Tá na cabeça, tá na web! Significados simbólicos e historicidade do uso do turbante no Brasil It's on the head, it's on the web! Symbolic meanings and historicity of the use of the turban in Brazilartigo ] DULCILEI DA CONCEIÇÃO LIMA | VOLUME 10 | NÚMERO 22 | NOVEMBRO 2017 [ 22 ] [resumo] Em fevereiro de 2017 as redes sociais foram bombardeadas pelo debate acerca da apropriação cultural, tendo sido o uso do turbante o catalisador da polêmica. A discussão se concentrou em torno da validade ou não do conceito de apropriação cultural, mas pouco se discutiu sobre os significados da peça em disputa. Este artigo se propõe a abordar o uso do turbante numa perspectiva histórica, seus significados simbólicos e os elementos em disputa em torno de seu uso recentemente disseminado.[abstract] In February 2017 social networks were flooded with the debate about cultural appropriation, and the use of the turban was the catalyst for the controversy. The discussion focused on the validity or otherwise on the concept of cultural appropriation, but little was discussed about the meanings of the play in dispute. This article proposes to address the use of the turban in a historical perspective, its symbolic meanings and the elements in dispute over its recently disseminated use.[keywords] Turban in Brazil; curly hair; hair transition; black esthetics; black women.[ Embora o termo apropriação cultural tenha se popularizado recentemente através das redes sociais, não é uma novidade, nem restrito ao ambiente virtual.O debate a respeito de como elementos culturais constitutivos de determinados grupos subalternizados é tornado exótico, transformado em mercadoria e comercializado pelos grupos dominantes é anterior a existên-cia da própria internet e já foi explorado por diferentes áreas das ciências humanas. Um exemplo, o historiador Roger Chartier, abordou o tema da apropriação no livro A história cultural: entre práticas e representações cuja 1ª edição em língua portuguesa é de 1988 (o livro reúne textos publicados entre 1982 e 1986).Sobre o modo como "poderes dominantes" se apropriam da cultura dos dominados e a utilizam como forma de controle e dominação de seus próprios criadores, Chartier argumenta:[...] a cultura da maioria pode em qualquer época, em virtude de uma colocação à distância, construir um lugar ou instaurar uma coerência própria nos modelos que lhe são impostos, à força ou com a sua concordância, pelos grupos ou pelos poderes dominantes. [...] os dispositivos, discursivos ou institucionais, que numa sociedade têm por finalidade esquadrinhar o tempo e os lugares, disciplinar os corpos e as práticas, modelar, pelo ordenamento regulado dos espaços, as condutas e os pensamentos. Estas tecnologias da vigilância e da inculcação têm de facto de estar em sintonia com as tácticas de consumo e de utilização daqueles que elas têm por função modelar. (CHARTIER, 2002, p. 60) O historiador nos apresenta um cenário em que a produção cultural de grupos subalternizados pode vir a ser utilizada pelos dominantes como manutenção do st...
As abordagens sobre interseccionalidade em três blogs feministas The approaches on intersectionality in three feminist blogs
Um conjunto de fatores como a expansão e popularização do feminismo, a ampliação da inserção de estudantes negros no ensino superior, bem como o desenvolvimento e expansão da Web 2.0 com as ferramentas de produção descentralizada de conteúdo através de blogs e redes sociais como o Facebook e o Twitter abriu caminho para que mulheres negras feministas rompessem a ausência de representações positivas de negros e negras na mídia que impactam negativamente as subjetividades e autoestima da população negra através da produção de textos, imagens e tutoriais que valorizam as trajetórias, conhecimentos e estética da população negra. Os feminismos em atuação na web, em particular o feminismo negro, vêm buscando não apenas um espaço de compartilhamento e troca, mas principalmente formas de participação e intervenção nas agendas políticas da sociedade, espaço de participação e visibilidade que grupos minoritários frequentemente não encontram na grande mídia. As mídias digitais possibilitaram ao feminismo ampliar seu alcance, apresentação e público que pode acessar discussões que, na era pré-internet, estavam limitadas a nichos específicos.
A associação entre moda e pessoas negras quase sempre se dá por escândalos de racismo que vez ou outra surgem envolvendo nomes de profissionais, marcas e revistas de moda acusados de discriminação racial na escolha de modelos, de utilização inapropriada e desrespeitosa de elementos de culturas africanas ou afro-brasileiras (como o desfile de Adriana Degreas, na São Paulo Fashion Week (SPFW) 2013, que glamourizou a tortura representada na imagem da escrava Anastácia), na denúncia quanto à ausência de criadores negros nas passarelas e revistas, em situações como a falta de preparo de maquiadores para trabalhar em rostos negros, na grande diferença salarial entre profissionais negros e brancos da indústria da moda, entre tantas outras situações que vem sendo denunciadas especialmente em redes sociais, como nos perfis Moda Racista (deletado após ação judicial movida por Reinaldo Lourenço), Moda Racista Vive, Racismo na Moda e Pretos na Moda (todos no Instagram).
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