understandings of the family farm. The authors argue that family-based farming units are ubiquitous in most agricultural systems and take on many different forms and functions, conditioned by the structure of agriculture in different locations and political systems. Our review accepts this diversity and seeks to identify some key elements that inform our understanding of the sustainability of family farming, now and in the future. The term ‘family’ is the differentiating variable and behooves a sociological approach. However, economists can view the family farm as an economic unit, a business and even a firm. Geographers see family farms consigned to the margins of good land areas, and political scientists have seen family farms as a class. What emerges is a semantic enigma. As an imaginary term, ‘family farming’ is useful as a positive, universally valued ideal; as a definable entity on the ground, however, it is difficult to classify and measure for comparative policy and research purposes. This ambiguity is utilized by governments to manage the increasing capitalization of farm units while projecting the image of wholesome production of food. The case studies demonstrate the diversity of ways in which family farming ideologies are being mobilized in contemporary agrarian change processes. The notion of ‘land to the tiller’ is resonant with historic injustices in Scotland and Brazil, where family-based agriculture is understood as the ‘natural’ order of agricultural production and actively supported as an historic ideal. In contrast, in the Chinese context, ‘land to the tiller’ is a political means of increasing capital penetration and economic sustainability. Evidence from China, Brazil and Scotland demonstrates the active role of governments, coupled with symbolic ideologies of farming, which suggest that the longevity (i.e., sustainability) of family farming will continue.
The emergence of the BRICS (Brazil, Russia, India, China and South Africa) has sparked debates on the possibility of a 'great transformation' in the course of neoliberal capitalism and the global agrifood system. This paper seeks to contribute to these debates by providing a comparative institutional analysis of the BRIC(S) 'varieties of capitalism' in the current 'food regime' international reordering. Capital accumulation, social reproduction and politics are key problems of the 'agrifood question' in the BRIC(S) varieties of capitalism. My argumentation is that capitalist diversity stems largely from the historically embedded legacy of the agrarian question in each country, that the dynamics of the agrifood system influence their development trajectories in decisive ways, and that the BRIC(S)-driven polycentric shifts in the contemporary food regime are crucial to the destiny of global capitalism.
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