A pesquisa apresentada neste artigo teve por objetivo o estudo da lógica implícita no padrão de seleção dos pacientes de um ambulatório público pelos Serviços de Psicologia e Psiquiatria. Os pacientes que afluem a esses dois serviços foram classificados em três grupos, com base nos enunciados produzidos para tematização do sofrimento: o dos sujeitos psicológicos, o dos doentes dos nervos e o dos loucos. No processo de investigação, constatou-se que os pacientes do primeiro grupo tendem a ser encaminhados para o Serviço de Psicologia, no qual têm acesso ao dispositivo de escuta psicoterápica, podendo, assim, emitir um discurso sobre seu próprio sofrimento, enquanto os que se situam nos outros dois grupos são encaminhados para o Serviço de Psiquiatria, onde são submetidos ao tratamento medicamentoso. Conclui-se que tal padrão de seleção se caracteriza por uma hierarquização da clientela,iegundo uma lógica que implica a desqualificação da diferença, a normalização da loucura, a garantia da produtividade e a realização do mínimo.
Este artigo tem por objetivo analisar as dificuldades e os impasses enfrentados pelos pesquisadores em Ciências Humanas e Sociais (CHS) nos processos de avaliação ética de suas pesquisas. Essa análise tem por base a literatura crítica sobre o tema e a experiência pessoal do autor na coordenação de um Comitê de Ética específico para pesquisas em CHS. Em um primeiro tempo, destacam-se alguns aspectos da gênese histórica das normatizações éticas de pesquisa a partir de eventos-chave do campo biomédico. Em seguida, descreve-se a criação de um sistema duplamente centralizado no Brasil (uma área regula outras áreas científicas e uma plataforma nacional e única) bem como as dificuldades trazidas por esse sistema para os pesquisadores em CHS. Além disso, problematiza-se a expressão “pesquisa envolvendo seres humanos”. Por fim, apontam-se perspectivas de enfrentamento dessas dificuldades inerentes à indevida subordinação das CHS ao campo biomédico.
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