Como é sabido, o campo inicial de investigação e tratamento psicanalítico restringiu-se às chamadas "neuroses de transferência", estendendo-se, depois, para as demais formas neuróticas. De início, as manifestações psicóticas não foram julgadas passíveis de influência pela técnica psicanalítica. Conhece-se, nesse particular, o pessimismo de Freud e de alguns dos seus mais eminentes discípulos, quando assinalaram a falta de capacidade de transferência de tais pacientes e, portanto, sua inacessibilidade aos influxos terapêuticos.A observação do que se passa em qualquer hospital psiquiátrico mostra o desacerto de tais postulados, de vez que são freqüentes as atitudes positivas e negativas, manifestações de simpatia, confiança e amor de um lado, e, de outro, explosões de ódio, às vezes com francas agressões a médicos e pessoal de enfermagem. E' errônea a afirmação que esquizofrênicos têm perda completa da afetividade, demência afetiva no sentido em que concebemos a demenciação, por exemplo, de um paralítico geral em fase avançada, ou de um demende senil. As perturbações afetivas de esquizóides, esquizofrênicos e ciclóides e ciclofrênicos são passíveis de modificação e redução, espontaneamente ou sob ação de tal ou qual método terapêutico. Nesse particular, é concludente o que se observa com o uso das técnicas de choque.De outro lado, a compreensão teórico-psicanalítica não se deteve no campo das neuroses. Abarcou sem demora toda uma rica variedade de portadores de psicoses, afirmando, cada vez mais sòlidamente, que as diferenças entre normais, neuróticos e psicóticos são meramente quantitativas (e não qualitativas), impondo, por exemplo, na carreira do psicanalista, a exigência das chamadas análises didáticas.Assim progrediu nossa compreensão das estruturas psicóticas, dos mecanismos defensivos do ego em neuroses e psicoses, postulando Freud, nas primeiras, conflitos com Id, com a infra-estrutura impulsiva, nas segundas havendo lutas, fugas ou amplas roturas com a realidade. A psicologia dinâmica teórica cada vez preenche mais os espaços vazios entre manifestações neuróticas e psicóticas, com a teoria das fixações e regressões de impulsos e do sistema ego-superego, com o melhor conhecimento do que se passa nas idades mais recuadas do desenvolvimento do ego no seu primeiro achado Trabalho apresentado, em resumo, ao V Congresso Brasileiro de Psiquiatria, Neurologia e Medicina Legal (S. Paulo-Rio de Janeiro, outubro-novembro, 1948).
A presente comunicação refere-se a pacnnte internada a 17 de junho de 1946 no Hospital Psiquiátrico Pinei por determinação do M.M. Juiz de Menores de S. Paulo, a fim de ser submetida a exame de sanidade mental em face de toda uma série de fatos que vinham sucedendo a partir de abril do mesmo ano.M. H. C, branca, brasileira, solteira, com 16 anos de idade, noviça postulante de um dos mosteiros deste Esado, iniciando sua vida religiosa há cerca de 2 anos. Queixou-se à Irmã Superiora de que estava sendo vítima de perseguição por parte de um rapaz -J. C. -que pretendeu sua mão pouco antes de iniciar a vida religiosa. Narrou longa série de fatos que teriam ocorrido meses antes e qne prosseguiam agora, pondo em grande risco sua honra e vida. Em suas declarações à Irmã Superiora, ao Juiz de Menores e a nós mesmo, manteve sempre a? mesmas afirmações: em essência, era perseguida por sua própria mãe, que pretendia forçar sua entrada para centros de macumba e baixo espiritismo e por J. C, que pretendia desonrá-la a fim de ser expulsa do convento e com êle unir-se pelo casamento ou ilicitamente. Res"mimos suas declarações, a seguir, tal como =>s prestou no Cartório Privativo de Menores:" Estava no Sanatório Pequenas Missionárias quando recebeu, certo dia, a visita da mãe; foi por ela obrigada a comer uma empada envenenada; passou muito mal, vomitou sangue; as Irmãs desconfiaram que estava tuberculosa, mas a chapa radiográfica foi negativa; outro dia, J. C. penetrou no quintal e jogou um punhai tendo na ponta um bilhete com a frase " o amor é cego, não conto com a vida " ; êle foi amigo de seu irmão e estava sempre em sua casa; J. C. perseguia amorosamente a declarante, que nunca lhe deu atenção; recusou sua mão e, no dia do pedido, sua mãe deixou-a sozinha com êle; atirou-lhe café quente à cabeça pelo fato de lhe ter dito êle cousas imorais; J. C. hoje é advogado, usa bigode, é de estatura mediana; não conhece a família dele mas ouviu dizer que mora em Rio Preto e advoga em Pinheiros; certo dia, ao ir mudar de roupa, notou que J. C. a espiava e açulou contra êle um cachorro; no Colégio recebia cartas de sua mãe, a primeira que leu sendo imoral, pois lhe ensinava como tentar o sacerdote no confessionário; certo dia, Paulo de tal, irmão da amásia de seu irmão, apareceu lá, dizendo-lhe que assinasse uma consagração espírita, o que recusou, sendo por êle ameaçada com revólver; Paulo quis pregar sua mão na parede, tendo chegado a furar a palma, como mostra, não tendo prosseguido por que o sino do colégio tocou e êle, amedrontado, fugiu; depois disso, foi apunhalada, por Paulo, o ferimento tendo sido leve; foi socorrida por um pedreiro e por um moço que Trabalho apresentado ao 1.° Congresso Médico Interamericano (Rio de Janeiro) em setembro de 1946.* Docente-livre de Psiquiatria na Fac. Med. Univ. São Paulo.
