, especialmente em relação aos elementos épicos presentes nelas. Ambas as obras possuem uma estrutura formal que apresenta passado e presente simultaneamente no palco. Uma vez que uma peça dramática pressupõe sempre o tempo presente exposto cenicamente, o fato de o passado ser parte estrutural de Death of a Salesman e Rasga Coração já o transforma num primeiro importante traço épico das duas obras. A partir daí, vários outros elementos épicos serão apontados e examinados durante o trabalhosendo que estes elementos são importantes na representação dos conflitos sociohistóricos presentes nos Estados Unidos dos anos 40 e no Brasil nas primeiras sete décadas do século XX. Outro aspecto que as duas peças apresentam em comum é o fato de analisarem um conflito geracional entre pai e filho(s), que representa, ao mesmo tempo, o conflito entre forças sociais e históricas maiores. Estudar quais são estas forças sociais representadas é também objetivo da pesquisa. Isto fará com que semelhanças e diferenças entre as obras e seus contextos apareçam e sejam discutidas.
Oduvaldo Vianna Filho (1936Filho ( -1974 -também conhecido como Vianinha -é um dos grandes dramaturgos brasileiros. Entre suas principais obras, estão peças como Chapetuba F. C. (1959), Mão na luva (1966), e Papa Highirte (1968. Sua última peça foi Rasga coração (1974), considerada por muitos críticos a grande obra de seu repertório. Encenada somente cinco anos após a morte de Vianinha, devido à censura da ditadura militar vigente no país, ela apresenta o conflito entre um pai comunista (Manguari Pistolão) e um filho adepto dos valores hippies e da contracultura (Luca). Tal conflito está arraigado numa estrutura formal que permite a apresentação simultânea do plano do passado e do presente no palco, e o resultado é a construção de uma análise da história do Brasil e de suas lutas políticas que começa no início do século XX e se estende até os anos 1970.Os anos 1960 e 1970 apresentaram ao público certas inovações em relação à estética teatral, que tentavam acompanhar as transformações históricas daquele momento. Em entrevistas que concedeu, o dramaturgo carioca costumava analisar algumas formas estéticas inovadoras no teatro brasileiro. Isso é exemplificado numa entrevista sua a Luís Werneck Vianna, quando Vianinha comenta sobre Arena conta Zumbi (1965), peça organizada pelo Teatro de Arena e que apresenta, entre outras características, simultaneidade temporal, análise histórica da questão da escravidão e recursos tais como música, dança, diálogos, slides: E soltam um teatro altamente criativo, elétrico, que traz uma série de novas formas, que o teatro brasileiro esboça em alguns espetáculos, como Arena Conta Zumbi (que é a simultaneidade) [...]. Quer dizer -o espetáculo Arena Conta Zumbi já tem muito disso, desta simultaneidade, estas coisas correndo, as diversas coisas sendo causa e efeito de si mesmas, quer dizer, o contraditório, as contradições da realidade seriam muito imbricadas (Peixoto, 1983, p. 167-8).
Considerando o conceito de épico tal como o analisado por teóricos do teatro como Szondi (2001) e Rosenfeld (2006), este trabalho objetiva empreender a análise de elementos épicos presentes na estrutura de The American Clock (O Relógio Americano, 1980), do dramaturgo norte-americano Arthur Miller . O estudo será de como a forma teatral desta peça (com seus traços épicos) representa cenicamente a Grande Depressão econômica que assolou os Estados Unidos após a quebra da bolsa de valores em 1929 e durante toda a década de 1930. The American Clock conta com mais de 40 personagens (muitos deles também narradores) que comentam e ao mesmo tempo vivenciam os problemas gerados pela recessão econômica dos anos 1930, em que milhões de pessoas chegaram ao nível da miséria. Embora não seja uma das obras teatrais mais estudadas de Arthur Miller (tanto no contexto americano como no brasileiro), a análise de The American Clock é fundamental para um maior entendimento da poética deste autor, tão debatida por críticos e dramaturgos brasileiros: diferentemente do que acontece em outros trabalhos teatrais de sua autoria, Miller assume abertamente, em seus ensaios, a importância do elemento épico para a construção de The American Clock, e o resultado deste uso -explícito‖ e -consciente‖ do épico por parte do dramaturgo é uma utilização mais abrangente e aprofundada de recursos épicos nesta peça, tanto dos que já eram comuns em outras obras de Miller (personagens-narradores, por exemplo), quanto novos recursos como a dança e a música. Outra consequência desta -consciência‖ do épico é a apropriação que o autor faz de conceitos como o de mural, vaudeville e narrativa oral para a construção formal da peça. Esta preocupação de Arthur Miller em considerar o épico na criação deThe American Clock existe, dentre outras coisas, devido à necessidade de representar cenicamente a Depressão econômica, uma temática de cunho social, econômico e histórico, cujas transformações sociais, políticas e culturais que ela provocou são cruciais por reverberarem em outras décadas da história dos EUA (e, consequentemente, no processo histórico de outros países como o Brasil).
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