O presente ensaio parte da estória “Os chapéus transeuntes”, de Guimarães Rosa, que oferece o material linguístico a ser utilizado em duas possibilidades de atividades didáticas. Na primeira, é fornecida uma listagem de palavras inusuais ou neológicas encontradas no conto. Na sequência, uma outra lista (seguimos procedimento rosiano, que, como se sabe, adorava listas), agora de palavras dicionarizadas, tenta distinguir as nuances de expressões que gravitam ao redor do tema central do conto, a “soberba”, com o intuito de forçar a atenção ao detalhe e perceber que cada termo, por mais que seja aparentado a outros, é singular. A metodologia do artigo é descritiva, apresentando as duas sugestões de propostas didáticas, junto com seu material para aplicação (as listas). Já a metodologia das atividades é aberta, de acordo com o planejamento de cada professor, a partir das diretrizes expostas no artigo. O público-alvo dos dois exercícios pode ser de discentes do Ensino Médio ou mesmo de cursos de graduação em Letras. Como resultado, espera-se que o aluno se aproxime do autor considerado "difícil" através de um viés incomum que pode suavizar esse primeiro contato. Para além disso, despertar sua criatividade linguística latente (a partir da atividade um), bem como ampliar seu vocabulário de forma sistemática (com a atividade dois).
A partir de coleção de biografemas de Guimarães Rosa – tomado aqui como personagem de seu próprio projeto singularíssimo de cruzamento de vida e obra – o conto “Os chapéus transeuntes” é lido como performance autoficcional; isto é, a escritura dessa estória pode ter servido de gesto de confissão e contrição do próprio Rosa, que assim expiaria seu pecado maior: a Soberba. A hipótese da pesquisa é que existe em vigência no aparato crítico um Rosa cor-de-rosa, tanto no sentido de atenuar sua “fala narcísica” (CHAUVIN, 2020), como no de obliterar a tradicional relação dessa cor à feminilidade. Na conclusão, aventam-se algumas questões sobre o autor talvez ainda não devidamente respondidas.
Resumo: Este artigo parte de um pressuposto hipotético que jamais poderá se confirmar e menos ainda se infirmar, que jamais poderá se resolver ou se dissolver em toda sua plenitude, e por aí mesmo alcançará sua pervivência (na perspectiva do Fortleben benjaminiano) e imortalidade, por meio de múltiplas tentativas de interpretação-tradução. Trata-se de um koan protobiográfico legado por Guimarães Rosa a seus leitores, que abarca o conjunto de sua obra e alcança sua morte enigmática, previamente anunciada em vários de seus escritos e em múltiplas declarações sábia e parcimoniosamente lançadas ao vento por meio de eficazes passadores de vozes. Para explicitar os elementos desse koan, e com apoio no último e conclusivo verso lançado por Rosa (“as pessoas não morrem, ficam encantadas”), o conto “Conversa de bois” será percorrido em busca de eventuais pistas de convergência temática, que prenunciariam o desenredo de Grande sertão: veredas e a morte-ressurreição de Guimarães, ocorrida exatamente três dias após a posse na Academia Brasileira de Letras. Buscamos responder à seguinte questão, no que se refere à pervivência: o que se pode inferir das alterações incidentes entre a versão original do conto (constante em Sezão, 1937) e a efetivamente publicada em Sagarana (1946)?Palavras-chave: João Guimarães Rosa; “Conversa de bois”; pervivência; “autobiografia irracional”.Abstract: We lay upon a hypothetical assumption which could never be entirely solved neither denied, leading itself towards its own Fortleben (Walter Benjamin) and immortality, throughout multi-level layers of critical interpretation and translations. This is related to a proto-biographical koan, a Guimarães Rosa’s legacy to his readers, which covers his whole literary work and reaches his enigmatic death, previously announced within his writings and dissolved under multiple declarations blown into the wind through efficacious voice smugglers. Thus, the short story named “Conversa de Bois” will be crisscrossed in order to bring out some possible thematic convergent paths and clues. They would announce beforehand the final outcome of Grande sertão: veredas, as well as Rosa’s death-resurrection, precisely three days after his official entrance as a member into the Brazilian Academy of Literature. We aims to answer this question, related to Rosa’s planified Fortleben: what is possible to be inferred from the amendments introduced by the author into the different versions of Sagarana (1946)?Keywords: João Guimarães Rosa; “Conversa de bois”; Fortleben; “irrational autobiography”.
Resumo: O ensaio intenta, na encruzilhada de vida e obra do escritor Guimarães Rosa, sugerir que os três dias que decorreram entre a posse na Academia Brasileira de Letras, numa quinta-feira, com a leitura pública do discurso “O verbo & o logos”, e o falecimento do autor, no domingo, estão alegorizados na decisão do personagem da estória “A terceira margem do rio” de “se permanecer (demeurer) naqueles espaços do rio”. Rosa, inúmeras vezes, segundo depoimentos de conhecidos seus, afirmara que tomar posse na Academia poderia matá-lo. Mesmo assim, mesmo tendo demorado (demeuré) quatro anos para se resolver, enfrentou a cerimônia. Como metodologia, o texto rosiano será lido ao lado dos de outros autores, como Blanchot e Derrida. A conclusão do artigo é que, assim como o pai do conto tomou em suas mãos o seu destino e “nunca falou mais palavra”, Rosa decidiu também calar-se para sempre ao finalmente tomar posse da Cadeira n. 2 da ABL.Palavras-chave: Guimarães Rosa; A terceira margem do rio; morte voluntária; Academia Brasileira de Letras; Maurice Blanchot.Abstract: This essay looks into the crossroads of writer Guimarães Rosa’s life and work, to suggest that the three days between his swearing-in to the Brazilian Academy of Letters (ABL) on a Thursday, with the public reading of the speech “O verbo & o logos”, and his death on Sunday, are allegorized in the decision made by the character in the story “The third bank of the river” to “stay in those spaces of the river”. According to statements from acquaintances of the writer, Rosa had said countless times that entering the Academy could kill him. Although it took him four years to get the resolve, he faced the ceremony. According to the adopted methodology, the Rosian text will be read alongside that of other authors, such as Blanchot and Derrida. The article reaches the conclusion that, just as the father of the short story took his fate into his own hands and “never spoke another word”, Rosa also decided to fall silent forever when he finally took possession of the Seat n.2 of the ABL.Keywords: Guimarães Rosa; The Third Bank of the River; voluntary death; Brazilian Academy of Letters; Maurice Blanchot.
O estudo fundamenta-se no campo lexical da ludologia, o qual se dissemina, em palimpsesto, pelas páginas de “Cara-de-Bronze”, aqui concebido como uma metanarrativa ludopoética cuja decifração depende de habilidade, estratégia e sorte. O texto rosiano será percorrido em busca de eventuais pistas que permitam ligá-lo cabalmente ao espectro dos jogos, a fim de facultar a criação de metodologia lúdica que viabilize uma leitura divertida e inventiva da obra. Após breve panorama da história dos jogos, mormente o xadrez, foca-se na relação deste com a linguagem em lances famosos da literatura brasileira, até fechar em Guimarães Rosa, de quem se fala, também, primeiro em geral, para depois trabalhar especificamente o vocabulário da novela, a partir das variadas definições alternativas ofertadas por um dicionário. Por fim, tendo asseverado a concepção jocosa da novela, como testemunhado pelo próprio autor em cartas nas quais revelou o ludismo ocultado na construção de determinadas passagens exemplares, conclui-se pelo assenso de sua leitura também lúdica, extraindo da prática a metodologia imanente que terá embasado tal experiência analítica.
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