Existe um paradoxo inerente aos cuidados paliativos que refletem o paradoxo da moral para Jankélévi-tch. Ao mesmo tempo em que os cuidados paliativos atestam a fragilidade da atividade de cuidar, expõem com clareza violenta a certeza da morte. Não seria por acaso que a medicina paliativa é o local da atividade médica onde ressoam as questões mais "humanas" e essas questões convivem com um pluralismo ético e metafísico que refletem as próprias questões da sociedade frente ao fim da vida.Para abordar os cuidados paliativos considerando essa multiplicidade de aspectos envolvidos, o livro apresenta diversas contribuições englobando desde artigos com olhar mais filosófico, como o de Pierron, até trabalhos que trazem dilemas do ponto de vista médico, como o de Pascale Vassal, que trata da questão da informação que deve ser dada ao paciente que irá morrer em breve, ou seja, da incerteza da resposta a perguntas do tipo: "Quanto tempo eu tenho?" e "Eu vou morrer?", quando apenas a certeza da morte existe.Já na introdução do livro, Pierron destaca que o pensamento da morte proposto por Jankélévitch faz emergir paradoxos que questionam as relações entre, de um lado, saber, linguagem e ação e, do outro lado, a moralidade, permitindo esclarecer as incidências de uma incerteza fundamental no fim da vida.Nesse sentido, Jankélévitch 5 afirma que, embora o homem seja impotente em relação ao fato da pró-pria morte, tem o poder de modificar e de adiar a sua data. Como os antigos diziam (em latim), "mors certa, hora incerta".Essa relação, por vezes paradoxal, entre a certeza de morrer e a incerteza do quando e como morrer está no centro da problemática de Jankélévitch, retomada e atualizada por Lemoine e Pierron, levando em conta a recente evolução dos cuidados paliativos e das modalidades de acompanhamento em fim de vida.A especificidade da discussão filosófica consiste na referência aos conceitos de quodidade/quididade, que vêm do latim quiddita. Significam essência ou ser e remetem à distinção entre Quod e Quid. Para Jankélévit-ch, o termo quodidade estaria relacionado à certeza da morte, à morte em si, inevitável. E o termo quididade estaria relacionado à incerteza ao morrer, às circunstâncias em que a morte irá ocorrer.Nas últimas décadas, ocorreu uma mudança importante na filosofia da medicina com relação à questão da morte. Anteriormente, a medicina procurava sempre chegar à cura e, assim, continuava enfrentando a doença para prorrogar a vida até o último suspiro do paciente. Agora, reconhece-se que a morte é inevitável. Há uma mudança de estado de espírito quanto à finitude da vida humana e, no plano psicossocial, o caráter paliativo do cuidado é aceito. O cuidado paliativo se torna uma nova "especialidade médica" e um tipo de acompanhamento psicológico para se preparar para a morte. O conceito de cuidado paliativo restaura o cará-ter social e interpessoal do cuidado, superando a concepção convencional de cura baseada em tecnologia e remédios.Segundo a tendência atual, o conceito de cuidado para paciente em fim de vida não ...