A TV que construímos*As práticas de televisão no Brasil chegam aos seus cinqüenta anos. Uma idade madura, poder-se-ia dizer, mas também uma história recente, com certeza. Ainda se conhece pouco sobre os caminhos andados, mas, sobretudo, tem-se acumulado muito dispersamente a visão crítica dessa caminhada.Esther Hamburger e Roberto Moreira são hoje dos poucos pensadores brasileiros pesquisando o significado dos meios audiovisuais. Doutora em Antropologia na Universidade de Chicago, Esther é um dos principais nomes na análise da recepção do conteúdo veiculado atualmente na televisão brasileira. Roberto é cineasta formado pela Universidade de São Paulo, e tem sua pesquisa voltada para a análise e criação da dramaturgia audiovisual.Nesta entrevista ambos expõem suas referências na pesquisas sobre televisão, debatendo importantes questões teóricas. Além disso, discutem as razões para a falta de modelos teóricos para a televisão brasileira, cuja história é pouco analisada. Ao trazer essa discussão, apontam linhas importantes para a construção de um pensamento sobre o papel da televisão na história brasileira dos últimos cinqüenta anos e sua consolidação como instituição de nossa sociedade. O problema é pensar que a subjetividade do espectador pode ser tão determinada pelo processo de produção. Não é fácil aceitar que todo o processo da Indústria Cultural seja tão racional, que englobe dentro de si a própria subjetividade do espectador de modo tão programado, pré -determinado. Podemos entender que Adorno está falando depois de ter passado pela experiência do nazismo, depois de ter vivido a violência da propaganda hitlerista e que, em seguida, ter ido parar nos Estados Unidos, onde também este processo autoritário é intenso nos anos 50, no pós-guerra e já antes. Seu ponto de vista é mais do que compreensível, eu diria mesmo que foi uma das mais lúcidas críticas do mundo moderno. Mas tenho a impressão que Adorno superestimou a racionalidade do processo. Não é tão racional. Se fosse, a indústria teria mecanismos para conseguir produzir o sucesso, mas isso não é verdade. O sucesso sempre é indeterminado, ele é muito aleatório. Por mais que os produtores até possam achar que são capazes de fabricar um hit, eles não o são de fato. Podem até pensar que conseguem racionalizar este processo, fazendo pesquisas de opinião, aferindo as demandas do espectador. Mas, daí a