O progresso da Psicopatologia vem se caracterizando pelo esfôrço no sentido de serem apreendidos os fatôres básicos da personalidade humana que a predispõem a claudicar sob o impacto dos mais variados agentes agressivos. A consideração analítico-descritiva foi superada, representando mero conteúdo manifesto de tôda uma rica latência que palpita por trás da fachada sintomatológica. A busca de causas completa-se pela inquirição sôbre o sentido dos sintomas, esforçando-se o psicopatologista para estudar a personalidade como um todo único, não suscetível de interpretação quando dissociado em fragmentos, partes ou categorias. Investiga-se em cada personalidade que sofre o sentido vital do sofrimento, as falhas das técni-cas defensivas que em todos os níveis visam a proteção do organismo contra as agressões que sofre em seu desenvolvimento e em sua manutenção. A Psicologia Normal, a Psicopatologia e a Medicina Psicossomática estão impregnadas de concepções psicodinâmicas que, sem dúvida, explicam seus notáveis progressos.Kraepelin é considerado como o grande sistematizador da moderna Psiquiatria, tendo sua obra sêlo de genialidade porque sistematizadora e criadora. Todavia, em sua grande preocupação de colocar a Psiquiatria dentro do critério científico válido para as ciências físico-naturais, criou sistemas nosográficos com grandes entidades nosológicas, para elas postulando e buscando, algo artificialmente, precisas etiologias, decursos e estados terminais, não raro o prognóstico decidindo a rotulação diagnóstica.A crítica ao edifício construído pelo mestre de Munich não tardou, cumprindo registrar que o progresso foi realizado em ordem e sistematização, mas não no sentido da penetração dos problemas e conflitos básicos do doente mental. O marco inicial dessa revolução psiquiátrica consistiu na descoberta de Breuer e Freud exposta no ensaio de 1893: "Sôbre o mecanismo psíquico dos fenômenos histéricos" 4 . A técnica inicial psicocatártica, com a análise em hipnose, foi superada e substituída pela associação livre de idéias e a interpretação, mas o marco fundamental foi lançado quando Breuer descobriu a extraordinária importância de traumas emocionais do passado, de constalações ideoafetivas retidas no interior da personalidade. Estava demonstrada a necessidade, fundamental para o psiquiatra e para o
Monografia com 43 paginas editada por Index, Buenos Aires, 1943.Com a presente monografia traz o autor importante contribuição para o estudo da medicina mental na Idade Média. Para bem realçar seu objetivo de esclarecer o pensamento sôbre a psicopatologia na referida época, escolheu para objeto de seu estudo a obra de Tomas de Aquino (1225-1274), "um dos teólogos mais eminentes de todas as épocas, não só o principe indiscutivel dos filósofos escolásticos, não só um gênio universal como a humanidade pouco possuiu, senão, ainda mais, um espirito realmente representativo de sua época: a expressão mais pura do pensamento medieval".Dentre suas mais importantes obras destacam-se seus comentários sôbre as obras de Aristóteles e as duas "Sumas": a "Summa contra Gentiles" e a "Summa Theologica", esta contendo todo saber teológico, psicológico, filosófico e sociológico do "Santo Doutor". Antes de estudar as opiniões psicopatológicas de Tomas de Aquino, faz o autor breve exposição de sua psicologia normal. Funda-se esta na doutrina aristotélica da unidade psicofísica do sêr humano, não admitindo portanto o dualismo psicofísico de Platão. A psique é uma "unidade" não do tipo de uma homogeneidade amorfa, senão uma "unitas multiplex", uma "unidade estruturada", segundo a terminologia moderna. Concebe Tomas de Aquino uma psique funcional estratificada cm "anima vegetativa", "anima sensitiva", "anima intelectiva", admitindo o aperfeiçoamento gradual do sêr humano, o que se aproxima, como assinala Krapf, da moderna "psicologia evolutiva".Assim é que diferencia os apetites em 3 formas: "naturalis" (substâncias minerais e plantas), "sensitivus" (animais), "intelectivus" (privilégio do sêr humano), admitindo igualmente que os seres humanos devem atravessar os estados inferiores da vida psíquica para alcançar os superiores, tal conceito de "integração" do inferior no superior, com corolário inverso de desintegração, sendo o próprio fundamento das concepções de Hughlings Jackson e Freud. Desenvolve o autor os conceitos de "anima vegetativa" (nutrição, crescimento e reprodução), "anima sensitiva" (aspecto cognitivo, intelectivo e o "appetitus sensitivus").Dentre os sentidos externos dá Tomas de Aquino grande importancia ao "tacto"; entre os sentidos internos distingue : " sensus communis ", a " imaginatio" ou " phantasia " (função mnésica), a "vis aestimativa" (Instinkt ou instinct respectivamente da psicologia germânica e anglosaxonica) e a "memoria sensitiva" (localização do tempo no passado individual). Os sentidos em conjunto constituem o aspécto cognativo da "anima sensitiva".Atrai a atenção o autor para a grande semelhança entre as duas grandes tendencias do "appetitus sensitivus" ("concupiscibilis" e "irascibilis") com a concepção dos instintos de Freud: o instinto sexual e o agressivo, a tendencia do ser vivo para o gozo e para o agradavel postulada por Tomas de Aquino sendo muito semelhante ao "principio do prazer" de Freud. Os sentidos fornecem material para o aspecto cognativo da alma intelectiva: "ratio" ou "intellectus", ...
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