Quando se pensa nas conexões entre as lingüísticas brasileira e norte-americana, a primeira referência que nos vem à mente é o Círculo Lingüístico de Nova Iorque, onde Roman Jakobson (1896-1982) e Claude Lévi-Strauss (n. 1908) - recém chegado do Brasil, onde permanecera entre 1935 e 1939 - se encontraram e discutiram suas idéias. Este encontro excepcional obscureceu outros contatos entre a lingüística brasileira e a norte-americana, entre eles, aquele ocorrido entre Jakobson e o lingüista brasileiro Joaquim Mattoso Câmara Jr. (1904-1980), que teve conseqüências bem maiores, ao menos no que diz respeito à implementação da lingüística estrutural no Brasil e na América do Sul nos anos 50 e 60. O impacto de Jakobson e da lingüística norte-americana no trabalho de Mattoso Câmara e sua subseqüente influência no desenvolvimento da lingüística brasileira são o foco do presente artigo.
O pequeno grupo de jovens professores universitários ¾ Ataliba Teixeira de Castilho, USP e UNICAMP (então, de Marília); Cidmar Teodoro Pais (1940-2009), USP; Francisco da Silva Borba, Araraquara; Ignácio Assis da Silva, São José do Rio Preto (?-?) e João de Almeida, Assis (1929-2019) ¾ que se reuniu em Araraquara, em 1969, no primeiro seminário do GEL, nunca poderia imaginar que a iniciativa assumisse a extensão que vemos hoje. Estimulados pelo mestre Isaac Nicolau Salum, USP (1913-1993), o grupo pretendia a criação de um espaço que propiciasse a veiculação e, principalmente, a convergência das “novas” ideias em matéria de ciência da linguagem, que então mal começavam a delinear-se no contexto brasileiro. Desde então, o GEL tem exercido, ininterruptamente, essa função. O objetivo do texto é revisitar a história da formação do GEL, que se confunde com a história das mudanças relativas à concepção dos problemas e das formas de tratamento do objeto linguagem e com a história da institucionalização e profissionalização da Linguística no Brasil.
Desde sua institucionalização nos anos 1970, um dos primeiros desafios que a disciplina Historiografia Linguística (HL) teve que enfrentar foi distinguir-se dos outros modelos de história da linguística então em circulação. O primeiro ponto a resolver era a definição de um método próprio, explícito e tão rigoroso quanto aqueles utilizados pela(s) ciência(s) que tomou por objeto. Com este propósito, era inevitável que a jovem HL se perguntasse quais outras metadisciplinas, mais amadurecidas na reflexão dos seus métodos e epistemologia poderiam servir de guia para o historiógrafo no encalço da sua especificidade. De fato, sem esperar que um framework pronto caísse em nossos colos, muitos de nós, então aspirantes à prática historiográfica, trouxemos para nossas historiografias (e ainda o fazemos) parte do instrumental proposto pela História e pela Filosofia da Ciência, entre outras. O presente texto, tendo como pano de fundo os tipos de historiografias da Linguística e da Filosofia, discutidos por Koerner (1974), Simone (1975), e Rorty (1998 [1984]), defende o ponto de vista de que a HL deva se integrar ao campo que lhe serve de objeto, i.e., à teoria linguística, e não constituir um domínio à parte. Para isso, é desejável que, na reflexão sobre a evolução do conhecimento linguístico, continue a fazer parte do diálogo com as metadisciplinas científicas que compartilham de parte do seu interesse, notadamente, a História da Ciência e a Filosofia da Linguística.
O artigo propõe que a descontinuidade percebida entre a prática científica em Linguística e sua trajetória histórica deva ser superada e que é em uma situação de ensino que essa conexão pode, de forma privilegiada, se restabelecer. Entendendo o termo 'linguística' de forma ampla, tanto como o conhecimento produzido pelo homem sobre a linguagem e as línguas, quanto como disciplina introdutória e obrigatória da formação em Letras, sugerem-se algumas diretrizes que podem subsidiar seu ensino, a partir de princípios gerais compartilhados pelos historiógrafos da linguística.
scite is a Brooklyn-based organization that helps researchers better discover and understand research articles through Smart Citations–citations that display the context of the citation and describe whether the article provides supporting or contrasting evidence. scite is used by students and researchers from around the world and is funded in part by the National Science Foundation and the National Institute on Drug Abuse of the National Institutes of Health.