O presente artigo objetiva analisar a dissertação de mestrado de Lencioni (1985) inserida na produção do Departamento de Geografia da Universidade de São Paulo durante as décadas de 1970 e 1980. A dissertação em tela é aqui interpretada como parte fundamental de um processo de consolidação de uma Geografia materialista e dialética que trouxe novos conteúdos para as pesquisas na disciplina e que transformou a leitura que essa ciência parcelar realiza da forma como a sociedade e o espaço se relacionam. O entendimento de que essa relação é dialética, de que o espaço é produzido socialmente e de que a cidade, o urbano e a metrópole são reveladores das contradições dessa produção foi uma longa construção que se desenvolveu em diálogo com a produção da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP e a sua chamada tradição crítica.
O objetivo deste artigo é analisar o contexto sócio-histórico de desenvolvimento da chamada Geografia Crítica brasileira. Tal movimento insere-se no momento da ditadura civil-militar, um período de autoritarismo e repressão política, social e intelectual. O questionamento que move essa reflexão, portanto, se deu no sentido de compreender como um pensamento crítico – a Geografia Crítica - se fortalece e prolifera em um momento de repressão. Para tanto, trataremos do processo de modernização autoritária que o regime militar implementou, com especial interesse na modernização do ensino superior e consequências para a Universidade de São Paulo (USP), mais especificamente para a Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH). A intenção é compreender as possíveis relações entre tal contexto e a elaboração de novos temas e problemáticas na ciência geográfica, a partir dos sujeitos diretamente envolvidos nessa elaboração: os estudantes de graduação e pós-graduação em Geografia à época.
Gendered deprivation: poverty management and socio-spatial segregation in São Paulo's peripheryThis research aims to understand how the reproduction of the capitalist mode of production reproduces deprivation and how it appears and takes place in everyday life to reveal the city's socio-spatial segregation and center-periphery contradiction. Therefore, this thesis analyses three public policies of poverty management, specifically those of income transfer: the Bolsa Família Program, the Auxílio Emergencial, and the Auxílio Brasil. Based on the analysis of these policies, we argue that the Brazilian state considers the absence of income to be the main characteristic of poverty. Consequently, it chooses income transfer to mitigate it, revealing the liberal conception that the market would be the main organizer of society and, therefore, responsible for its regulation. From another perspective, we understand that the essence of poverty is private property, whose existence guarantees the constant expansion of the conditions of expropriation and exploitation of the working class that experiences urban deprivation. Hence, we conclude that the income transfer policy operates as a financing strategy for social reproduction focusing on household consumption. The concept of social reproduction is analyzed in this thesis from a gender perspective in order to reveal the following contradiction: on the one hand, these policies imply women's financial autonomy, recognizing their importance as heads of families; on the other hand, they reify the gender roles that make women responsible for the care of the home and children. Therefore, we argue that there is a tenuous and conflicting balance between the role of the State and the role of capital in guaranteeing social reproduction: the more the former is absent from it, the more the latter imposes that it happens in a privatized and private way, that is, commodified and restricted to the domestic space. We arrived at such conclusions from research conducted in five East Zone of São Paulo neighborhoods. In these neighborhoods, we conducted ethnographic research, as we believe that ethnography reveals social practices and their meanings, revealing the contradictions that emerge in everyday life.
O objetivo do presente artigo é desenvolver uma comparação entre três políticas de transferência de renda: o Programa Bolsa Família, o Auxílio Emergencial e o Auxílio Brasil. A hipótese aqui defendida é que o principal critério para a definição dos termos da política social é o orçamento público, e não as necessidades da população beneficiada. O valor da transferência, a quantidade de pessoas assistidas, a focalização e as linhas de pobreza são definidas pela parcela do orçamento público que o governo está disposto a destinar para as políticas de transferência de renda. A análise comparativa dessas três políticas revela a concepção de pobreza do Estado brasileiro: esta seria multidimensional, ou seja, envolve a insuficiência de renda e a dificuldade de acesso aos serviços de saúde e educação. Frente a isso, o combate à pobreza operacionaliza-se pela transferência direta de recursos monetários para as famílias consideradas pobres e extremamente pobres, ao mesmo tempo em que condiciona o recebimento do benefício ao acesso à saúde e à educação com foco nas crianças, jovens, gestantes e nutrizes.
Antônio Carlos Robert Moraes afirmou que a crítica à Geografia tradicional empreendida no Brasil durante a década de 1970 é genuinamente brasileira, produto do trabalho de uma nova geração de geógrafos: "Nós-eu, a Fani, o Wanderley-citamos os clássicos diretamente, ou seja, não tem geógrafo que nos oriente. Nós, com a nossa vivência e os fundamentos construímos tanto uma crítica da Geografia tradicional como uma proposição" (Moraes, 2000: 144). Essa afirmação sintetiza uma série de reflexões sobre o chamado movimento da Geografia Crítica. Primeiro, que tal movimento de renovação crítica na Geografia brasileira consolidou-se como uma ruptura metodológica em relação à chamada Geografia tradicional, de cunho positivista e historicista, herdada da tradição da Escola Francesa de Geografia. Segundo, que essa ruptura se empreendeu devido às especificidades da realidade brasileira à época de tal movimento-o período compreendido entre as décadas de 1960 e 1980-referentes ao contexto político do país, que vivia sob os mandos e desmandos de uma ditadura civil-militar. Terceiro, a percepção de que alguns geógrafos se aproximaram do marxismo, escolhendo o materialismo histórico e a dialética como caminhos de interpretação da realidade (Verdi, 2016). Em diálogo com Moraes (2000), a ruptura crítica, ou tal movimento de renovação na Geografia, pode ser analisada como uma leitura originalmente dialética da relação entre sociedade e espaço, de modo a transformar os fundamentos da disciplina, redefinir o seu objeto e a sua démarche teórica. Essa transformação é resultado do
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