Este artigo parte de uma observação situada do presente e de algumas indagações acerca das possibilidades e limites da transmissão de um ideário - princípios, valores, metodologias, saberes, etc. - através do tempo. O feminismo, enquanto um movimento político coletivo, cujas demandas por reconhecimento e legitimação pressupõem estratégias de formação contínuas, enfrenta, de tempos em tempos, impasses que estão relacionados à sua existência no presente e continuidade no futuro. O artigo pretende problematizar conceitos e questões em torno do "envelhecimento" das gerações que deram sustentação à política feminista a partir da redemocratização, no Brasil, ao final dos anos 1970, constituindo, no País, o legado da chamada "segunda onda". Nossa perspectiva busca interrogar sobre os processos de mudança social, contingentes e necessários a uma política de "transmissão" e formação de novas gerações.
A proliferação de produtos culturais sobre as solteiras sugere uma preocupação internacional com o tema na contemporaneidade. A mídia brasileira também focaliza o fenô-meno da nova solteira em sintonia com a literatura e filmografia sobre mulheres com mais de 30 anos, solteiras, moradoras das grandes cidades. A emergência da expressão "novas solteiras" remete ao ideário feminista de autonomia, liberdade e independência, em oposição à solteirona do passado. Neste artigo, analiso como as mulheres sós costumam ser retratadas em textos da mídia brasileira através de polarizações marcadas por gênero, idade e posição social e geográfica. Ressalto a utilização recorrente de informações validadas por vozes autorizadas de especialistas acadêmicos, sobretudo da área psi. Por fim, mostro como algumas matérias enfatizam a solidão e a transitoriedade do morar só, operando outras oposições marcadas por gênero. MULHERES • MÍDIA • FEMINISMO • CULTURA ELIANE GONçALvESEsse artigo corresponde a uma versão modificada de capítulo de tese de doutorado, sob orientação da professora doutora Adriana Piscitelli (Gonçalves, 2007 NOçãO TRADICIONAL de família tem sofrido profundas alterações nas chamadas sociedades ocidentais da contemporaneidade. O casamento, consequentemente, não possui as mesmas consignas que o tornaram a aliança material e simbólica capaz de reunir a um só tempo amor, fidelidade, atração sexual e amizade entre um homem e uma mulher, culminando no cuidado bem-sucedido dos filhos. O feminismo, entre outros movimentos sociais que deitaram raízes e marcaram profundamente os modos de ser e estar no mundo, produziu alternativas afetivas para as mulheres e também inspirou modos de vida não centrados no casamento e na maternidade. Sair da casa dos pais e morar sozinha passou a figurar entre essas alternativas.Estudos de base demográfica mostram que pessoas morando sozinhas, independentemente do estado civil, constituem, hoje, um segmento social em crescimento nos países industrializados, atingindo cerca de seis milhões de domicílios brasileiros, o que corresponde a 10,4 % da população residente no país (Fundação IBGE, 2006). Cunhadas como um tipo de família, unipessoal (Fundação IBGE, 2006), não família (Goldani, 1993;Scott, 1990), sem família (Berquó, Cavenaghi, Oliveira, 1990), pessoas que moram sozinhas são frequentemente denominadas "solteiras".A proliferação de produtos culturais sobre as "solteiras" sugere uma preocupação internacional com o tema. A mídia brasileira também focaliza o fenômeno da nova solteira em sintonia com a literatura e filmografia sobre mulheres com mais de 30 anos, solteiras, moradoras das grandes cidades -ao estilo Bridget Jones e Sex and the city 1 . Quando objeto de discussão na mídia, o segmento aparece como portador de um novo estilo de vida com alto potencial de consumo, traduzido em referências ao mercado e à produção de bens e serviços. Neste artigo, esquivo-me das observações sobre o mercado e o consumo e lanço olhares sobre como as mulheres sós costumam ser retratadas em textos da mídia bra...
