Resumo Este artigo visou contribuir para a historicização da violência de gênero no Brasil por meio da análise de casos de crimes passionais presentes nas páginas do periódico Arquivos do Manicômio Judiciário do Rio de Janeiro na década de 1930, momento em que tais crimes ganharam contornos de problema social com a efervescência do debate público a seu respeito. Assim, por meio de laudos psiquiátricos, jurisprudência e pareceres do Conselho Penitenciário do Distrito Federal publicados no periódico, o texto analisa a reificação e a naturalização da violência contra as mulheres no âmbito da psiquiatria forense do Rio de Janeiro (RJ) e o embate desta com outros posicionamentos.
An analysis is presented of A vida sexual (The sexual life), by Portuguese neurologist Egas Moniz, in which the author divulged medical instructions about the sexed body. Complied in two volumes - "Physiology" and "Pathology" - in 1902, it was edited 19 times until it was censored under the Portuguese military dictatorship in 1933. In the work, Moniz devises a discourse of sexual differentiation anchored in an extensive bibliography produced between the late nineteenth and early twentieth centuries in a context of intense debate about gender roles. Moniz drew on several theories to define sexuality - including eugenics and Freudian theory - to express his idea that "man is essentially sexual, woman is essentially mother."
Antonio Carlos Pacheco e Silva nasceu no limiar do século, filho de abastada família paulista. Em seus textos memorialísticos, o renomado psiquiatra relatou o ambiente que o esperava quando veio ao mundo na capital de São Paulo: um lar "puro e coeso" (Tarelow, 2020, p.40). De certa forma, na obra Psiquiatria e política: o jaleco, a farda e o paletó de Antonio Carlos Pacheco e Silva, notamos que as noções atribuídas a esse lugar doméstico -"pureza" e "coesão" -serviram como coordenadas para suas atividades médicas e políticas ao longo da vida. Nelas se pautaram seu investimento em um ideal de povo brasileiro e suas contribuições como intelectual, principal tema que percorre a obra de Tarelow.O trabalho, fruto de uma pesquisa de quatro anos que redundou em uma tese defendida no programa de Saúde Coletiva da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, orientada pelo historiador André Mota, não se propõe a circunscrever "quem foi Pacheco e Silva" sob uma ideia unificada. Ao contrário, por meio de minúcia do trabalho histórico, o livro revela "um Pacheco e Silva" múltiplo e não definido sob esta ou aquela classificação. Nesse projeto biográfico, o autor nos traz uma nova compreensão desse personagem já inserido no panteão dos "heróis paulistas". "Professor, cientista, psiquiatra, escritor, político, deputado, empresário, militar, pescador, enxadrista, pai, marido, avô", grande entusiasta de uma ideia de paulistanidade, Pacheco é apresentado a partir de três "eras": a primeira delas abrange sua formação científica, a segunda a sua consagração nacional e internacional como psiquiatra, a terceira o seu estreito envolvimento com golpes de Estado no Brasil. Essas três eras evidenciam, contudo, que "psiquiatria e política são faces de uma mesma moeda ao longo de sua biografia" (Tarelow, 2020, p.195).Naquilo que Tarelow denomina "era formativa", Pacheco fez mais do que se formar como médico psiquiatra. Ele formou também seu pensamento dentro das correntes organicista,
P ara Lili Elbe, 1 nascida Einar Wegener e personagem principal do longa A garota dinamarquesa (The Danish Girl, 2015), dirigido por Tom Hooper, sentir-se mulher foi o essencial para iniciar o incômodo que ela categorizava como discordância entre sua mente e seu corpo. O filme, por meio de uma cadência suave, desenrola o processo de transição entre o promissor talento das artes, Einer, e a tímida Lili Elbe.Baseada no diário de Lili -originalmente publicado em 1933 com o título Man into woman -, a produção cinematográfica revela que processos patologizantes foram a resposta de diferentes campos da medicina para sua identidade de gênero. A crença na medicina como um campo que possibilitaria alívio para seus sofrimentos levou Lili e sua companheira, a artista plástica Gerda Wegener, a procurar seus recursos terapêuticos.O filme narra que as visitas de Lili a especialistas em Copenhagen resultaram, a princípio, na prescrição do uso de radiação em sua região genital, com o fim de readequá-la a sua condição biológica. O médico que trata Lili reforça sua confiabilidade ao afirmar: "Sou um especialista." Sua explicação para as dores, o "estado confuso de masculinidade" e a "infertilidade" de Lili -pressuposta por ela e Gerda não terem tido filhos -era a de que seriam provocados por um desequilíbrio químico. O tratamento por radiologia rende ao filme a primeira de muitas cenas que ainda se seguirão ambientadas em consultórios médicos: debilitada ao fim do procedimento, a personagem diz a seu médico: "Você machucou Lili."
Este artigo procura dar visibilidade e inteligibilidade histórica a formas de rebaixamento intelectual e de modos de vida vivenciados por uma paciente psiquiátrica internada no Hospital Psiquiátrico do Juquery entre os anos 1940 e 1950. Recorrendo ao seu prontuário médico, podemos acessar parte de suas experiências de vida dentro e fora do hospital. A paciente em questão tem em comum com outras ali internadas o fato de ter elaborado trabalhos de arte na Seção de Pintura daquele Hospital, além de ter sua internação marcada pela indicação de uma psicocirurgia em função de seu um comportamento “rebelde”. Nesse sentido, seu caso é bastante representativo de outros processos de internação de pacientes mulheres submetidas à psicocirurgia, terapêutica psiquiátrica mais radical da época. Considerando a produção de obras de arte dessa paciente, que teve inclusive reconhecimento na Exposição de Arte Psicopatológica de Paris, em 1950, um ponto de evidência da desconsideração de sua capacidade intelectual repousa sobre sua atividade artística. Isso porque a sua indicação para a psicocirurgia demonstra a intencionalidade de seu controle comportamental por meio da terapêutica em detrimento de sua capacidade mental, uma vez que a terapêutica comportava riscos de sequelas psicológicas e motoras, além da possibilidade de mudança de personalidade. Por meio de seu prontuário, recuperamos ainda a busca da paciente por estratégias de reconhecimento de autonomia dentro e fora do hospital, além de formas de resistência contra o rebaixamento intelectual que a noção de patologia mental lhe atribuía.
Book reviewJohnson, Jenell. American Lobotomy: A Rhetorical History. Michigan: University of Michigan Press, 2013. 240 pp. ISBN: 978-0-472-03665-3.
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