O presente texto propõe introduzir o leitor aos artigos produzidos neste dossiê. Não se trata de antecipar as reflexões de cada produção, mas de inseri-las no contexto em que o debate foi pensado e planejado.
O texto abordará aspectos da obra de Arjun Appadurai (2009) ressaltando pontos relevantes de nosso contexto social atual, com ênfase no capitalismo tardio e na globalização. Relacionaremos o ensaio com conceitos de Foucault (2005[1977]), bem como apresentaremos breve interface do presente momento do Brasil quanto à sua posição econômica, geradora de maior circulação de pessoas.
O desenvolvimento deste artigo baseia-se nos pressupostos da Psicologia Social Crítica, comprometido com a realidade brasileira e com a práxis cotidiana, considerando a singularidade do indivíduo, enquanto manifestação de uma totalidade histórico-social. Tem por objetivo compreender as particularidades históricas, sociais e políticas que definem o “outro” na sociedade patriarcal capitalista e as transformações advindas com as novas determinações pandêmicas, partindo do fenômeno migratório feminino, enquanto experiência que evidencia tais contradições e metamorfoses. Adota a metodologia de Narrativas de Histórias de Vida para reconhecer os sentidos atribuídos pelos sujeitos e as (im)possibilidades de emancipação que se configuram na análise de depoimentos de duas mulheres migrantes, uma peruana no Brasil e uma brasileira na Alemanha. Os resultados ponderam as metamorfoses da metamorfose humana e a configuração de uma situação ambivalente, que pode conduzir tanto à paralização e à mesmice, como resultar em crescimento do Eu, ao propiciar a interrupção da reposição cotidiana irreflexiva, a apropriação crítica das determinações exteriores e a busca pela autodeterminação. Demonstram, assim, que uma prática política precisa considerar a dialética entre pensamento histórico e pensamento utópico, enquanto projeto alternativo de vida, construído em articulação às determinações objetivas.
Neste relato reflexivo apresentamos desdobramentos da pesquisa de doutorado (Portugueis, 2018), que envolveu a compreensão do estabelecimento da rede migratória de ítalo-brasileiros oriundos de Urussanga-SC para a Alemanha, onde exercem o trabalho de fabricantes de sorvete e atendentes em sorveterias. Buscou-se também observar a repercussão desta migração de trabalho no campo objetivo e subjetivo das vivências dos sujeitos.
O manuscrito aborda a condição do ser/estar migrante na atualidade sociopolítica brasileira, por meio da interlocução de três profissionais e pesquisadoras a respeito do movimento necropolítico e das vulnerabilidades impostas diariamente pela hospitalidade condicionada. Objetiva-se contribuir para a construção de um lugar que não naturalize e homogeneíze o migrante como categoria, propondo a ampliação do entendimento de sua singularidade e das particularidades que atravessam a migração. Ao subjugar existências, potenciais são apagados e direitos silenciados, e é somente com a escuta deste silêncio que a morte simbólica condicionada à não garantia de um lugar de existência genuína pode, talvez, ser combatida. Por fim, pontua-se a necessidade que o tema das migrações deixe de ser um tópico marginal, tendo ampliado o enfoque na sua relevância.
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