ResumoVárias das noções atribuídas às mulheres "solteiras" presentes na teoria social e no senso comum remetem a algumas idéias proclamadas pelo feminismo. Educação, trabalho qualificado e remunerado são considerados a via privilegiada para a conquista da "autonomia" que, ampliada, possibilitaria a um conjunto de mulheres, sobretudo das camadas médias urbanas, maiores chances de realizar escolhas, decidir por si mesmas e até mesmo romper com os estereótipos clássicos da "solteirona". Compreender como se entrelaçam as noções associadas à idéia de "mulher independente" e seus paradoxos requer revisitar algumas idéias que marcaram a emergência e a consolidação do feminismo como um movimento político da "modernidade" em sua expansão a partir dos anos 1960. Neste artigo, examino os nexos entre educação e profissionalização e o não casamento na contemporaneidade, a partir da análise de algumas narrativas de mulheres "solteiras" de camadas médias urbanas, sem filhos e que moram sozinhas. Palavras AbstractSeveral notions attributed to single women in social theory and in the common sense refer to some ideas proclaimed by feminism. Education and qualified, paid work are considered the privileged path to conquering autonomy. When broadened, this autonomy would allow a set of women, mostly those from the urban middle classes, greater opportunities to make choices, to make decisions by themselves and even to break with the old stereotypes of "spinsters". To understand how notions associated with the "independent woman" and their paradoxes are intertwined requires a review of some ideas that marked the emergence and the consolidation of feminism as a political movement of "modernity" in its expansion from the 1960s on. In this article, I examine the connection between education and professionalization and non-marriage in the present day, taking into account narratives of middle class, childless single women living alone.
Diante de um contexto social em que predominam os partos instrumentais, via cirurgia cesariana, nos hospitais particulares, e a “cascata de intervenções” nos partos vaginais dos hospitais públicos brasileiros, o movimento de mulheres marcou o início do século XXI com a nomeação da “violência obstétrica”. A compreensão da violência obstétrica abarca desde agressões físicas, psicológicas, verbais, simbólicas, sexuais até negligências nas assistências, discriminação, medicalização excessiva e inapropriada, adesão a práticas obstétricas desaconselhadas, dolorosas, prejudiciais e sem embasamento em evidências científicas,vividas no momento da gestação, parto, nascimento e pós-parto. Os aspectos dessa violência – com imposição de dor, sofrimentos e mortes evitáveis – se encontram legitimados pela ciência obstétrica eautorizados pelo Estado como assistência à saúde sexual e reprodutiva. Argumentamos que a violência obstétrica é um ato misógino de punição às mulheres, resultado de séculos de negação de sua sexualidade e capacidade de decidir. A proposta do artigo é refletir sobre como se deu tal autorização política para violentar os corpos de mulheres, assim como sua naturalização e invisibilização justificadas pela ciência e porcertas práticas obstétricas. Sendo parte de uma pesquisa mais ampla, foram privilegiadas, aqui, análises históricas de cunho feministas cujo acervo de conhecimentos permitiu rastrear o processo de elaboração doconceito e mostrar como as relações intrínsecas entre parto e políticas de Estado, via diferentes assistências – pública e privada –, coordenam a disciplina sobre os corpos expropriados das mulheres.
Resumo Partindo da observação de que as teorizações sobre o urbano têm ocultado as questões de gênero e a luta histórica das mulheres na e pela cidade, abordamos os ativismos feministas e sua construção de uma agenda pelo direito à cidade – desde propostas de reforma urbana, até contribuições dos novos feminismos. Concluímos que os feminismos lutam sim por direito à cidade, demandando poder sobre o corpo, liberdade de circulação, acesso a serviços e espaços públicos, e cidades que não sejam planejadas apenas para um cidadão homem, branco e proprietário.
Partindo de narrativas de mulheres de camadas médias, com alta escolaridade, profissionalizadas, "solteiras", sem filhos e que moram sozinhas, analiso noções gerais relacionadas à sociabilidade em sentido amplo, com especial ênfase à sexualidade e à amizade, e aos significados atribuídos à solidão, problematizando o valor social concedido ao par conjugal como símbolo de intimidade. À luz do ideário feminista de liberdade, igualdade, independência e autonomia, que ganhou força e se expandiu a partir dos anos 1960 nas "sociedades ocidentais modernas", as noções analisadas remetem a mudanças e permanências, revelando um cenário, ainda pouco explorado, das grandes cidades brasileiras.
Taking into account the narratives of highly educated and professionalized middle class childless women living alone, I analyze general notions related to sociability in a broader sense, with especial emphasis to sexuality and friendship, and also to the meanings attributed to loneliness, bringing into question the social value conceded to the couple as the symbol of intimacy. At the light of some feminist ideas of freedom, equality, independency and autonomy, strengthened and expanded from the 1960s on in the "modern western societies", the analyzed notions send us to changes and permanencies, revealing a yet unexplored scenario of Brazilian big cities
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