Nossos reformadores de repente fizeram uma grande descoberta -o tráfico de escravas brancas. Os jornais estão repletos dessa "condição de que nunca se ouviu falar" e os legisladores já estão planejando uma nova batelada de leis para conter o horror.É interessante que quando se quer afastar o interesse público de algum problema social importante, se inaugure uma cruzada contra a indecência, o jogo, os bares, etc. E o que resulta de tais cruzadas? O jogo está crescendo, os bares estão ampliando seu negócio por baixo do pano, a prostituição está em alta, e o sistema de gigolôs só está aumentando.Como é que uma instituição, conhecida por qualquer criança, teria sido descoberta assim tão de repente? Como é que esse mal, sabido por todos os sociólogos, torna-se agora uma questão tão interessante?Supor que as pesquisas recentes sobre o tráfico de escravas brancas (e, diga-se de passagem, pesquisas muito superficiais) tenham descoberto algo de novo, é, para dizer o mínimo, fútil. A prostituição tem sido, e é, um mal bastante espalhado, e, não obstante, os humanos têm continuado a seguir adiante, inteiramente indiferentes aos sofrimentos e aflições das vítimas da prostituição. De fato, tão indiferente quanto os humanos têm sido * "The Traffick in Women", 1909 [Tradução: Mariza Corrêa]. ** Emma Goldman , anarquista, feminista, e autora de importantes ensaios sobre a condição da mulher e a condição proletária no mundo. A melhor introdução à sua vida e obra em português, é Emma Goldman -a vida como revolução, de Elisabeth Souza Lobo, publicada pela Editora Brasiliense, na coleção Encanto Radical em 1983.