A primeira observação relativa à escrita literária relaciona-se ao próprio ato físico de escrever, condicionado a uma tensão corpórea que só é aliviada, acabada, quando a escrita é terminada. Esta, em si, liga-se profundamente a uma conjuntura histórica, visto que não é atemporal, tampouco impessoal (SPILLERS, 2015, p. 58). Soma-se a isso o fato de que o escritor, ao conceber noções de pertencimento em meio à sociedade que o cerca, não pode isolar-se de tudo o que, de alguma forma, o sensibiliza. Considerando, portanto, que homem e sociedade coadunam-se sobremaneira, analisamos atentamente a escrita poética de Warsan Shire (Quênia), Upile Chisala (Maláui) e Safia Elhillo (Sudão), que está demasiadamente associada às suas vivências pessoais, bem como ao passado histórico de seus países de origem e às heranças culturais de seus antepassados, uma vez que a própria escrita carrega em si uma carga de urgência assaz relacionada ao momento sócio-político-cultural da sociedade contemporânea.
O presente artigo propõe um estudo da obra poética de Conceição Lima, escritora natural de São Tomé e Príncipe, à luz da Poética da Relação de Édouard Glissant (2005). Será analisada a forma como a poeta se auto define em meio às multiplicidades culturais em movimentos de diáspora, que lhe permite realizar um olhar crítico sobre sua terra natal, ao mesmo tempo em que lhe possibilita criar simbolicamente novas comunidades. Na sociedade multicultural, o sujeito torna-se híbrido, e os discursos dominantes e pretensamente homogeneizantes passam a ser contestados. Por isso, é insustentável hoje pensar em uma identidade nacional que seja pura e de raiz única, visto que o mundo se criouliza e se criam microclimas culturais e linguísticos inesperados. Lugares nos quais a repercussão da sobreposição das culturas é abrupta e imprevisível, predominando na totalidade-mundo, para Édouard Glissant (2005), a realidade crioula, sempre ao encontro de outras raízes e capaz de revelar a Utopia necessária – o povo que falta – a fim de esfacelar as concretudes e fazer emergir o micro, o uno, o múltiplo e o inextricável.
Pretende-se lançar neste artigo um olhar contestador dos discursos hegemônicos que atuam sobre realidade cotidiana de países subdesenvolvidos, a fim de analisar se, na obra de Conceição Lima, o sujeito subalterno tem voz, especialmente, o sujeito negro feminino. Propõe-se uma observação dos lugares de convergências de multiplicidades culturais que contribuem para renegociar experiências, a fim de explorar como a sua escrita renegocia questões relacionadas à sua identidade que é, especialmente, diaspórica.
Esta entrevista permitirá analisar alguns dos aspectos mais instigantes do trabalho de Ronald Augusto como poeta e pensador, bem como seu entendimento acerca das relações estabelecidas entre a criação poética e suas tendências críticas. Nosso entrevistado lança um olhar aguçado não só sobre o cenário da poesia contemporânea, mas também sobre a ordem social e política do país.
Pretende-se lançar um olhar, por meio dos Estudos Subalternos desenvolvidos por Gayatri Spivak (1988, 2014), um estudo sobre as poéticas de Warsan Shire, Upile Chisala e Safia Elhillo, para observar como a escrita negra feminina pode ser contestadora de discursos hegemônicos na contemporaneidade, sobretudo a partir do olhar de escritoras migrantes, a fim de analisar como, em suas obras, o sujeito subalterno tem voz, especialmente, o sujeito negro feminino. Propõe-se analisar os lugares de convergências de multiplicidades culturais a partir de identidades migrantes que contribuem para renegociar experiências presentes, o passado de suas famílias e seus países, a fim de propor um olhar que desloque as identidades subalternas, antes posicionadas à margem, para o centro das questões de gênero, raça e classe.
O presente artigo pretende analisar alguns aspectos ideológicos que demonstram como a poética de Oswaldo de Camargo está intimamente ligada a um sentimento de não pertencimento identitário e territorial. No contexto de uma sociedade brasileira marcada pelas contradições, o poeta/sujeito negro volta-se contra as forças que o obrigam a adaptar-se aos padrões de uma “mentalidade branca”, ao passo que é desqualificado e descriminado pela cor da sua pele. Para atingirmos o objetivo proposto, consideraremos como interface as concepções teóricas de Clément Rosset, em o Princípio de Crueldade (1989) e David Brookshaw, em Raça e Cor na Literatura Brasileira (1983), além de outros artigos que contribuíram para a construção de uma leitura crítica da poética de Oswaldo de Camargo, particularmente de sua coletânea O estranho, publicada em 1984.
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